Ícone do site aviNews Brasil, informações avicultura

Vamos Falar mais de Fibra para Aves? Uma Palavra Ampla, Confusa e Quimicamente Mal Definida! – Parte 2

Escrito por: Alexandre Barbosa de Brito - Médico Veterinário, PhD em Nutrição Animal na AB Vista
PDF
Fibra para aves
No artigo anterior, falamos sobre a investigação de estratégias/ produtos capazes de incrementar a chamada saúde intestinal dos animais. A expressão “saúde intestinal” se tornou o padrão na literatura científica e nas indústrias de produção animal para descrever o status sanitário dos animais.

No entanto, embora as palavras “intestino”, “intestinal” e/ou “entérico” estejam claramente relacionadas, definir desta forma “saúde” pode ser algo difícil, gerando um real desafio para este conceito.

Continuamos a tratar do tema nesse segundo artigo:

Em um estudo realizado na University of Georgia (Tejeda & Kim, 2020), avaliaram os efeitos da fibra dietética fornecida como celulose purificada (Solka-Floc, SF) e uma casca de soja (SH) no desempenho, crescimento de orgãos, histomorfologia intestinal e digestibilidade de nutrientes em frangos de corte.

Um total de 420 frangos de corte machos Cobb com um dia de idade foram distribuídos aleatoriamente em sete tratamentos dietéticos, sendo as aves criadas até 20 dias de idade em gaiolas (10 aves por gaiola e seis repetições por tratamento).

O grupo de controle consistia em uma dieta a base de milho e farelo de soja (2,0% de fibra bruta no alimento final).

Os seis tratamentos contendo fontes de fibra, foram formuladas para conter níveis crescentes de SF e SH para atingir 4, 6 e 8% de fibra bruta (FB) nas dietas.

De forma resumida, este conteúdo foi atendido com as respectivas inclusões das fontes de fibra nas dietas:

Grupo com SF (4, 6, 8% de FB foi possível com a inclusão de 2, 4, 6%, respectivamente),

Grupo com SH (4, 6, 8% de FB foi possível com a inclusão de 6, 13, 19%, respectivamente).

Óxido de cromo foi adicionado como um marcador indigestível a 0,3% em todas as dietas de tratamento de 14 a 20 d para análises de digestibilidade de nutrientes.

Órgãos do sistema digestivo foram retirados aos 20 dias para avaliações de morfometria. Aves alimentadas com dieta controle e 4% de FB a base de SH tiveram a melhor taxa de conversão alimentar entre os tratamentos aos 7, 14 e 20 dias (P<0,05); de igual maneira, aves consumindo dietas contendo SH tinham maior peso relativo de moela e do intestino (P<0,001).

Aves alimentadas com dietas de 8% SH tiveram incremento na altura das vilosidades duodenais entre os tratamentos (P<0,001), já as aves alimentadas com controle e 4% SH tiveram as maiores alturas de vilosidades jejunais entre os tratamentos (P<0,001).

Ambos os grupos (aves alimentadas com 4% SF e 4% SH) tiveram a maior altura de vilosidades ileais entre os tratamentos (P<0,001).

Em geral, aves alimentadas com dietas com SH apresentaram maior digestibilidade de aminoácidos (P<0,001).

Em outra publicação recente realizada no Department of Veterinary Medicine, Institute of Animal Nutrition em Berlin, Röhe & Zentek (2021) tratam, em uma interessante revisão técnica, sobre o impacto da alimentação de frangos de corte com fontes de lignocelulose como fibra alimentar insolúvel.

Fonte: Andrea Vierschilling/Pixabay CCO

A lignocelulose é um componente das paredes celulares das plantas e consiste principalmente de polímeros de carboidratos insolúveis + polímero fenólico (usualmente denominados de Glicose β1-4 fração insolúvel + Lignina).

O objetivo desta revisão foi de avaliar os seus efeitos sobre performance de frangos de corte em comparação com as fontes tradicionais de fibra. De acordo com os autores, vários estudos investigaram o efeito da lignocelulose dietética no:

Desempenho;

Digestibilidade de nutrientes;

Desenvolvimento do TGI;

Microbiota intestinal em frangos de corte e poedeiras comerciais.

De forma geral, os estudos diferiram em termos de formulação de ração e nível de inclusão de lignocelulose, bem como o uso de produtos de diferentes fornecedores. Porém, pode-se concluir de que os resultados obtidos são inconsistentes.

Efeitos benéficos, indiferentes ou prejudiciais da alimentação de aves da lignocelulose foram observados, gerando uma visão inconclusiva para os autores ao objetivo da publicação.

Em outras duas publicações (Maesschalck et al., 2015; 2019) comparando a uma fonte de fibra com as mesmas características do estudo anterior (um polímero a base Glicose β1-4 fração insolúvel denominado de D-glucopiranose β-1,4 não ramificado) com Xilo-oligossacarídeos fermentáveis, foram conduzidos pela mesma equipe de pesquisadores da Ghent University, Belgica.

Esta comparação é poderosa, pois foram realizadas pela mesma equipe de pesquisadores, na mesma unidade e com o mesmo protocolo experimental, porém com duas fontes de fibra de características totalmente distintas.

No trabalho mais recente (Maesschalck et al., 2019) avaliaram o efeito da suplementação ou não, do polímero a base Glicose β1-4 fração insolúvel na ração de frangos de corte sobre a performance e a composição da microbiota intestinal.

A adição da fonte de fibra foi 0,5% 1-13 dias de idade e 1,0% de 14 a 39 dias de idade das aves.

Os autores observaram que administração de Glicose β1-4 em dietas à base de trigo em frangos, alterou a composição da microbiota cecal.

No dia 26, observou-se uma maior abundância significativa (P<0,01) para o gênero Alistipes em cecos de frangos alimentados com dieta suplementada com Glicose β1-4, o que sugere que esta fração de fibra não é essencialmente inerte, e pode alterar o microambiente intestinal; embora não tenha sido observado nenhuma alteração no desempenho das aves (P>0,05).

Já no trabalho mais antigo, (Maesschalck et al., 2015) avaliaram o efeito da suplementação ou não, XOS fermentáveis na ração de frangos de corte sobre a performance e a composição da microbiota intestinal. A adição da fonte de fibra foi 0,2% 1-13 dias de idade e 0,5% de 14 a 39 dias de idade das aves.

XOS são produtos de degradação enzimática da cadeia de xilanos que podem ser fermentados pela microbiota intestinal, embora esteja no mesmo grupo denominado fontes de fibra, pertence a frações totalmente distintas dos outros trabalhos descritos nesta revisão.

Os autores observaram que administração de XOS em dietas à base de trigo em frangos, melhorou significativamente a taxa de conversão alimentar (P<0,05).

XOS aumentou significativamente o comprimento das vilosidades no íleo; também aumentou significativamente (P<0,05) o número de Lactobacillus sp. no cólon e Clostridium cluster XIV no ceco.

Além disso, o número de cópias do gene que codifica a enzima bacteriana chave para a produção de butirato (butiril-Co A:Acetato CoA transferase), foi significativamente aumentado (P<0,05) no ceco de aves administradas com XOS, indicativo claro do processo vigoroso de fermentabilidade cecal e produção de AGV.

Nesse grupo de frangos, em nível de espécie, Lactobacillus crispatus e Anaerostipes butyraticus foram significativamente (P<0,05) aumentados em abundância no cólon e ceco, respectivamente.

Esses dados mostram que os efeitos benéficos do XOS no desempenho dos frangos de corte quando adicionado à ração, ou obtidos via hidrolise enzimática das frações de fibra específicas normalmente presentes nas dietas, podem ser explicadas pela estimulação de bactérias produtoras de butirato por meio da alimentação cruzada de lactato e efeitos subsequentes do butirato na função gastrointestinal.

Neste caso, pode-se observar que fontes de fibra distinta irão invariavelmente gerar potenciais de modulação intestinal (efeito prebiótico) de forma totalmente distinta, sendo que este tema deve ser considerado pelo nutricionista na escolha de ferramentas para acelerar seu aproveitamento e mesmo de fontes de ingredientes mais adaptados a diferentes objetivos.

Em uma última revisão realizada pela equipe de pesquisadores da University of Georgia (Singh & Kim, 2021), descrevem os efeitos da fibra dietética na utilização de nutrientes e saúde intestinal de aves, além de trabalharem em uma meta-análise sobre os principais resultados encontrados em periódicos científicos de 2002 a 2020.

Os autores comentam que já se sabe, atualmente, que conhecer seu conteúdo de fibra dietética, independente da fonte utilizada, é fundamental para o correto benefício associado a esta utilização. Inclusive este tema é importante para uma correta escolha de enzimas carboidrases ou outros aditivos estimuladores do aproveitamento de fibra.

Quanto à meta-análise realizada, tomando-se como base diferentes estudos conduzidos em condições experimentais semelhantes para avaliar a variabilidade dos efeitos das enzimas exógenas no desempenho de crescimento de frangos alimentados com ingredientes fibrosos, o efeito da xilanase (por exemplo) melhora o ganho de peso diário (GPD) de frangos de corte de 20 a 25 dias de idade em 2,5 g/dia e diminui a conversão alimentar (CA) em 6 pontos em comparação com a dieta de controle negativo.

Comparado com os mais recentes estudos com os resultados de pesquisas de décadas anteriores, os dados mostram um efeito mais elevado para GPD e redução da CA em resposta a tratamentos enzimáticos nos trabalhos mais antigos que nos mais novos; embora ainda sejam bastante importantes nas ultimas publicações, sendo que os autores associam tal ocorrência aos avanços da genética e das condições de criação dos animais.

No entanto, a eficácia de tais enzimas alimentares exógenas e outros aditivos de estimulação, deve também ser avaliada em termos de melhoria da saúde intestinal, que seria mais detectável sob condições de criação desafiadoras e anti-higiênicas, algo que será amplamente desafiador em um futuro sem promotores de crescimento. Nestas condições, o espaço para resposta será cada vez mais elevado para estas estratégias.

 

PDF
PDF
Sair da versão mobile