A atual proposta de redação sugere a transição total da produção de ovos para o sistema livre de gaiolas.
Para ler mais conteúdo de Junho 2019
Desde o dia 16 de junho de 2019, a história da avicultura de postura brasileira começou a contar com um novo marco: a 2a Conbrasul Ovos (Conferência Brasil Sul da Indústria de Produção de Ovos). Assim como estamos habituados a utilizar os termos AC e DC para nos referirmos às ocorrências históricas localizadas nos períodos Antes de Cristo e Depois de Cristo, desde o último mês de junho, na avicultura de postura brasileira, provavelmente passemos a utilizar os termos ACO e DCO: Antes da Conbrasul Ovos e Depois da Conbrasul Ovos.
E não se trata de um delírio editorial, mas de reporte de um evento que estabeleceu novo patamar de discussões na avicultura de postura brasileira. A começar pela representatividade e calibre dos cerca de 400 participantes, que aderiram à 2a Conbrasul Ovos e elevaram o nível dos debates à importância do setor, enquanto gerador de milhares de empregos e bilhões de reais em divisas para a economia do País.
O número de participantes superou sim as expectativas da ASGAV (Associação Gaúcha de Avicultura), que organizou o evento com o apoio de entidades de peso como a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o IOB (Instituto Ovos Brasil), a IEC (International Egg Commission), WEO (Organização Mundial da Indústria e Produção de Ovos) e Egg Farmer Canadá. Em termos de resultados, o público da 2a Conbrasul Ovos teve contribuição fundamental.
Para o presidente do IOB e diretor executivo da ABPA, Ricardo Santin, as discussões estabelecidas ajudam o setor, porque levam seus atores a perceberem a necessidade de ser mais ativos e tomar decisões conscientes.
Segundo Santos, que também é o representante do Brasil na IEC, a ASGAV se inspirou nas conferências internacionais da Comissão para realizar a Cobrasul Ovos.
“O que assistimos nesses dias aqui em Gramado é um avanço para a avicultura como um todo, o que nos faz sentirmo-nos muito realizados enquanto setor”, destacou
Para superar as oscilações pelas quais passa periodicamente a avicultura brasileira, os produtores devem olhar para além-mar. Essa foi a tônica de dois importantes momentos do primeiro dia de debates da 2a Conbrasul Ovos. A preocupação se deve ao fato de o Brasil direcionar 99,6% da produção de ovos para o consumo interno e apenas 0,04% para a exportação. O tema foi abordado pela economista do Sistema Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), Danielle Guimarães, e ocupou o ponto alto da programação do evento, que foi o Colóquio Lideranças Egg Bussiness.
Segundo Danielle, o ovo responde a indicadores econômicos e vem sendo uma alternativa às outras proteínas animais em momentos de crise, ao mesmo tempo em que não há um produto substituto pra ele.
A economista explicou que a proteína também é sujeita a variáveis externas relacionadas, por exemplo, à imagem do produto quanto aos seus benefícios à saúde.
“Podemos minimizar efeitos, tanto das fake news, como das variações relacionadas à economia, ampliando o escoamento do produto para mercados externos e reduzindo a dependência do mercado interno”, salientou.
A ideia é compartilhada pelos empresários Maria Luiza Pimenta (Somai Nordeste), Ricardo Faria (Granja Faria), Guilherme Moreira (Grupo Mantiqueira) e Vitor Oliveira
(Fleischmann Sohovos). Os empresários participaram do Colóquio sobre o cenário atual e perspectivas para o mercado nacional e internacional de ovos e derivados, ao lado de Francisco Turra, presidente da ABPA.
Segundo Turra, em 12 anos, nunca se abriu uma oportunidade para a proteína animal do Brasil como hoje.
Turra também destacou que a Associação passou ao Governo Federal um mapa da realidade dos países onde o Brasil pode entrar com seus produtos, incluindo o ovo.
Exportar deve ser uma decisão estratégica da cadeia. “Ou a cadeia busca novos canais através do porto, ou, em menos de dois anos não teremos como absorver o nosso produto”, salientou Ricardo Faria. “Da mesma forma como atravessamos o oceano para buscar um equipamento novo, podemos atravessá-lo para buscar um novo mercado”, completou.
Por sua vez, Vitor Oliveira destacou que exportar deve ser uma atividade contínua do setor de ovos. “Nesse momento em que a rentabilidade do negócio é maior, não podemos pensar só em produção, mas também em inovações”, destacou.
Para Guilherme Moreira, o investimento em produtos diferenciados, como produção de ovos orgânicos também é um atrativo para o mercado externo. “Há demanda e quanto mais participamos, mais consultas são realizadas conosco e podemos exportar esse tipo de ovo, agregando mais valor ainda”, destacou.
A necessidade de inovar foi destacada por Maria Luiza, segundo quem o principal gargalo para a exportação de ovos é a falta de interesse do setor. “A gente tem que mudar, não podemos ficar só nas mesmas preocupações como reduzir plantel, exportar, ou acabar com gaiola”, salientou. “A gente tem que pensar novo, não podemos mais pensar nas mesmices”, completou.
Bem-estar animal
Outro importante tema debatido durante a Conbrasul Ovos são as mudanças no Código Terrestre de Bem-estar Animal, que estão sendo discutidas no âmbito da OIE (Organização internacional de Saúde Animal).
Segundo o coordenador de Assuntos Especiais do Mapa, Dr. Jamil Gomes de Souza, o grupo Ad hoc de bem-estar animal da OIE está avaliando as manifestações relacionadas à revisão da proposta de redação do capítulo que se refere ao bem-estar em sistemas de criação de galinhas poedeiras.
A atual proposta de redação sugere a transição total da produção de ovos para o sistema livre de gaiolas.
A previsão da OIE é de continuar recebendo comentários sobre o ponto até o mês de julho e, em setembro, realizar uma nova reunião para avaliar as manifestações e chegar a um consenso sobre a redação final para o capítulo.
O posicionamento oficial das Américas, manifestado num encontro realizado em Costa Rica em abril de 2019, é de que a versão de redação não é aceitável, pois exclui 90% dos sistemas comerciais de criação de aves poedeiras.
Para Juan Felipe Montoya, que durante a 2a Conbrasul Ovos falou sobre o tema pela IEC e WEO, se a redação do capítulo for mantida pela OIE, os produtores de ovos do mundo devem se mobilizar.
Para o presidente do Conselho Diretor do Instituto Ovos Brasil, Ricardo Santin, o setor vive um momento de evolução.
Não podemos simplesmente impor coisas. Estamos num período de mudanças e temos que olhar isso como tal, afinal, tem espaço para todo mundo.
Luiz Mazzon Neto, que é diretor geral para a América do Sul do Humane Farm Animal Care, destacou que hoje o bem-estar animal ainda é um valor agregado, porém, no futuro, será critério básica para estar no mercado. Ele salientou que no primeiro período de 2019, o número de clientes atendidos pelo Certifed Humane Brasil mais que dobrou comparado ao mesmo período de 2018, sendo a maioria do setor de produção de ovos.
“A minha percepção é que esse é um assunto que vai seguir”, salientou Jamil.
“Um cronograma de uma possível transição certamente deverá ser pensado logo após a decisão do que será tema na reunião de setembro”, completou, ressaltando que o debate não tem como ser adiado.
Gaúchos amam ovo
Em 2018, enquanto cada brasileiro consumiu 212 ovos por ano, os gaúchos consumiram 253 ovos, segundo levantamento da ASGAV, endossado pelo departamento de economia da Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul). A informação foi apresentada por José Eduardo dos Santos, durante a apresentação da experiência do Programa Ovos RS.
O Programa saiu do papel com peças de publicidade e ações criativas de marketing para promoção do ovo, no ano de 2013.
Com o respaldo institucional da Asgav e de parcerias com instituições e universidades, também entrou em prática o módulo de assistência técnica e orientação aos produtores e estabelecimentos de postura comercial.
Hoje, dos 3 bilhões de ovos produzidos por ano no RS, cerca de 60% são provenientes de estabelecimentos membros do Programa Ovos RS.
Os estabelecimentos e produtores que atendem 70% das exigências do Programa Ovos RS têm o direito de uso, nas embalagens de ovos, do selo referencial Ovos RS.