O mercado de ovos no Brasil e no mundo está em constante mudança. A cada ano uma nova tecnologia, demanda de mercado (como exemplo ovos de galinhas livres de gaiola) ou crise (econômica ou sanitária) se faz presente e muda a dinâmica da atividade.Saindo da crise gerada pela pandemia da COVID-19, nesse momento o mundo atravessa um de seus piores desafios quanto a sanidade avícola que é a Influenza aviária, com focos até o momento em todos os continentes, com exceção da Oceania.
Sua chegada por aves migratórias, a rapidez com que se espalha e o impacto nos planteis comerciais trazem diversas perdas para a produção afetando a cadeia avícola e também os consumidores. Países como os EUA por exemplo já enfrentam o desabastecimento de ovos em suas prateleiras.
Ainda na parte econômica a guerra da Ucrânia e Rússia impactou o preço dos grãos no ano de 2022 e pode seguir por mais um tempo influenciando.
Independente do cenário o avicultor segue em busca do equilíbrio entre um bom preço para o seu trabalho e também para o consumidor.
A produção de ovos no País mesmo com essas dificuldades busca se manter equilibrada. No 3º trimestre de 2022 a produção de ovos de galinha atingiu um novo recorde chegando a 1,02 bilhão de dúzias, como sempre grande parte desse montante fica dentro do País para consumo interno.
No ano de 2022 as exportações brasileiras de ovos (considerando produtos in natura e processados) totalizaram 9,474 mil toneladas, volume 16,5% menor que o realizado no mesmo período do ano anterior, com 11,346 mil toneladas.
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Quanto aos preços, a expectativa é de alta. Além da oferta justa, os elevados custos de produção também podem sustentar – e/ou aumentar – os valores de negociação da proteína.
A avicultura de postura é realizada em grande parte por pequenos e médios produtores, de forma independente, e dessa vez a AviNews Brasil foi até a cidade de Mandaguaçu, interior do Paraná conhecer a granja que leva o nome da cidade. A cidade tem na produção avícola o principal produto agropecuário dividido entre frangos, ovos para consumo e ovos férteis.
A Granja Mandaguaçu teve início com o senhor José Geraldo que comprava e revendia ovos, mas logo ele percebeu a oportunidade de ser proprietário da granja e hoje tem seu produto distribuído para outras regiões do Estado. A granja possui inscrição no SIF e aposta na qualidade de seus produtos para se diferenciar no mercado, trabalhando com ovos da categoria A.
Conversamos com o Felipe Pastoreli Vieira, responsável pela parte administrativa da granja. Ele nos contou como é a atividade de um médio produtor, suas expectativas para o futuro e outras curiosidades sobre a produção que você confere nessa entrevista!
Avinews: Existe hoje no Brasil vários sistemas de produção. Vocês vieram de um sistema pouco tecnificado? Qual a sua visão sobre esses avanços? A granja possui todas as etapas de produção, beneficiamento até entrega ao consumidor final?
FV: No começo o trabalho era com pouca tecnologia, mas atualmente a granja possui aviários verticais automatizados e os californianos manuais, temos na propriedade 50% de ambos.
Trabalhamos com todas as etapas, beneficiamento até a comercialização dos produtos que hoje é feita para empresas como mercados, distribuidoras, restaurantes, hotéis, padarias, e indústria alimentícia.
Avinews: Sobre nutrição. Qual o principal ponto na nutrição das aves? Fale um pouco sobre.
FV: As aves evoluíram muito na genética para produzir e ter um período maior de vida, no qual a nutrição se tornou de grande importância para atingir esses níveis adequados, por sermos uma granja de pequeno porte, fazemos as análises de suprimentos e rações mensalmente.
E assim vamos adequando aos níveis exigidos pela genética das aves. Utilizamos as exigências indicadas pela empresa de genética.
Avinews:Qual o principal ponto de dificuldade nesse momento para a produção?
FV: Com certeza nos últimos anos e ainda com reflexo na granja, foi a pandemia. Como tivemos um período de pandemia, os aumentos nos custos produtivos foram altos, e para mantermos a atividade tivemos que deixar por um período de investir em maquinários e algumas melhorias.
O bem-estar e a sustentabilidade na produção são pontos de destaque na atividade. Mesmo sendo um conceito em alta nesse momento a sustentabilidade na produção de ovos é presente a muito tempo.
A granja pratica da melhor forma o bem-estar respeitando a área que cada ave precisa dentro da gaiola, e atentos aos parâmetros de qualidade de água, ração e ambiente que também interferem no bem-estar.
Em relação a sustentabilidade a principal dificuldade é em relação a política de reciclagem. “Nós reciclamos todo o material em desuso na granja, o que nos atrapalha um pouco é a legislação para logística inversa de materiais, essa a qual se utiliza muito como caixas e bandejas.”
Sobre a gripe aviária Felipe conta que a granja já está com as medidas preventivas reforçadas.
“Tomamos algumas medidas como aumentar a desinfecção das instalações, estar atentos ainda mais ao manejo sanitário das aves, também não estamos autorizando visitas e restringindo o acesso. Estamos atentos também a presença de aves externas. ”
No ano passado o Brasil conquistou muitos mercados mesmo tendo tido uma diminuição no volume exportado. Perguntado sobre as oportunidades que a influenza pode trazer para o mercado de ovos Felipe é otimista: “Assim como toda crise, temos oportunidades e essa pode consolidar o mercado exportador de ovos”, pontua.
O principal destino do ovo brasileiro são os Emirados Árabes, que importaram 48% da produção nacional, seguido pelo Catar e pelo Japão.
Felipe nos aponta que a granja tem grandes projetos e expectativas para o futuro e seu principal ponto é com a demanda que está sendo observada e pode mudar a produção de ovos como conhecemos hoje, para os próximos anos: “Nós produtores ouvimos muito sobre o bem-estar, e aves criadas soltas. Esse é o nosso futuro! ”.