INTRODUÇÃO
A aerossaculite é uma condição inflamatória dos sacos aéreos das aves. Os nove sacos aéreos das aves comunicam-se aos brônquios e pulmões e possibilitam a circulação do oxigênio pelos pulmões, auxiliando na respiração. Quando os sacos aéreos se inflamam, acontece o engrossamento e acúmulo de material purulento ou caseoso dentro da cavidade dos sacos aéreos. Esta condição normalmente é causada por infecções bacterianas e fúngicas, mas também por vírus. |
Quando as aves apresentam aerossaculite, elas se mostraram:
As lesões macroscópicas da aerossaculite levam a eliminação parcial ou total da carcaça, e com isso perda de rendimento de carcaça. Porém, a aerossaculite também afeta a uniformidade do peso final das aves, originando carcaças com dimensões muito variadas, os quais interferirão no desempenho dos equipamentos de evisceração e no rendimento de desossa. Em consequência, obtêm-se:
ORIGEM
Os patógenos que infectam os sacos aéreos ingressam principalmente por via aéreas, mas podem ser originadas também por via sistêmica.
Infecções na granja
Agentes virais como o Vírus da Bronquite infecciosa, Doença de Newcastle e Influenza aviária são agentes comuns que levam a ciliostase, e com isso, originam o surgimento de aerossaculite. Níveis de amônia, outros gases e ar frio podem também causar ciliostase.
Infecções embrionárias
As aves na fase de desenvolvimento embrionário, e mesmo durante o nascimento podem ser contaminadas com inúmeras bactérias. Ovos contaminados podem causar mortalidades embrionárias, mas níveis de contaminação baixos permitirão que aves nasçam e desenvolvam o quadro clínico nas primeiras semanas de vida da ave na granja. Normalmente, esta origem das aerossaculite é ignorada e despercebida. |
As necropsias revelaram surpreendentemente uma elevada porcentagem de aves e lotes com presença de lesões dos sacos aéreos (Gráfico 1).
18 (62%) dos 29 lotes necropsiados apresentavam embriões ou pintos com aerossaculite. |
Nas aves necropsiadas, amostras foram assepticamente coletadas a partir de embriões e pintinhos de 1 dia de idade para exame bacteriológico, achandose presença de E. coli e Klebsiella spp. 58,3 e 12,5% dos lotes apresentaram positividade para E. coli e Klebsiella, respectivamente, como mostra o Gráfico 2.
Esta elevada detecção de bactérias explica as lesões encontradas nas vias respiratórias dos embriões e pintinhos de 1 dia. As aves contaminadas por estas bactérias certamente espalham e contaminam o lote, conduzindo à aparição de quadros respiratórios nas primeiras semanas de vida do lote, que poderiam visualizarse como aerossaculite. A colibacilose neonatal não pode ser subvalorizada, pois afetará a performance do lote, não apenas em termos de mortalidade de primeira semana, mas a performance produtiva e sanitária do lote até a idade de abate.
Estes achados explicam a persistência bacteriana em quadros de aerossaculite precoce em lotes que receberam antibióticos no incubatório.
FATORES ENVOLVIDOS
Agentes patológicos
Bactéria e vírus são os agentes infecciosos mais comumente envolvidos em quadros de aerossaculite em lotes de frango comercial.
Cama
Os agentes infecciosos patogênicos que afetam a saúde de lotes de frango de corte têm duas origens:
O reuso de cama em aviários é uma prática comum nas empresas produtoras de frango devido aos benefícios econômicos encontrados. Porém, a cama se não bem tratada após retirada do lote, pode manter viáveis agentes infeciosos benéficos, mas também patogênicos que irão comprometer a saúde do próximo lote. |
As práticas básicas de tratamento de cama antes da reutilização são insuficientes para eliminar os patógenos presentes nela. Desta forma, lote a lote, acontecerá um aumento da carga bacteriana ou viral ou fúngica ou de todas elas, o que significará desafios cada vez mais precoces nos lotes subsequentes.
Em regiões geográficas onde a cama é reutilizada por maiores períodos (até 6 anos), é comum encontrar desafios mais precoces e intensos comparadas a regiões onde a cama é renovada após cada saída de lote ou após 1 a 2 anos de uso (Gráfico 4).
Temperatura ambiental
Bactérias, vírus e parasitas têm diferentes níveis de resistência fora das aves. Inclusive, há diferenças de capacidade de resistência entre os vírus, dependendo do tipo estrutura externa do agente viral.
Agentes virais de tipo respiratório podem-se transmitir rapidamente, e eles podem permanecer viáveis por longos períodos dependendo das condições meio-ambientais, principalmente a temperatura ambiental. A tabela 1 abaixo mostra o tempo de sobrevivência de alguns agentes virais respiratórios de acordo à temperatura ambiental.
Pode-se observar uma maior resistência viral em temperaturas baixas. Vírus envelopados (como o da Bronquite infecciosa) se inativam facilmente frente ao contato direto de vários desinfetantes disponíveis, mas os agentes viricidas têm pouco efeito sobre os patógenos protegidos na matéria orgânica. Podemos deduzir da tabela, porque em períodos de frio (temperaturas baixas) os desafios infecciosos parecem ser mais intensos: não por efeito direto do vírus, mas sim porque as condições (temperatura e outros fatores) favorecem o aumento da pressão de infecção.
Manejo de ambiência
Além dos agentes infecciosos, agentes e materiais não infecciosos podem favorecer o surgimento e intensificação da aerossaculite.
Ar sobrecarregado de poeira, ar seco ou frio, ventilação deficiente, cama altamente contaminada, gases nocivos (CO2 (>3.000 ppm)) e amônia (> 25ppm), que irritaram as vias respiratórias, afetam direta ou indiretamente o normal funcionamento das estruturas celulares do hospedeiro favorecendo a infecção e colonização por agentes infecciosos. |
Fatores ambientais adversos como:
Criam condições ideais para a infecção e multiplicação de agentes infecciosos porque promovem agressões ao trato respiratório.
Algumas práticas de manejo acabam facilitando a presença de fatores predisponentes da aerossaculite. Por exemplo, em situações de vazio sanitário curto, os pintinhos alojados serão colocados em contato mais precocemente com uma maior carga infecciosa oriunda do lote anterior.
“A aerossaculite é um problema sanitário de grande impacto econômico, e todos os esforços devem ser realizados para identificar todos os fatores envolvidos para fazer as correções necessárias”.
“A intensidade dos quadros de aerossaculite dependem da apresentação simultânea dos vários fatores envolvidos. Se alojarmos pintinhos com Colibacilose neonatal, em cama já contaminada pelo lote anterior, após um período de vazio sanitário curtíssimo que permitirá que os pintinhos entrem em contato com os patógenos desde a primeira semana de vida, em períodos de frio que agravam ainda mais o funcionamento do sistema respiratório e favorecem a permanência dos vírus na cama, certamente teremos lotes com elevadas porcentagens de condenações no frigorífico”.
“O controle de um problema multifatorial, requer um plano de controle multiestratégico, envolvendo múltiplos setores da cadeia produtiva”. |