Patologia e Saúde Animal

Por que a Bronquite Infecciosa das Galinhas é a doença de maior impacto econômico na indústria de carne de frango?

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Para ler mais conteúdo de aviNews Brasil 1T 2022

Estudos e consequentes publicações assinalam a Bronquite Infecciosa das Galinhas (BIG) como a doença que causa maiores perdas à indústria avícola moderna em todos os países onde não existe a Influenza aviária de Alta Patogenicidade, como é o caso do Brasil.

Mesmo que a BIG não resulte em elevadas taxas de mortalidade, como as infecções por vírus de Newcastle Velogênico ou por Salmonella Gallinarum por exemplo, os impactos são maiores do que nessas doenças pela elevada morbidade e porque seus efeitos afetam todos os setores da cadeia produtiva.

bronquite infecciosaPor exemplo, as lesões respiratórias que serão visualizadas como aerossaculites no frigorífico levarão a condenações (descarte de carne), com a consequente diminuição do rendimento de carcaça e aumento do custo de processamento no frigorífico.

São vários os fatores que explicam por que a doença é endêmica na maioria das regiões avícolas do Brasil. Os esforços para o controle desta doença são insuficientes devido à falta de detecção (reconhecimento e diagnóstico assertivo) e ao desconhecimento dos reais impactos da doença na cadeia produtiva.

Quando a indústria não consegue detectar o problema, não conseguirá mensurar suas perdas, e em consequência não adotará as medidas corretivas necessárias. Enquanto isso, a empresa perderá lucratividade.

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FALTA DE RECONHECIMENTO DAS DIFERENTES FORMAS DA DOENÇA

O vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas (VBIG) se replica inicialmente nas células epiteliais do trato respiratório superior, para logo se disseminar para outros órgãos. O quadro clínico visível no campo dependerá do: 

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Em aves de ciclo curto (frango de corte), as infecções do trato respiratório, renal e entérico são as mais comuns, porém, apenas a forma respiratória severa é reconhecida no campo.

bronquite infecciosaA doença renal causada pelo Vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas é uma das formas que mais comumente acaba não sendo detectada no campo. A maioria dos vírus da cepa BR-I tem tropismo renal, o que leva à perda de desempenho e incremento da mortalidade sem presença de sinais respiratórios visíveis.
bronquite infecciosa pododermatiteEm quadros severos complicados por fatores secundários, destacando o estresse por frio, a lesão renal será intensa, levando à alta mortalidade e à cama úmida/molhada. Um dos efeitos negativos da cama úmida será a agressão da qualidade da pele e do coxim plantar, aumentando as condenações por dermatite e pododermatite no frigorífico.
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ERROS DE DIAGNÓSTICO

A infecção pelo Vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas não causa sinais clínicos patognomônicos, sendo necessário o auxílio laboratorial. São duas as ferramentas práticas disponíveis para esta finalidade, porém é importante conhecer suas utilidades e limitações.

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TESTE SOROLÓGICO: ELISA 

Os kits de ELISA comerciais conseguem detectar anticorpos originados da resposta à vacinação e ao desafio. A interpretação é realizada com base nos títulos de anticorpos (Ac). Porém, eles não informam qual cepa induziu a soroconversão. Outra limitação destes kits é a incapacidade de detectar infecções tardias, ou seja, infecções próximas à idade de abate.

Em forma prática:

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Títulos elevados significam que o lote foi desafiado;

Enquanto títulos baixos podem ser detectados em lotes não desafiados, ou desafiados e em processo de soroconversão.

TESTES MOLECULARES: PCR/qPCR

Técnicas moleculares estão hoje mais acessíveis. Apresentam várias vantagens destacando-se a capacidade de identificar o genótipo viral infectante, diferenciando-o entre vírus de campo e vacinal.

bronquite infecciosaOutra vantagem é a capacidade de detectar o VBIG poucas horas após o início da infecção. Desta forma, frente à suspeita de desafio tardio (infecção poucos dias antes da idade de abate), esta técnica seria a mais indicada por não gerar resultados falso-negativos.

Contudo, resultados falso-negativos podem ser obtidos quando não se coleta o tecido adequado no momento adequado. Para garantir a detecção, a amostra de campo deve ser corretamente transportada até o laboratório para preservar uma quantidade mínima de vírus que consiga ser detectado.

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DESENHO DE PROGRAMA VACINAL INADEQUADO

Aproximadamente, mais de 200 genótipos do Vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas circulam na avicultura mundial. Quando dois genótipos apresentam baixa relação antigênica entre si, estes são classificados em diferentes sorotipos. Em termos práticos, a imunidade induzida por uma vacina contra um sorotipo diferente é baixa. Esta é a principal causa de ineficácia no controle desta doença.

Nos países do Atlântico da América do Sul, o sorotipo BR-I é o mais prevalente e com ampla distribuição geográfica. No entanto, ainda em muitas empresas se utiliza apenas o sorotipo Massachussetts (Mass) no programa vacinal.

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Como inúmeros trabalhos demonstraram, a imunidade gerada pelas vacinas deve ser específica para o vírus de campo circulante. Desta forma, o primeiro passo para o desenho de um programa vacinal eficiente é conhecer a cepa ou cepas de campo circulantes nas granjas ou região geográfica.

Na tentativa de aumentar a proteção contra as diferentes cepas variantes do VBIG, vacinas Massachusetts mais agressivas foram desenvolvidas. Contudo, o tempo confirmou que o controle efetivo dos Coronavírus necessita de homologia entre as cepas vacinais e de campo. Protocolos vacinais que incluíram o uso de vacinas Massachusetts mais invasivas, inclusive com reforço no campo com a mesma vacina, fracassaram porque a especificidade entre as cepas é mais importante do que o número de vacinações ou a agressividade dos vírus vacinais.

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Gráfico 2. Exemplo de programas vacinais efetivos contra as principais cepas de campo na América do Sul

ERROS DURANTE A APLICAÇÃO DAS VACINAS

O Vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas é altamente termossensível e frágil fora da ave e, por isso que muitos cuidados devem ser tomados durante o manuseio da vacina para que ela não perca título viral e não tenha a sua eficácia comprometida.

Durante a estocagem, o preparo, e a aplicação da vacina, podemos estar perdendo título viral, e com isso, perdendo proteção.

DESEMPENHO INSATISFATÓRIO DAS VACINAS
Durante o processo de desenvolvimento das vacinas vivas da BIG, o vírus vacinal é atenuado artificialmente, ponto chave que definirá o desempenho da vacina no campo. Se o vírus vacinal for superatenuado ou subatenuado, haverá problemas no campo.
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Caso o vírus vacinal seja superatenuado (número de passagens além do necessário), ele não induzirá imunidade protetiva, pois perdeu imunogenicidade. Mesmo aumentando a dose vacinal ou revacinando, na granja os lotes continuarão sendo desafiados e adoecerão pelo vírus de campo.

Por outro lado, se o vírus for subatenuado, a vacina terá problemas de segurança: o vírus vacinal se replicará com intensidade, agredindo severamente e por longo tempo as células e os tecidos do hospedeiro.

No campo ocorrerão reações pós-vacinais acentuadas e prolongadas que poderão se complicar ainda mais se houver mau manejo do ambiente. Em consequência, o lote perderá desempenho e será necessário antibioticoterapia para controlar os agentes infecciosos secundários. Além disso, o vírus de origem vacinal ficará circulando por um período prolongado no aviário, transmitindo-se para outros aviários e causando sinais clínicos, evento indesejável conhecido como rolagem viral. 

DESCONHECIMENTO DO POTENCIAL DOS IMPACTOS FINANCEIROS

Para ilustrar o “tamanho” do impacto, apresentamos um resumo de um estudo comparativo conduzido numa empresa Top-5 do Brasil que passava por desafios constantes pela cepa BR-I.

No estudo, a produtividade e o rendimento de 20 lotes vacinados com uma vacina Massachusetts invasiva foram comparados com outros 20 lotes que foram imunizados com a vacina Cevac IBras que contém a cepa BR-I.

Nesta avaliação, conduzida no início de 2021, foram usados valores de mercado daquele momento. Nos 12 parâmetros avaliados, o resultado econômico foi melhor nos lotes vacinados com a cepa BR-I. Em resumo, somando os resultados da granja e do frigorífico, os lotes vacinados com a cepa BR-I renderam R$ 304,56 a mais por cada 1.000 frangos em relação aos lotes que receberam apenas a cepa vacinal Massachusetts.

O gráfico abaixo mostra o “ganho financeiro” adicional em cada parâmetro mensurado dos lotes “Cevac IBras” em relação aos lotes “Massachusetts”.

Bronquite Infecciosa
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