Para José Rodolfo Ciocca, gerente de Campanhas HSA (Humane and Sustainable Agriculture) da World Animal Protection (WAP), embora a grande maioria das empresas avícolas no País tenha planos de bem-estar animal bem definidos, ainda há espaço para avançar. “Muitas indústrias avícolas nacionais têm um plano de bem-estar animal, alguns são mais completos e complexos que outros. Porém, ainda há um caminho a percorrer para atingirmos a liderança no tema”, afirma.
Avicultura brasileira avança em bem-estar animal, diz gerente da WAP
José Rodolfo Ciocca, gerente de Campanhas HSA da World Animal Protection (WAP), foi um dos palestrantes do Painel de Bem-estar Animal, realizado hoje no SIAVS.
Nos últimos 20 anos, o bem-estar animal tornou-se um dos temas mais debatidos pela indústria mundial de proteína. Preocupação global, que ocupa cada vez mais espaço nas demandas de mercado e nas expectativas dos consumidores, a necessidade de garantir condições mais adequadas aos animais ao longo de seu ciclo produtivo tem funcionado como um dínamo para a avicultura brasileira; estabelecendo novos padrões de manejo, parâmetros técnicos, e até orientando a criação de novos modelos de produção.
Principal exportador mundial de carne de frango, um dos maiores produtores avícolas do mundo, o Brasil tem mantido uma postura proativa em relação ao tema e registrado grandes avanços na garantia de bem-estar das aves ao longo dos anos. Uma mostra disso é que o país comercializa seus produtos avícolas com mais de 150 países ao redor do mundo. Muitos deles mercados altamente exigentes.
José Ciocca foi um dos palestrantes do Painel sobre Bem-estar Animal, realizado na manhã de hoje (31/08), no Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura (SIAVS).
De acordo com o especialista da WAP, ainda há necessidade de padronização e melhor entendimento sobre o que é bem-estar nas propriedades avícolas brasileiras. “Essa carência, muitas vezes, pode comprometer o monitoramento dos índices”, afirma Ciocca.
Para uma boa avaliação do bem-estar das aves, explica o especialista, é preciso trabalhar com três tipos de indicadores: os comportamentais, os fisiológicos e os ambientais. “E normalmente observamos que, muitas vezes, a avaliação do bem-estar é tomada apenas com base em boa alimentação, temperatura, umidade controlada e mortalidade, ficando de fora inúmeros indicadores importantes para garantir o bem-estar das aves, tal como seu comportamento”, explica Ciocca.
Segundo ele, a World Animal Protection tem trabalhado em conjunto com agroindústrias brasileiras com o objetivo de implementar indicadores de comportamento e bem-estar de forma efetiva, que também tragam informações para a avaliação dos resultados zootécnicos em decorrência do melhor atendimento ao bem-estar.
Demandas de bem-estar na avicultura brasileira
De acordo com Ciocca, a avicultura brasileira ainda tem demandas importantes na área de bem-estar animal a cumprir, especialmente no setor de postura.
“As demandas dos setores de corte e postura são diferentes. No que tange a avicultura de postura, podemos observar a grande demanda por criações com altos níveis de bem-estar, principalmente com o foco em galinhas criadas livres de gaiola e em galpões com o ambiente enriquecido, que não é o mesmo que gaiola enriquecida. Hoje já há algumas empresas nacionais trabalhando nestes sistemas livres de gaiola, mas é preciso avançar”, observa Ciocca.
A debicagem e a restrição alimentar são outras práticas que os avicultores de postura terão de rever, afirma o especialista. “A debicagem é outra demanda impactante na avicultura de postura, salvo algumas exceções, como quando há algum problema de canibalismo na granja. Nesses casos, deve ser utilizado o infravermelho, pois é o método menos aversivo às aves quando comparado às práticas atuais”, avalia. “As restrições alimentares, como a muda forçada, também devem ser repensadas no processo produtivo. Muitas empresas já baniram esse tipo de manejo, mas ainda é uma realidade no Brasil”, completa.
Já na avicultura de corte, aponta o gerente da WAP, há uma demanda de clientes internacionais e consumidores em quatro grandes áreas: redução no uso de linhagens de crescimento acelerado, redução na densidade, fornecimento de iluminação natural e enriquecimento ambiental. “Hoje a Ciência nos diz que estes quatro pilares em conjunto são fundamentais para prover melhores condições de vida às aves e, sem dúvida, são as principais demandas para um futuro próximo”, salienta.
Foco na produtividade
De acordo com Ciocca, por muitos anos, os sistemas produtivos foram pensados e idealizados com o foco apenas em produtividade, esquecendo-se de pontos fundamentais como a base comportamental e o bem-estar dos animais. “Esses fatores, quando atendidos, trazem equilíbrio à produção animal sem gerar dor, sofrimento e angústia”, comenta.
Segundo ele, o maior exemplo disso é a alta densidade utilizada nos aviários, que compromete a execução de comportamentos inatos às aves, como se espojar, ciscar, bicar e se empoleirar.
“Quando comportamentos tão importantes e naturais da espécie são privados, há um retorno negativo em produtividade e comprometimento no seu bem-estar”, avalia. “O mesmo vale para a seleção genética de aves de crescimento cada vez mais rápido, o que gera um desequilíbrio na estrutura da ave, comprometendo sua qualidade de vida e aumentando a necessidade do uso de medicamentos”, observa.
Diante da crescente preocupação dos consumidores modernos com a bem-estar, a indústria tem se esforçado para cada vez mais atender as necessidades dos animais. “Essa postura se refletirá positivamente nos índices zootécnicos e, ao mesmo tempo, atenderá às demandas de uma sociedade cada vez mais crítica e exigente por produtos de origem animal produzidos de forma ética”, afirma o gerente da WAP.
Exigência inexorável
Para José Ciocca, a garantia de bem-estar animal é uma exigência inexorável e um requisito estratégico para qualquer grande player do mercado internacional de carnes. Segundo ele, o Brasil precisa manter sua postura proativa e avançar em melhorias nas condições de criação de animais de produção.
“Para garantir o espaço em um mercado cada vez mais competitivo, o cumprimento do bem-estar animal é uma tarefa básica, pois esta tem sido uma demanda crescente entre os consumidores em todo o mundo”, afirma. “O Brasil é um dos maiores players e responsável por fornecer carne para mercados exigentes. Produzir de forma responsável e ética, atendendo ao tripé da sustentabilidade, é fundamental para as novas gerações de produtores que buscam atender as futuras gerações de consumidores, que são mais informados e preocupados com a forma como os animais vêm sendo criados”, finaliza Ciocca.
Direto de São Paulo