Brasil deve retomar exportações avícolas para Emirados e Japão nos próximos dias, antecipa Luis Rua
Durante a coletiva, o presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, informou que será realizada, em julho, uma simulação técnica de despovoamento voluntário em Bastos (SP).
A retomada das exportações de carne de aves para os Emirados Árabes Unidos e Japão deverá ser anunciada “nos próximos dias”, segundo Luis Rua, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária). A afirmação foi feita durante coletiva concedida à imprensa no segundo dia da Conbrasul Ovos 2025, em Gramado (RS).
“Com Emirados Árabes e Japão, que restringiram apenas o município de Montenegro, já houve avanço. A gente espera já nos próximos dias anunciar a retomada”, disse Rua.
A fala representa o primeiro indicativo público e direto da retomada de mercados após a confirmação do caso de IAAP (Influenza Aviária de Alta Patogenicidade) em uma granja de reprodutoras no Rio Grande do Sul, em maio. A declaração foi feita antes de qualquer anúncio oficial do governo federal.
Atualmente, 24 países mantêm restrições às exportações brasileiras de carne de aves, sendo 16 com suspensão total e os demais com restrições regionalizadas. Segundo Rua, o Ministério tem adotado uma estratégia de diálogo técnico e diplomático individualizado com cada país, priorizando aqueles que aplicaram medidas proporcionais à localização do foco.
“A gente não vai tentar resolver tudo ao mesmo tempo. Vamos trabalhar com aqueles que reconheceram a regionalização, como Emirados e Japão, e depois avançar com os demais”, explicou.
Ele destacou ainda que a interlocução do Brasil com os países importadores tem sido respaldada por relatórios técnicos consistentes e pela transparência do processo de investigação e contenção do surto. Rua reiterou que o governo trabalha para consolidar o modelo de regionalização como base para futuras respostas sanitárias.
Ele evitou se comprometer com prazos, mas sinalizou que a defesa da regionalização e a adoção de zonas livres em estados não afetados já está em discussão formal com parceiros comerciais. A proposta de avançar para uma estratégia mais estruturada de regionalização — incluindo discussões sobre eventual vacinação em áreas específicas — também foi mencionada como uma possibilidade futura, ainda sem decisão.
Questionado sobre o possível impacto da IAAP na imagem do setor e no comportamento do consumidor brasileiro, Luis Rua minimizou riscos, mas reconheceu que o momento exige comunicação clara e fundamentada.
“Não há risco ao consumo, e o brasileiro tem demonstrado confiança na proteína de aves. Mas, sim, é hora de reforçar a comunicação e os esclarecimentos técnicos”, disse.
O secretário elogiou a atuação das associações setoriais e destacou que os estados têm exercido papel fundamental na contenção do episódio e na prevenção de novos focos.
Apesar de não apresentar estimativas financeiras consolidadas, Luis Rua indicou que o volume das exportações de carne de aves em maio ficou abaixo da média histórica. “A gente trabalha com uma média mensal de 400 mil toneladas. Em maio, embarcamos cerca de 350 mil”, disse.
Segundo ele, essa redução é reflexo direto das suspensões temporárias, mas não representa uma ruptura estrutural. O secretário reforçou que o Brasil continua sendo visto como fornecedor confiável, e que os fundamentos sanitários, produtivos e logísticos da avicultura brasileira seguem sólidos.
Bastos
Durante a coletiva, o presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, informou que será realizada, em julho, uma simulação técnica de despovoamento voluntário em Bastos (SP). A ação contará com a participação de representantes do setor privado, autoridades sanitárias brasileiras e especialistas dos Estados Unidos, e tem como objetivo testar, em ambiente controlado, os protocolos de resposta rápida a surtos de Influenza Aviária.
“A ideia é aplicar os protocolos de forma controlada e didática. Essa ação vai reforçar a prontidão do setor e servir como treinamento prático”, afirmou Santin.
Ele destacou que iniciativas como essa ajudam a fortalecer a confiança do mercado externo e a preparar o país para eventuais emergências sanitárias.
O Presidente Executivo da O.A RSOrganização Avicola RS – Asgav/Sipargs), José Eduardo dos Santos, destacou que o sistema de vigilância no Rio Grande do Sul respondeu de forma rápida e eficiente. Segundo ele, o setor já vinha realizando amostragens periódicas em granjas de postura comercial, com resultados negativos mesmo em momentos críticos, como durante a enchente e os casos de Doença de Newcastle.
“Tivemos um caso isolado, mas o sistema funcionou. Seguimos em alerta máximo, com medidas reforçadas e grande engajamento dos produtores.”
Já o presidente do IOB (Instituto Ovos Brasil), Edval Veras, reforçou que o consumo de ovos segue estável e que o foco da comunicação precisa ser a valorização da qualidade sanitária do setor. “Não podemos permitir que isso manche a imagem de uma cadeia que é símbolo de sanidade e qualidade.”
Na mesma linha, o diretor executivo da AVES-ASES, Nélio Hand, enfatizou a importância de união institucional e comunicação técnica com a sociedade. “Estamos diante de um desafio, mas também de uma oportunidade de mostrar a maturidade sanitária e a capacidade de reação da avicultura brasileira.”