Bronquite Infecciosa Aviária: patogênese, diagnóstico e controle
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Bronquite Infecciosa Aviária: patogênese, diagnóstico e controle
Essa enfermidade provoca:
O agente etiológico da bronquite infeciosa é o Gammacoronavírus, pertencente ao gênero Coronavirus, família Coronaviridae. A partícula viral é constituída por um envelope lipoproteico e glicoproteínas de superfície, além de uma fosfoproteína que interage com o RNA viral (CAVANAGH e GELB JR, 2008; DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009).
Diversas cepas foram relatadas em todo o mundo, com exceção da Antártida (JACKWOOD e WIT, 2020). A primeira variante desse vírus foi relatada em 1940, circulando em aves presentes nos Estados Unidos; ao longo os anos, foram relatados vários outros casos. Devido ao fato de serem descritas mundialmente diversas variantes da bronquite infecciosa, houve uma maior atenção para a identificação das estirpes, assim como o conhecimento de que muitos países possuem suas próprias estirpes (JACKWOOD et al., 2012).
No Brasil, ela foi diagnosticada pela primeira vez em 1957, pelo Professor Osmane Hipólito, no Estado de Minas Gerais (HIPÓLITO et al., 1979). Porém, somente nos anos 2000 foi relatada a presença de diferentes cepas da doença no país, onde notaram que se diferenciavam dos isolados em diversos países da Europa, América e Ásia. Uma série de estudos foram realizados, e de maneira geral, foi verificado que os vírus isolados no Brasil, em sua grande maioria, demonstram-se pertencer ao mesmo genótipo, representando, desta forma, um novo sorotipo brasileiro (DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009).
A bronquite infecciosa apresenta um período e incubação curto, em torno de 24 a 48 horas, e pode permanecer cerca de 18 horas em incubação na traqueia das aves. Por isso, é possível encontrar alta carga viral de três a cinco dias na traqueia desses animais. Já na fase crônica da doença, o vírus é encontrado comumente no trato gastrointestinal (MARTINS et al., 2015; JACKWOOD e WIT, 2020).
O vírus apresenta alta taxa de virulência, sendo facilmente transmitido entre as aves por meio de inalação ou ingestão de gotículas de animais infectados, seja por contato direto ou indireto. As aves de todas as idades e ambos os sexos são suscetíveis a infecção, entretanto, a doença se apresenta mais grave em aves mais jovens (JACKWOOD e WIT, 2020).
Seus sintomas se advêm de um amplo espectro de síndromes clínicas. A manifestação clínica mais comum da doença é a respiratória, que inclui tosse, espirro e coriza. Assim como, também são comuns estertores, dispneia, asfixia e insuficiência respiratória, que podem levar à morte, principalmente, de animais mais jovens (OIE, 2012; ALSULTAN et al., 2019).
As manifestações reprodutivas incluem infertilidade, diminuição na produção de ovos, com diminuição da qualidade interna (albúmen aquoso) e externa (descoloração da casca, casca fina e porosa) dos ovos (CAVANAGH e GELB JR, 2008; COOK et al., 2012; DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009).
A manifestação renal pode ser observada em alguns casos, no entanto, são inespecíficos e podem se confundir com outras doenças. Estes incluem depressão, fezes aquosas e aumento no consumo de água. A doença renal pode ou não ser precedida ou acompanhada pela apresentação respiratória (CAVANAGH e GELB JR, 2008; COOK et al., 2012; DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009). Já a manifestação entérica da doença, os animais podem apresentar fezes aquosas e/ou diarreia severa (DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009).
O diagnóstico da bronquite infecciosa no campo é normalmente realizado com base no histórico do lote e presença de sinais clínicos, sendo que estes podem ser os mais diversos, conforme previamente destacado. A sua confirmação é realizada por meio de exames laboratoriais, já que ela apresenta sinais comuns a outras doenças.
Os ensaios laboratoriais incluem: ELISA, soroneutralização, teste de inibição da hemaglutinação, imunodifusão em gel de ágar, isolamento em ovos embrionados, cultivo em anéis de traqueia e técnicas de biologia molecular, como a reação em cadeia da polimerase (PCR – Polymerase Chain Reaction) (LIMA, 2007; DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009; OIE, 2012).
Atrelado as medidas preventivas sanitárias das granjas, há ainda o programa de vacinação das aves. Para que seja efetivo, primeiramente é necessário que os plantéis com grandes quantidades de aves tenham disponibilidade de realizar o vazio sanitário, principalmente caso ocorra infecções pela bronquite infecciosa na granja (MARTINS et al., 2015). É notório que plantéis que não dispõem dessa importante ferramenta têm problemas conhecidos com surtos da doença e grande déficit da produção (CAVANAGH e GELB JR, 2008).
É aconselhado que as aves sejam divididas em grupos de mesma idade e a vacinação ocorra na mesma data. Desta forma, a imunidade contra a bronquite infecciosa se torna mais homogênea e dificulta o surgimento de estirpes variantes. (CAVANAGH e GELB JR, 2008; MARTINS et al., 2015; AMANOLLAHI et al., 2020).
No Brasil, é reconhecida a existência de duas classes principais de cepas de Bronquite Infecciosa:
Na maior parte do mundo onde a avicultura é sistema intensivo, há inúmeras cepas variantes da bronquite infecciosa circulantes no campo, como por exemplo: Arkansas, Connecticut e QX.
No Brasil, a cepa mais amplamente distribuída é a cepa clássica Massachusetts, constituinte da principal vacina viva utilizada para o controle dessa enfermidade (SANTOS, 2018; AMANOLLAHI et al., 2020).
No entanto, diferente da maioria dos outros países produtores de frangos de corte, o Brasil apresenta um único grupo reconhecido de variantes de bronquite infecciosa composto por cepas distintas entre si, denominadas cepas do grupo Brasil (BR) (CHACÓN et al., 2011 e FRAGA et al., 2013).
Em 2022, uma nova cepa de bronquite foi descrita em lotes de produção no oeste do Paraná por pesquisadores (IKUTA et al., 2022), altamente assemelhada ao Var2 (mais corretamente referida como GI-23). Inicialmente, foram adotadas medidas de controle através de manejos sanitários mais rigorosos, acompanhadas pela intensificação nos protocolos vacinais. Posteriormente, também foi lançada a vacina para o sorotipo GI-23.
Apesar do país reportar exclusivamente por estes três tipos de cepas, a sua distribuição é desigual ao longo do território. As populações virais interagem entre si não apenas competitiva, mas como também cooperativa.
As mutações e recombinações determinarão o prevalecimento de uma cepa sobre as outras, além da origem de novas cepas. Por este motivo, é de extrema importância conhecer a epidemiologia da doença em cada região, para poder alcançar protocolos vacinais mais precisos e eficazes, evitando excessos ou falhas.
A vacina pode ser administrada em aves de todas as idades, mas comumente é recomendada a vacinação de pintinhos logo após a eclosão ou ao chegar na granja. As suas vias de administração podem ser por nebulização ou gota ocular. Já as aves em período reprodutivo devem ser revacinadas sempre que possível durante a fase de produção de ovos, uma vez que a vacinação protege o oviduto e assegura uma produção e ovos sem alterações. Nessas aves, a vacina utilizada deve ser na forma inativa e administrada por via intramuscular no peito da ave (MARTINS et al., 2015; JACKWOOD e WIT, 2020).
Diante deste cenário, para um bom controle da infecção por bronquite infecciosa aviária, a granja precisa estar bem alinhada às normas de biosseguridade e realizar vistorias periódicas, além de adotar um bom programa vacinal.
Referências bibliográficas sob consulta junto ao autor.