biosseguridade com ênfase no cascudinho Referências sob consulta da autora
Conceito e fundamento sobre biosseguridade com ênfase no cascudinho
Biosseguridade é um conjunto de medidas de profilaxia que objetiva prevenir ou controlar a entrada de patógenos de doenças em um estabelecimento de produção e, caso venha a ocorrer, que possibilite diagnóstico precoce a pronta atuação profilática (THRUSFIELD & CHRISTLEY, 2018).
Sendo medidas voltadas para a proteção de populações animais, são aplicadas nos diferentes componentes do ambiente, aspecto que difere da clínica e patologia.
Abaixo, tem-se a ilustração da sequência de atuação da biosseguridade em saúde animal. Assim,
Na Figura 1 está ilustrada a sequência de diagnóstico
Quando se pretende a prevenção ou o controle de determinada doença, é fundamental conhecer as características do agente etiológico, sua ecologia e as estratégias de transmissão.
CARACTERÍSTICAS DO CASCUDINHO:
Alphitobius diaperinus (Panzer, 1797) (Coleoptera: Tenebrionidae), pertence ao Filo Artrópode, Classe Insecta, Ordem Coleóptera e Família Tenebrionidae, popularmente conhecido como cascudinho ou “lesser mealworm”.
Originário da África, apresenta distribuição geográfica cosmopolita, considerado uma praga dos grãos armazenados que se adaptou nos galpões de aves e de difícil controle a despeitos de se dispor de métodos físicos e químicos.
Apresenta metamorfose completa (Holometábolos), pois os jovens diferem radicalmente dos adultos quanto à morfologia geral, hábitos alimentares e tipo de vida. Há vários estágios: ovo, larva, pupa e adulto (imago).
O ciclo de vida se completa em 55 dias a temperatura de 27°C, adultos podem sobreviver até aproximadamente 400 dias e cada fêmea produz cerca de 2.000 ovos durante a vida (SILVA, 2005).
É lícito estimar que, durante o tempo de alojamento de frangos de corte, uma fêmea de cascudinho produz 30 ovos e admitindo uma infestação de 1.000 cascudinhos, o total de larvas produzidas é de aproximadamente 30.000. Assim, a população durante 1 alojamento aumenta em progressão geométrica.
Hábitos alimentares: preferência por carcaças, fezes e ração das aves. Adultos são frequentemente observados na superfície da cama de aviários em razão da disponibilidade de alimentos como ração, aves mortas ou moribundas, fezes e umidade, que favorecem sua reprodução (JAPP, 2010).
Flutuação da população de cascudinhos: sucessivos alojamentos com retirada de cama ou não, larvas migram para tuneis subterrâneos e os adultos para frestas, tuneis nas paredes, etc. A reutilização da cama favorece aumento gradativo da população a cada lote de aves (ARENDS, 1987; GEDEN, 1989) e requer controle adequado.
Locais preferenciais dos cascudinhos: em galpões de piso de cimento a presença é mais significativa sob os comedouros (faixa de 30º C). Em aviários de terra, sua distribuição é mais uniforme e sem relação com a temperatura. De modo geral, o cascudinho se desenvolve melhor em piso de terra batida comparativamente ao piso de concreto (UEMURA et al., 2008).
PREJUÍZOS À SAÚDE DAS AVES:
Ação direta na saúde das aves: larvas causam lesões na pele e tecidos da ave ocasionando hemorragia, anemia, infecções secundárias, estresse e morte (CHERNIAKI-LEFEER et el., 2006). Larvas e adultos causam obstrução intestinal porque as aves não digerem a quitina pela ausência de quitinase (ELOWNI & ELBIHARI 1979) e podem levar a eventual lesão ao longo da mucosa intestinal.
Ação indireta na saúde das aves: atuam como vias de transmissão (vetor mecânico) de coccidias, bacterias (E. coli, Salmonella spp. Bacillus, Streptococcus sp), vírus (leucose, Marek, Newcastle, Reovirus, Rotavirus, Enterovirus), parasitas (Hymenolepis carioca, H. cantiana, Choanotaenia infundibulum, Raillietina cesticillus), etc. (PAIVA, 2000).
Comprometimento da saúde humana: podem causar asma, cefaleia, dermatites, angioderma alérgica, rinite, eritema e formação de pápulas, conjuntivites e úlcera de córnea (SCHROECKENSTEIN et al., 1988).
PREJUÍZOS ECONÔMICOS:
Em relação a produtividade das aves, podem ocorrer perdas de desempenho devido as doenças que transmitem e em razão das aves adultas ingerirem o cascudinho, desprezando a ração (GOODWIN & WALTMAN, 1996; KHAN et al., 1998).
Os cascudinhos também causam danos à estrutura das instalações, pois as pupas mastigam e perfuram materiais como pilares de madeira, isopor, fibras de vidro e painéis de isolamento de poliestireno comprometendo sistema de aquecimento e elevando os custos com reparo das instalações em aproximadamente 67% comparando com instalações sem cascudinhos (GEDEN & HOGSETTE, 1994).
CONTROLE:
Pelo fato de o cascudinho ser uma praga na avicultura, a busca por meios eficazes e eficientes de controle tem sido incessante, razão pela qual, estudos sobre comportamento e resistência do besouro são importantes para se alcançar uma adequada estratégia de controle.
O controle do cascudinho está vinculado ao uso de inseticidas (piretróides e organofosforados) e é crescente o número de relatos de resistência a estes compostos (TOMBERLIN et al., 2008; GAZONI, 2012)
Produtos naturais obtidos de plantas tem se destacado como inseticidas, principalmente aquelas que possuem substâncias com propriedades larvicidas e adulticidas (NATHANSON, 1984).
Dentre os inseticidas naturais, mencione-se 1,3,7 trimetilxantina (cafeína), alcalóide lipossolúvel extraída do café (Coffea arábica) e integrante da classe dos compostos conhecidos como metilxantinas.
Metilxantinas são alcalóides purínicos encontradas em várias fontes vegetais como o guaraná, café, chá-preto, erva-mate, cacau e noz de cola. Apresentam elevada importância na indústria alimentícia e farmacêutica, sendo a cafeína (1,3,7 trimetilxantina), teofilina (1,3 trimetilxantina) e teobromina (3,7 dimetilxantina) as mais numerosas neste grupo (ARAGÃO et al., 2009).
Na larva, a MTX atua inibindo a esterase (hormônio juvenil) alterando sua expressão gênica responsável pelo desenvolvimento larvar, pela atuação nos ovários, corpo gorduroso e intestino. Assim sendo, a cafeína reduz a população de larvas do cascudinho.
No adulto, a MTX causa imobilidade motora por supressão da dopamina (neurotransmissor envolvido no controle da motilidade). Portanto, a cafeína reduz a população de adultos do cascudinho.
O efeito inseticida deve-se, primariamente, à inibição da atividade da fosfodiesterase e pelo aumento intracelular da adenosina monofosfato cíclico (AMP cíclico) interferindo no desenvolvimento larvar e, em concentração maior, eliminando formas adultas.
Esterases são enzimas presentes em todos os organismos desempenhando múltiplos papéis como envolvimento em vários processos fisiológicos, incluindo a atividade neuronal (HAREL et al., 2000) no metabolismo do hormônio juvenil de insetos (GU & ZERA, 1994).
Na atividade neuronal, a acetilcolina é liberada na fenda sináptica, liga-se a receptores transmembrana e gera a transmissão de sinal, posteriormente, a acetilcolinesterase hidrolisa a acetilcolina, cessando o estímulo (POHANKA, 2012).
NISHI et al (2010) confirmam os dados da literatura que mostram que a cafeína inibe o padrão de expressão gênica das esterases.
A MTX causa imobilidade motora pelo aumento da atividade do receptor da dopamina por se tratar de um antagonista de receptores da adenosina, agindo por supressão da dopamina e não por ser um neurotransmissor envolvido no controle motor em vertebrado.
Atua de forma dose dependente (isto é, quanto maior a dose, maior e mais precoce é o efeito), sendo que a concentração de 1 mg/mL de água é letal para as larvas.
A METILXANTINA revelou ser potencialmente eficaz no controle do coleóptero adulto de Tribolium castaneum na forma de fumigação, repelente e ação por contato e que a duração do tratamento apresenta importância significante no controle desta praga. A inibição de certas enzimas como carboxilesterase apresenta papel fundamental na toxicidade como inseticida para adultos.
Para potencializar o efeito de inseticidas, é importante a adoção de medidas gerais para mitigar a ocorrência de cascudinhos, tornando o habitat impróprio para a sua proliferação, tais como:
Vale ressaltar que estes insetos voam cerca de 1.500 metros, então é importante adotar um manejo sanitário de controle não apenas nos intervalos entre lotes (PREVIATO, 2009), mas sim, complementar com medidas de controle com inseticidas não tóxicos durante o alojamento.
CONCLUSÃO
A adoção de medidas gerais e inseticidas durante o vazio sanitário têm contribuído para a limitação da população de cascudinhos, porém, não aos níveis desejados.
Considerando que o aumento da população ocorre durante a fase de alojamento em progressão geométrica (1 fêmea:30 larvas/dia; 100 fêmeas:3.000 larvas; 1.000 fêmeas:30.000 larvas/dia), é recomendável complementar com a aplicação de inseticidas durante a fase de alojamento desde que não sejam tóxicos nem para as aves e nem para o homem.
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