Criação de aves poedeiras em sistemas alternativos
Muito temos visto nas redes sociais publicações, nem sempre confiáveis, sobre criações de galinhas fora de gaiolas, denominadas genericamente de caipiras, responsáveis pela produção dos mais diferentes tipos de ovos como, saudáveis, orgânicos, agroecológicos, ovo feliz, etc., porém, deve-se ressaltar que importante é o processo e não o produto em si.
Pouco importa a cor da casca, dependente da raça ou linhagem do plantel. Deve-se levar em conta que, em geral, o consumidor prefere adquirir ovos com casca castanha, por relacionar esta característica com a produção “caipira”.
Países grandes consumidores de ovos vêm proibindo a produção de ovos partindo de aves presas em gaiolas. Na Nova Zelândia, país com grande consumo, diante de tal proibição, com prazo final dado até o fim de 2022, as pessoas passaram a adquirir suas próprias galinhas para garantir o próprio suprimento.
O Brasil é o quinto maior produtor de ovos do planeta, tendo aumentado substancialmente nos últimos 20 anos. Os números dão conta de que são produzidos no país cerca de 1.800 ovos por segundo. Além disso, o consumo nacional hoje é superior a duas dúzias de ovos por habitante, incluindo os utilizados na indústria de massas e confeitarias. Há espaço para esses números continuarem crescendo, pois o consumo ainda está bem abaixo do alcançado em outros países. Isso abre a possibilidade de acréscimo nas exportações, que só em 2023, de janeiro a agosto, já apresentou volume 381% maior do que o mesmo período no ano anterior. Estando aí incluídos material genético, ovos in natura e processados.
Ao mesmo tempo em que se procuram as qualidades de produtos “caipiras”, é importante ressaltar que sejam aproveitados os avanços obtidos após muitos anos de pesquisas, especialmente nos últimos 60 anos, quando foram conseguidos avanços significativos em genética, nutrição e manejo de aves.
Em vista disso e diante da observação que, em grande parte das propriedades rurais, sítios, chácaras, etc. (se não em todas), podem ser encontradas aves criadas à solta, em geral, ao redor da casa, que, na pior das hipóteses, contribuem para melhorar a alimentação das famílias e, mesmo, para melhorar a renda familiar, por meio de trocas e vendas dos excedentes de produção.
O grande inconveniente deste tipo de criação extensiva é que grande parte das galinhas, além de habitar o interior das residências, vai preferir botar ovos em locais escondidos como tocas e moitas de capim, o que causa a perda de boa parte da produção.
Sendo assim, por que não aproveitar esta vocação e obter renda suplementar com essas aves, simplesmente restringindo seu espaço e adotando a tecnologia disponível? Esta é uma excelente oportunidade para pequenos e médios produtores.
Porém, o que verificamos são consumidores comprando ovos como ditos “caipiras”, mas sem informações sobre o método de criação das aves e, além disso, comercializados sem chancela de inspeção sanitária.
Cabe afirmar que não basta a embalagem trazer em seu rótulo a informação de serem produtos genuinamente caipiras e mesmo orgânicos, para se considerar verdadeira. É perceptível uma grande comercialização de ovos “caipiras” atrelados à informalidade, sendo atrativo ao consumidor o aspecto do produto e sua apresentação comercial, além da associação à produção artesanal e oriunda de pequenos produtores. Em relação aos ovos caipiras, ainda não há estimativas oficiais sobre mercado, produção e consumo, sendo este um cenário novo e promissor, com uma tendência de crescimento pela alta na demanda deste produto.
Para um ovo ser considerado caipira, bem como no caso dos orgânicos, é necessário seguir alguns pré-requisitos de modo de criação das aves de postura. São eles:
- Galinhas de linhagens específicas com maior rusticidade e resistência às intempéries;
- Criação livre e solta em piquetes;
- A alimentação, deve incluir ração apropriada, desde que com acesso às áreas de pastejo, sempre tendo em conta o respeito ao bem-estar animal e à legislação sanitária avícola, e;
- Ninhos dispostos dentro de galpões e de livre acesso às aves.
Importante: Nem todo ovo caipira é orgânico, existindo, para este último, legislação específica e rígidos requisitos para certificação.
A produção de aves em sistemas semiextensivos, tem como principal exemplo a França, onde existe um selo que atesta a condição de natural de uma variada gama de produtos (Label Rouge – selo vermelho). No sistema francês, que já tem as raças especializadas para cada tipo de exploração, os ovos devem ser produzidos sob normas específicas, sendo as aves, também, criadas em condições de liberdade.
Outra informação incorreta é a de que as rações, produzidas por estabelecimentos registrados podem provocar quedas na produção pelo uso de “eventuais substitutos” na formulação. Não acredite em tudo o que lê. Procure um especialista.
Visando informar aos interessados, recomenda-se fortemente a criação em piquetes, formados com a gramínea predominante na região e a adoção de pastejo em rodízio, com um abrigo central dando acesso a quatro piquetes separados, onde permaneçam por 10 a 13 dias, sendo feita a transferência para o próximo pasto, deixando o anterior em repouso para recuperação, por cerca de 30 a 39 dias, dependendo das condições climáticas. Sempre garantindo espaço mínimo de 9 m²/ave, com a correta distribuição de bebedouros e comedouros, além do necessário sombreamento, com árvores localizadas no centro do piquete.
A atual ameaça da Influenza Aviária levou o Ministério da Agricultura a proibir, por tempo indeterminado (Portaria 587/2023), a soltura de aves, a menos que se tenha a condição de cobrir os piquetes com tela protetora, prevenindo contra o acesso de aves silvestres, até então principais vetores da enfermidade.
Mesmo assim, valem a ideia e os conceitos.