Desafios Climáticos, Geopolíticos e Tendências no Mercado de Grãos são debatidos no Congresso de Ovos da APA
Desafios Climáticos, Geopolíticos e Tendências no Mercado de Grãos são debatidos no Congresso de Ovos da APA
Maurício Nacif, que é diretor da Agroceres Multimix, trouxe uma análise aprofundada sobre o mercado de grãos, destacando os desafios e as tendências que impactam a produção e a comercialização de soja, milho e biodiesel.
No primeiro dia do XXII Congresso APA de Produção e Comercialização de Ovos 2025, Maurício Nacif, que é diretor da Agroceres Multimix, trouxe uma análise aprofundada sobre o mercado de grãos, destacando os desafios e as tendências que impactam a produção e a comercialização de soja, milho e biodiesel.
- Com mais de 36 anos de experiência no setor agrícola, Nacif abordou temas complexos e fundamentais para entender a dinâmica do mercado global e os impactos para o Brasil. Iniciando sua palestra, ele fez uma retrospectiva do mercado de grãos, contrastando o cenário atual com as previsões simples de mercado dos anos anteriores, onde uma boa safra significava preços baixos e uma safra ruim resultava em preços altos.
“O mercado de grãos no Brasil, especialmente soja e milho, está muito mais influenciado por fatores externos, como a guerra da Ucrânia, e pelo impacto das políticas energéticas, como o biodiesel”, afirmou Nacif, destacando que o cenário atual é muito mais volátil e interconectado com fatores externos, como a geopolítica global e o mercado de combustíveis.
O diretor da Agroceres Multimix dedicou uma parte significativa de sua palestra ao mercado de soja, cuja produção tem se tornado cada vez mais relevante no cenário global. O Brasil, juntamente com a Argentina e o Paraguai, é responsável por cerca de 60% da produção mundial de soja, com o Brasil liderando a oferta do grão para mercados como a China.

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A guerra da Ucrânia, que afetou significativamente a produção de milho, também alterou o fluxo de exportação de grãos no mercado global. A Ucrânia, que antes era o segundo maior exportador de milho do mundo, viu sua produção ser drasticamente reduzida, afetando os preços globais e alterando as dinâmicas comerciais.
Outro aspecto destacado pelo palestrante foi a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, onde a decisão de Trump de sobretaxar produtos chineses levou à mudança nos custos da soja americana, tornando-a mais cara e, consequentemente, beneficiando a soja brasileira.
“A soja brasileira se tornou ainda mais competitiva devido às tarifas impostas pela administração Trump, o que abriu mais espaço para as exportações do Brasil”, destacou Nacif.
Biodiesel e o Papel da Soja no Setor
A produção de biodiesel também foi um ponto-chave na apresentação de Nacif. O Brasil, que já é um grande produtor de soja, também é responsável por 75% a 80% do biodiesel produzido no país, segundo ele.
A crescente demanda por biocombustíveis, especialmente a política de “B40” (40% de biodiesel no diesel) que está sendo considerada em países como Indonésia, está impulsionando a demanda da soja e a oferta do farelo. No Brasil, a produção de biodiesel, que utiliza principalmente o óleo de soja, tem um impacto direto sobre a dinâmica do mercado de soja.
Nacif também destacou a nova regulamentação no Brasil, que, se adotada, aumentará significativamente a demanda por biodiesel, gerando uma pressão adicional sobre o mercado de soja. Ele explicou que, se o mercado de biodiesel continuar em crescimento, isso afetará diretamente a oferta do grão e, por consequência, os preços de soja e farelo de soja.
Desafios Climáticos
Além das questões geopolíticas e de mercado, Nacif trouxe à tona o impacto crescente das condições climáticas no setor agrícola. A produção de grãos no Brasil, especialmente soja e milho, tem sido cada vez mais afetada pelas oscilações climáticas.

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A seca severa que atingiu o Rio Grande do Sul e a Argentina no início de 2024 impactou negativamente a produtividade de soja e milho, com a Argentina enfrentando perdas significativas de produtividade. A seca de janeiro e fevereiro de 2025 prejudicou gravemente a produção da Argentina e causou perda de produtividade da soja no Rio Grande do Sul. Embora o Brasil tenha registrado uma boa safra, o clima continua sendo uma variável imprevisível”, destacou Nacif.
O clima afeta diretamente as previsões de safra e o rendimento das lavouras. Nacif apontou que, embora a previsão de safra brasileira para soja seja de 169 milhões de toneladas, a variação nas condições climáticas pode alterar essa estimativa.
Para o milho, a previsão norte americana é de uma safra recorde de 396 milhões de toneladas, mas isso também depende de uma distribuição regular de chuvas nos próximos meses.
Logística e Infraestrutura
A questão da infraestrutura também foi abordada por Nacif, que destacou o déficit de capacidade de armazenamento no Brasil. “O Brasil produz mais do que consegue armazenar, o que gera ineficiência no mercado e aumenta a pressão sobre os preços durante períodos de colheita e venda”, disse.
A falta de investimentos em infraestrutura logística, agravado pelas altas taxas de juros, dificulta o avanço da capacidade de armazenagem e o escoamento eficiente da produção.

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A expectativa para o futuro do mercado de grãos, segundo Nacif, é positiva, mas cheia de incertezas. “A demanda por soja, milho e biodiesel deve continuar crescendo, mas os desafios climáticos e a instabilidade geopolítica exigem uma constante adaptação do setor”, concluiu.
Maurício Nacif encerrou sua palestra com uma mensagem clara sobre a importância de estar preparado para um mercado global cada vez mais dinâmico e interconectado, onde os desafios podem ser grandes, mas as oportunidades também são imensas para quem souber se adaptar às novas realidades.