As bactérias do gênero Salmonella, podem infectar seres humanos e animais de sangue quente e frio. Algumas são hospedeiro-específicas, como as que causam o tifo aviário e a pulorose. Contudo, a maioria não tem hospedeiro-específico e podem causar infecção alimentar em seres humanos, sendo os alimentos de origem animal a principal fonte.
Mas, ainda há bastante confusão no mercado que envolve os conceitos, causas e consequências relacionados às salmoneloses aviárias. Este conteúdo vem, então, para clarear as principais diferenças entre a pulorose, o tifo aviário e o paratifo aviário. Convidamos o especialista em salmonelas Dr. Angelo Berchieri Junior para trazer informações extremamente relevantes e nos ajudar a compor o infográfico a seguir.
Ele é professor titular em Ornitopatologia no Departamento de Patologia, Reprodução e Saúde Única da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Jaboticabal. Antes, vale a pena explicar um pouco mais sobre as espécies de bactérias.
Gênero Salmonella
O gênero Salmonella, com mais de 2600 sorotipos, é composto de duas espécies: S. bongori, que contém poucos sorotipos e S. enterica composta de 6 subespécies, entre as quais, subespécie enterica, que contém a maioria dos sorotipos de interesse em saúde animal e saúde pública, incluindo os sorovares de Salmonella Gallinarum (biovares Gallinarum e Pullorum), com impacto na saúde animal — além de Enteritidis, Typhimurium, Heidelberg, Mbandaka, Infantis, Agona, Senftenberg, etc., que trazem risco à saúde pública.
Na avicultura, as aves podem apresentar três quadros relacionados às salmonelas:
1ª) Pulorose: causada pela Salmonella enterica subespécie enterica sorovar Gallinarum biovar Pullorum.
2ª) Tifo aviário: causada pela Salmonella enterica subespécie enterica sorovar Gallinarum biovar Gallinarum.
3ª) Paratifo aviário: infecção causada por outros sorovares, que podem ou não provocar enfermidade nas aves.
Confira no infográfico as principais diferenças:
A importância de prevenir as salmoneloses
O tifo aviário e a pulorose são enfermidades que podem trazer grandes prejuízos aos avicultores. Enquanto a primeira é mais comum em aves adultas, com alta taxa de mortalidade, a segunda é mais frequente em aves nas primeiras semanas de vida, tanto que também recebe o nome de septicemia fatal dos pintinhos.
São doenças que podem ser devastadoras para os negócios. Para o tifo aviário, o tratamento com antibióticos reduz temporariamente a mortalidade, mas não elimina a bactéria do lote. Além de não resolver o problema, o uso de antibióticos pode intoxicar as aves e dificultar a realização de exames microbiológicos para isolamento da bactéria.
Tanto para o tifo aviário quanto para a pulorose, não se recomenda o tratamento para lotes de reprodutoras: o Plano Nacional de Sanidade Aviária (PNSA) preconiza a eliminação dos plantéis de aves reprodutoras portadores de Salmonella Gallinarum ou Salmonella Pullorum.
Estratégias de controle das salmoneloses aviárias
A estratégia de controle das salmoneloses aviárias baseia-se em investir em biossegurança. O manejo sanitário é o principal meio de prevenção de enfermidades infecciosas. Inicialmente, é preciso respeitar o PNSA. Conhecer a epidemiologia é outro aspecto essencial. Assim, para prevenir a pulorose é primordial evitar a infecção de aves reprodutoras.
Já para prevenir o tifo aviário a conduta é outra. A maior preocupação é com focos da enfermidade na região e os mecanismos de disseminação como, por exemplo, carcaças de animais mortos, seres humanos e veículos.
Quanto ao paratifo aviário, a situação é mais complexa. Depara-se com diversos meios de introdução dessas salmonelas em granjas, sendo a via vertical a mais preocupante, seguida de ração e seus componentes. Por serem excretadas nas fezes, disseminam-se facilmente no meio ambiente, tornando difícil seu controle.
O manejo sanitário feito com rigor consegue minimizar a introdução e a disseminação de salmonelas em planteis avícolas. Medidas adicionais podem ser adotadas para complementá-lo. Incluem-se aqui:
- oferecimento de produtos acidificantes da ração e da água de bebida;
- produtos que promovam a instalação e multiplicação de uma microbiota saudável que auxilie na manutenção e saúde do trato gastrointestinal, no início da vida ou após terapias antimicrobianas por períodos prolongados.
Granjas de aves vida longa para postura de ovos de mesa, encontram-se em regiões com alta densidade de aves de várias linhagens, idades e manejo sanitário. Nessas condições, programas vacinais contribuem para a redução do agente do tifo aviário ou de algumas salmonelas paratíficas. Assim sendo, face ao sistema de criação intensivo, com alta densidade e por longo período e, pelo fato de não se saber quando ocorrerá a infecção das aves, a vacinação pode ser considerada uma boa estratégia.