Nutrição Animal
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Saber precisamente o valor nutritivo relativo da DL-Metionina (DLM) em comparação com o hidróxido análogo de metionina (MHA-FA líquido e o sal MHA-Ca) é um pré-requisito fundamental para que a compra de ingredientes, a formulação de rações e a produção animal sejam eficientes.
Devido a importância do tema, inúmeras pesquisas tem sido realizadas para investigar a biodisponibilidade relativa de fontes de suplementação de metionina em rações para aves, dentre outras espécies.
Esses estudos relatam repetidamente que 65 unidades de DLM promovem desempenho comparável a 100 unidades de MHA-FA, resultando em uma biodisponibilidade relativa de 65% de MHA-FA em relação a DLM.
Metionina
A DLM e o MHA são frequentemente usados como aditivos nutricionais nas rações para o correto balanceamento dos níveis de metionina, bem como dos aminoácidos sulfurados. A formulação de precisão com base em proteína ideal, ou seja, buscandose o perfeito balanceamento aminoacídico, aumenta ainda mais a contribuição relativa das fontes sintéticas de metionina na dieta.
Biodisponibilidade
A biodisponibilidade ou valor biológico relativo (VBR) é um valor que compara o potencial nutricional ou a eficiência de um nutriente em relação a um determinado padrão de nutriente (LEMME et al., 2012).
Segundo Sakomura e Rostagno (2016), o ensaio de dose-resposta é o método tradicionalmente utilizado para definir as exigências de aminoácidos em monogástricos. Este método avalia as respostas do animal a níveis crescentes de consumo de um determinado nutriente.
A adição de um nutriente limitante na ração, mantendo os demais níveis de outros nutrientes adequados, promove o crescimento do animal até a exigência ser atendida (Euclydes e Rostagno, 2001). O desempenho é comparado sob diferentes níveis de suplementação do nutriente e os resultados são geralmente extrapolados para as condições de campo.
Estudos recentes
Em 2018, a EFSA (Autoridade Europeia para Segurança Alimentar) realizou uma metanálise de 46 estudos de dose-resposta publicados em 27 revistas científicas (Sauer et al., 2008) e concluiu que o HMTBa e seus sais têm menor biodisponibilidade que a DLM em frangos de corte. A metanálise mostrou que a bioeficácia do HMTBa foi em média de 71% e 69% em relação à DLM em base produto para ganho de peso diário (GPD) e conversão alimentar, respectivamente. |
O Painel FEEDAP (Panel on Additives and Products or Substances used in Animal Feed) do EFSA, concluiu, com base em evidências, que o HMTBa tende a ser menos bioeficaz que a DLM em todas as espécies não ruminantes.
As principais razões dessa baixa bioeficácia são:
O fato de a microbiota do intestino delgado competir mais com o hospedeiro quando se usa HMTBa do que quando se usa DLM (Drew et al., 2003; Malik et al., 2009);
O HMTBa comercial e seus sais podem conter quantidades significativas de dímeros, trímeros e oligômeros, que podem ter menor bioeficácia dependendo do processo de produção, além do ácido/sal livres (Boebel and Baker,1982; Saunderson, 1991; Van Weerden et al., 1992; Liu et al., 2004; Hoehler et al., 2005; Zimmerman et al., 2005; Dilger and Baker, 2008; Elwert et al., 2008; Shoveller et al., 2010; Opapeju et al., 2012; Zelenka et al., 2013; Sangali et al., 2014).
Levando em conta que os produtos comerciais de MHA contêm 12% de água (MHA-FA) e 14% de cálcio (MHA-Ca), a bioeficácia destes produtos em comparação à DLM, de acordo com a EFSA, são:
70% para o MHA-FA líquido (vs. Evonik 65% e Adisseo 88%) e
67% para o MHA-Ca em pó (vs. Evonik 62% e Adisseo 84%).
Uma maneira prática de avaliar a bioeficácia relativa do MHA-FA em relação à DLM em larga escala é utilizar a dieta comercial como controle positivo (MHA para atingir os níveis de M+C desejados) e compará-la a uma dieta com DLM a 65% do volume total de MHA adicionado à dieta controle positivo e verificar se houve alteração do desempenho.
Em 2018 foi realizado este experimento em uma integração no Brasil e dos dados foram publicados em outubro de 2022 no PSA em Foz de Iguaçu, Medeiros et al., 2022 conforme o resumo do experimento a seguir:
Validação comercial em larga escala da substituição do MHA por DLM na proporção 100:65 em frangos produzidos em condições brasileiras
A densidade das aves entre os aviários variaram entre 10 a 12 frangos/m2.
Os frangos foram alimentados com o programa comercial de alimentação composto por 4 fases:
Ração inicial (24% CP e 3.020 kcal/kg AMEn),
Crescimento 1 (21% CP e 3.100 kcal/kg AMEn),
Crescimento 2 (18% CP e 3.130 kcal/kg AMEn) e
Retirada (18% CP e 3.150 kcal/kg AMEn).
Cada fase de alimentação compreendeu 2 tratamentos dietéticos, incluindo
Os níveis de inclusão do MHA-FA foram: 0,44, 0,34, 0,27 e 0,27% e para DLM foram: 0,29, 0,22, 0,18 e 0,18% para cada fase de alimentação, respectivamente.
A dieta MHA-FA100 foi oferecida a 5 aviários (total = 128.000 frangos de corte) e a dieta DLM65 para 4 aviários (89.000 frangos). Cada aviário foi considerado uma unidade experimental.
A mortalidade total entre os aviários variou de 4 a 6% com média de 5,0% para o MHA-FA100 e 5,1% para DLM65 (P = 0,36).
No geral, os frangos alimentados com as dietas MHA-FA100 e as dietas DLM65 apresentaram GPD semelhante (60,99 vs. 61,38 g/d; P = 0,35), CA (1,78 vs. 1,76 g/g; P = 0,68) e CA ajustada para 2,9 kg peso (1,83 vs. 1,83 g/g; P = 0,52). Da mesma forma, o fator de eficiência da produção não foi afetado (P =0,33) por tratamentos com média de 325 para MHA-FA100 e 331 para DLM65.
Medeiros, et. al. (2022). Large commercial validation of the replacement of DL-methionine hydroxy analogue with DL-methionine at 100:65 ratio in broilers produced under Brazilian conditions. Poultry Science Latin America, Foz do Iguaçu/Brazil.
Esses resultados demonstram que 100 partes do MHA-FA podem ser substituídas por 65 partes de DLM sem afetar a performance das aves em condições comerciais em larga escala. |