Ícone do site aviNews Brasil, informações avicultura

Enfermidades Frequentes em Reprodutoras Pesadas ao redor do mundo (Parte I)

Escrito por: Nick Dorko
PDF
enfermidades frequentes reprodutoras pesadas

As enfermidades avícolas observadas ao redor do mundo mudam constantemente nos diferentes continentes, países e regiões. Muitas delas dependem das condições de biosseguridade, dos programas de vacinação, presença de aves migratórias e movimentos globais de pessoas, entre outros muitos fatores.

Esta é a primeira parte de uma série de dois artigos, onde será feito um breve resumo das enfermidades encontradas com maior frequência por veterinários, produtores e o próprio autor nas reprodutoras pesadas em lotes de várias regiões produtoras de frango de corte do mundo.

Mycoplasma synoviae (MS)

Esta enfermidade esteve presente, de forma persistente, mas nos últimos 5 anos parece ter se convertido em um problema de maior envergadura.

Muitas vezes se apresenta como uma infecção silenciosa, na qual os lotes de reprodutoras podem seroconverter (aparecer positivas em testes sorológicos) em MS sem apresentar sinais da doença, nem observar-se impacto negativo sobre seu rendimento (que pode ser algo difícil de medir).

Há algumas razões possíveis que poderiam explicar a reemergência do MS:

Em primeira instância, parece haver mais cepas patógenas de MS que no passado. Estas cepas podem provocar.
Os típicos problemas de sinovite (inflamações articulares e plantares) nos frangos provenientes de reprodutoras infectadas.

Problemas respiratórios secundários (especialmente em broilers).

Figura 1. Um exemplo de anomalias do vértice do ovo (Eggshell Apex Abnormalities – EAA), ou a conicidade do vértice (Top Coning) associadas a MS.

Um efeito relativamente novo observado nos ovos, conhecido como anomalias do vértice do ovo (do inglês, Eggshell Apex Abnormalities – EAA), ou a conicidade do vértice (Top Coning), que ocorre com maior frequência em poedeiras comerciais, mas também se tem visto em reprodutoras pesadas (Figura 1).

Outra possível razão são as reduções no uso de antibióticos para controlar infecções causadas por Mycoplasma. Isto se deve ao aumento no número de empresas que iniciaram programas livres de antibióticos, ou programas para minimizar o uso dos mesmos. Ou como consequência de sua proibição em alguns países. Como resultado, houve maior número de lotes de reprodutoras serologicamente positivas a MS.
Outro fator é a introdução das vacinas vivas de Mycoplasma gallisepticum (MG). Inicialmente, poucas vacinas vivas de MG que foram introduzidas ao redor do mundo deram bons resultados. As empresas que começaram a usar estas vacinas deixaram de usar antibióticos continuamente no alimento para o controle de Mycoplasma. Isto também parece ter permitido uma ressurgência e propagação do MS. Recentemente e devido a surtos, algumas empresas produtoras de frangos começaram a usar vacinas de MS em combinação com vacinas de MG em suas reprodutoras.
A última razão poderia ser que as empresas produtoras melhoraram seus programas de biosseguridade e realizam testes de detecção de MS com maior frequência, à medida também que os mesmos são cada vez mais baratos. Vale a pena destacar que boas práticas de manejo, biosseguridade e a obtenção de reprodutoras livres de MS é essencial para evitar esta enfermidade.

Coccidiose

Esta doença é observada com maior frequência devido às práticas inadequadas de manejo que acompanham o uso de vacinas vivas de coccidiose. Tudo começa com uma vacinação adequada na planta de incubação (mais comum) ou no campo. A vacina deve ser manejada corretamente (por exemplo, a vacina não deve ser congelada) e administrada de forma adequada. Lembremos que durante a preparação da vacina os oocistos podem se precipitar rapidamente na solução se não houver agitação suave e contínua.

Uma vez que as vacinas são aplicadas corretamente, deve-se ter condições adequadas na granja para permitir a esporulação dos oocistos, promover sua reciclagem entre as aves e sua distribuição ao longo do galpão. Este processo pode não ocorrer por várias razões tais como cama muito seca, ou úmida, densidade de animais muito alta, ou baixa, administração de produtos anticoccidiósicos etc. Se algum destes eventos ocorre, as aves terão uma reação severa, provocando problemas de coccidiose em pouco tempo (normalmente aos 14-30 dias de vida) ou, se não são expostas a oocistos vacinais suficientes e/ou sua reciclagem na cama, o resultado pode ser um surto de coccidiose semanas mais tarde (6-20 semanas de vida).
A imunossupressão severa, por exemplo, se as aves padeceram a Doença de Marek, ou a Anemia Infecciosa Aviária, é outra causa comum que pode desencadear surtos de coccidiose, inclusive em aves vacinadas.
A tenosinovite bacteriana (infecção nas articulações das pernas, como as causadas pro estafilococos), são observadas muitas vezes como resultado de uma reação severa das vacinas vivas de coccidiose.

Vírus da Doença de Newcastle Velogenica & Viscerotrópica (VVND)

Esta forma exótica do vírus da Doença de Newcastle foi detectada em muitas regiões do mundo. Em áreas onde o vírus é endêmico, as aves devem ser vacinadas para proteção contra a morbidade e queda da postura, associadas à enfermidade.

Em aves não vacinadas e expostas a estes vírus, a morbidade e mortalidade podem chegar a 90-100%, similar a surtos de influenza aviária altamente patógena (do inglês, highly pathogenic avian influenza, ou HPAI).

Normalmente os programas de vacinação incluem combinações de vacinas vivas e inativadas para conseguir altos valores de proteção. Vacinas de baixa qualidade, práticas deficientes de vacinação e/ou administração de quantidade insuficiente de vacinas, podem resultar em níveis de anticorpos incapazes de proteger as aves contra a morbidade, mortalidade e queda da postura.

Se as aves não estão suficientemente protegidas, é comum uma ligeira queda da postura (5 – 15%) e leve aumento da mortalidade (0,5 – 1%).

Entre os sinais típicos da doença observa-se:

Figura 2. Torcicolo (pescoço torcido)
devido a VVND.

Torcicolo (pescoço torcido, especialmente durante a recria – Figura 2)

Hemorragias Petequiais na traqueia, proventrículo, intestinos, amígdalas cecais e algumas vezes, o cérebro.

Aumento súbito nos valores de vírus da Doença de Newcastle.

Também podem ser observadas alterações na qualidade da casca, com afinamento e cor esbranquiçada (notório nos ovos marrons) geralmente depois da queda da postura.

Histomoníase (Doença da cabeça negra)

Esta doença se apresentava apenas nos Estados Unidos, porém, recentemente, vem causando problemas em vários países da União Europeia e em algumas partes da Ásia e América Latina.

A razão pela qual esta enfermidade se tornou um problema é que, na maioria dos locais, todos os produtos terapêuticos, ou preventivos, foram oficialmente retirados do mercado.

Nos Estados Unidos a maioria dos galpões têm piso de terra e, muitas vezes, reutiliza-se a cama, o que torna difícil conseguir uma limpeza e desinfecção completas para controlar os portadores do protozoário Histomonas meleagridis, que é o causador da doença (Figura 3).

Figura 3. Exemplo de infecção por Histomonas, observando-se lesões no fígado e cecos.

Os principais portadores das histomonas são os nemátodos cecais (Heterakis gallinarum) e algumas lombrigas da terra. Existem evidências de que os cascudinhos também são portadores deste patógeno. Também há a crença de que, inclusive, poderia existir transmissão direta entre as aves.

A melhor forma de prevenir, ou controlar a doença da cabeça negra é através de uma completa e eficaz limpeza e desinfecção dos galpões. Em alguns casos, recomenda-se aplicar sal no piso, ou tratamentos como o hipocloreto de sódio.

Também é importante limpar as caixas e gaiolas de transporte de pintainhas, já que elas podem ser contaminadas e ajudar na transmissão das histomonas durante o processamento.

A doença da cabeça negra foi vista em alguns galpões a partir dos 13 dias. Desta forma, os tratamentos iniciais e frequentes contra parasitas internos (nemátodos) é uma forma muito eficaz para controlar a enfermidade. Isto implica administrar tratamentos até 4-5 vezes antes do início da postura e o uso de mais de um produto antiparasitário. A administração de tratamentos durante mais de um dia também parece colaborar para que todas as aves recebam a dose efetiva do produto desparasitador.

PDF
PDF
Sair da versão mobile