Para suprir tamanha demanda no consumo de carne de frango, a produção se especializou com linhagens melhores, nutrição e manejo (TAVARES; RIBEIRO, 2007), visando não só o aumento da produção como também a saúde e o bem-estar dos animais.
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A indústria avícola no Brasil cresceu constantemente com o passar dos anos, mostrando resultados promissores de um setor que investe em tecnologia e inovação para, assim, obter resultados que caracterizam a produção no país; uma produção em larga escala com ciclo rápido, custos menores e qualidade para exportar para diversos países (Rodrigues et al., 2014).
O Brasil é um dos maiores exportadores de carne de frango no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos e China.
Segundo dados do Serviço de Inspeção Federal (SIF), no ano de 2020 foram abatidas no país mais de 5 bilhões de aves, sendo que 69% de toda esta produção fica para o mercado interno, para consumo da população (ABPA, 2021), demonstrando a importância desta proteína na alimentação dos brasileiros.
Para suprir tamanha demanda no consumo de carne de frango, a produção se especializou com linhagens melhores, nutrição e manejo (TAVARES; RIBEIRO, 2007), visando não só o aumento da produção como também a saúde e o bem-estar dos animais.
A criação das aves geralmente é feita de forma intensiva com alta densidade de animais, o que pode aumentar a ocorrência de doenças nos animais durante a produção e dentre essas doenças se destaca a colibacilose(GOMES; MARTINEZ, 2017).
A colibacilose é a causa número um de morbidade e mortalidade em frangos, resultando:
2,7% de piora em conversão alimentar,
20% em diminuição na produção de ovos e
Aumenta em 43% as condenações das carcaças em abatedouros (GUABIRABA et al., 2015), causando perdas milionárias na produção mundial (GHUNAIM et al., 2014).
Ferreira e colaboradores (2012) analisaram dados do Serviço de Inspeção Federal no Rio Grande do Sul e constataram que em 19,8% a colibacilose era o agente primário causador de condenação de carcaças no Brasil.
Esta doença é causada pela bactéria Escherichia coli patogênica para aves (APEC); é uma Escherichia coli (E. coli) classificada como extra intestinal (ExPEC) que causa diversas infecções, locais e sistêmicas, nas aves incluindo frangos, perus, patos e outras espécies de aves (MOULIN et al., 1999). |
As infecções mais comuns causadas por APEC encontradas em frangos são aerossaculites, celulites, salpingites, onfalites, peri-hepatites, osteomielites, artrites, entre outras (DZIVA et al., 2008; NAKAZATO, 2009).
A temperatura de crescimento ideal para as APEC é de 37ºC, podendo ter um bom crescimento no intervalo de 18ºC a 44ºC (ROCHA, 2017). Existem diferentes cepas de E. coli, que são divididas de acordo com os diferentes sinais clínicos e síndromes que causam, sendo essas:
enteropatogênicas (EPEC),
enteroinvasivas (EIEC),
enterotoxigênicas (ETEC),
meningite (NMEC),
enterohemorrágicas (EHEC),
difusamente aderente (DAEC),
uropatogênicas (UPEC) e
E. coli patogênica para aves (APEC).
Na colibacilose em frangos são visualizadas principalmente lesões extra intestinais, por isso é chamada de E. coli patogênicas extra intestinais (ExPEC) (Silva, 2015).
A APEC pode atuar como agente primário ou secundário nas infecções, afetando diferentes órgãos e causando diferentes quadros nas aves (GUASTALLI; SOARES, 2011).
Quando há infecções por vírus, por exemplo, como o da Bronquite Infecciosa ou Newcastle, ocorre à destruição das barreiras físicas do trato respiratório superior das aves, o que contribui para infecção por APEC de forma secundária. Amônia e poeira na produção também contribuem para esta infecção (ROCHA, 2017). |
A infecção nas aves geralmente ocorre pela comida e água contaminadas e pode ser espalhada para outras aves através de aerossóis, secreções ou por rota oro-fecal (GUABIRABA et al., 2015), podendo também ser transmitida verticalmente de matrizes aos ovos (DZIVA, 2008) e estes embriões nos ovos podem apresentar septicemia e crescimento deficiente, caso sobreviva, nos primeiros dias de vida da ave (SILVA, 2015).
As APEC permanecem no ambiente por grandes períodos, podendo ter como reservatórios os cascudinhos (Alphitobius diaperinus), roedores, animais silvestres e moscas (CAMARGOS, 2019), destacando-se a importância do controle de pragas, manejo e instalações minimamente estruturadas.
A mortalidade nos animais varia conforme fatores como:
Imunocompetência,
Idade,
Doenças concomitantes (ALMEID et al., 2016),
Fatores de virulência e patogenicidade (SAROWSKA et al., 2019).
Estes fatores de virulência são codificados por vários genes associados à virulência. Cepas de APEC são geneticamente heterogêneas e carregam uma diversa combinação destes genes associados à virulência, dentre eles adesinas (iha, tsh, fimC, papG, mat), toxinas e hemolisinas (vat, hlyA, stx, astA, sat), sistema de aquisição de ferro (iroN, chuA, ireA, iucD, iutA), resistência ao sistema imune (iss, ompA, traT, neuC, kpsMTII), entre outros (CUMMINS et al., 2019).
Não há classificação exata para afirmar quais genes de virulência específicos tem de estar presentes na E. coli para ser classificada como APEC, contudo, em um estudo de Johnson e colaboradores (2008) observouse que cinco genes (iss, iroN, iutA, hlyF e ompT) eram detectados em APEC com alta patogenicidade em aves, estabelecendo, assim, preditores mínimos para uma APEC, sendo seguido por diversos autores e estudos atuais.
Em experimentos feitos atualmente tem-se relatado a APEC como um potencial patógeno zoonótico de origem alimentar, como também fonte ou reservatório de infecções extra intestinais em humanos (LIU et al., 2018; TIVENDALE et al., 2010; MEENA et al., 2020; JORGESEN et al., 2019; ZHUGE et al., 2020) devido a similaridade genética existente entre plasmídeos de ExPEC humano (UPEC e NMEC) com plasmídeos ColV (pAPEC- 078-ColV, pAPEC-O2-ColV, pAPEC-O1, p1ColV5155), que são essenciais para APEC se adaptar às aves; também estão presentes em humanos (JORGESEN et al., 2019). |
Para evitar grandes perdas com doenças, um meio de reduzir os danos causados é a administração de antimicrobianos, porém, essa administração causa pressão seletiva na população bacteriana, levando a eliminação de cepas susceptíveis e a multiplicação exponencial de cepas resistentes com este genótipo (KLEIN; FRANZ, 2005).
Diversos países tem apresentado em seus estudos relatos de APEC multirresistentes a antimicrobianos (NEWMAN et al., 2021; JOHNSON et al., 2021; SUBEDI et al., 2018; VARGA et al., 2018; LI et al., 2007; DOU et al., 2016; CHANSIRIPORCHAI et al., 2011; SAIDI et al., 2013; AHMED et al., 2013; SOLÀ-GUINÉZ et al., 2015) e o Brasil não é exceção, mostrando alta resistência a sulfonamidas, tetraciclinas e quinolonas, que são os antimicrobianos mais utilizados nas granjas (BARBIERI et al., 2013; BRAGA et al., 2016; BEZERRA et al., 2016; CARDOSO et al., 2002; MARIETTO & ANDREATTI, 2010), fazendo pressão seletiva nas bactérias, selecionando as bactérias resistentes e que irão se multiplicar e se disseminar por mais lotes se não houver manejo e monitoramento correto.
O controle de infecções por APEC em frangos é usualmente feito através da administração de antimicrobianos, manejo do ambiente como fermentação da cama, controle de cascudinhos, vazio sanitário, juntamente com a vacinação das aves contra vírus e doenças imunossupressoras (CHRISTENSEN et al., 2022), porém, há novas alternativas como probióticos, prebióticos, ácidos orgânicos e extratos herbais, com objetivo de desenvolver tratamentos preventivos e terapêuticos eficazes para controlar APEC nas aves (WANG et al.,2017; WANG et al., 2016).
Referências bibliográficas sob consulta junto aos autores.