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Para ler mais conteúdo de Março 2018
A demanda de produtos avícolas e exigências crescentes por parte dos consumidores e organismos reguladores, unidas à ameaça iminente de doenças como a gripe aviária, requerem que as empresas avícolas invistam no estabelecimento e implementação de um programa efetivo de biossegurança.
A demanda por produtos avícolas continua crescendo mundialmente devido a sua popularidade, conveniência, valor nutritivo e preço razoável. De fato, o ovo de mesa e a carne de frango são produtos da cesta básica de alimentos em muitos países do mundo.
Ao mesmo tempo, a avicultura entrou em uma nova era em que enfrenta novos desafios estabelecidos por novas tendências comerciais, preferências dos consumidores, exigências regulatórias e a premente necessidade de melhorar a prevenção de doenças.
Igualmente, a pressão para eliminar e/ou reduzir o uso de antibióticos e proteger o bem-estar animal estão e continuarão induzindo melhorias gradativas nos maiores sistemas de produção em todo o mundo. Diante da ameaça de múltiplas doenças que podem ter um impacto econômico severo, os empresários e profissionais da indústria
avícola estão obrigados a dar prioridade à concepção e execução de programas de biossegurança que lhes permitirão garantir a rentabilidade e o futuro de suas empresas.
As análises de mercado recentes, inclusive nos países que sofreram surtos recentes de gripe aviária altamente patogênica, indicam que a demanda por produtos avícolas permanece sólida, rentável e que continua crescendo paralelamente com a população e seu poder de compra.
A pergunta então é se estes produtos serão produzidos por empresas nacionais, ou se as necessidades dos consumidores serão satisfeitas mediante a importação de produtos importados de países livres de Influenza Aviária e indústrias com melhores padrões de biossegurança.
Este trabalho é um resumo de conceitos e estratégias que servem para estabelecer e implementar um programa efetivo de biossegurança. Este resumo tem como objetivo apresentar uma perspectiva para desenvolver e manter uma cultura sólida e efetiva de biossegurança que ajudará a garantir a produtividade, competitividade e sustentabilidade das empresas produtoras de hoje e do futuro.
A biossegurança se define como o conjunto de normas e práticas de produção desenhadas para prevenir a entrada e disseminação de agentes patogênicos. Esta é a primeira barreira e a defesa mais importante contra as doenças aviárias. A biossegurança é um investimento que serve como cimento para que os produtores consigam preservar a saúde e o bem-estar das aves e obter os melhores resultados zootécnicos e rendimentos econômicos possíveis.
A biossegurança é um investimento para alcançar objetivos. Como será descrito neste trabalho, o estabelecimento e a implementação de um programa de biossegurança requer investimento tanto em recursos físicos como humanos. Compreensivelmente, este investimento se justifica pelo grau de risco presente e o retorno de capital esperado sob diversas condições de campo.
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Em termos gerais, um programa sólido e efetivo tem os seguintes benefícios:
Garantir a produtividade (conseguir objetivos zootécnicos e econômicos)
Cumprir com projeções para a venda e distribuição de produtos, evitando falhas no fornecimento de produtos e perdas de mercados
Cumprir com normas de controle e qualidade
Satisfazer os requisitos de clientes domésticos e/ou de exportação
Evitar perdas devido a doenças, eliminação prematura de lotes, quarentenas e períodos prolongados de descanso sanitário
Reduzir custos ao evitar ou reduzir o uso de tratamentos. É complicado estabelecer o custo-benefício específico de cada medida conceitual, estrutural ou operacional de biossegurança sob diversas condições de produção e desafios de campo.
Indiscutivelmente a avicultura comercial é uma indústria que continua evoluindo mediante a incorporação de tecnologia cada vez mais avançada nas áreas de manejo, nutrição e alojamento; no entanto, proteger a saúde das aves, ou prevenir as doenças é prioritário para alcançar os benefícios esperados.
Consequentemente, a biossegurança não é puramente uma área técnica, mas sim é um dos pilares de todo o sistema de produção para conseguir o máximo retorno dos investimentos que tenham sido feitos nas outras áreas.
Níveis do programa
É sumamente importante que todos os membros da empresa entendam que o programa de biossegurança é essencial para alcançar os objetivos de produção, atender os requisitos de mercado e garantir a estabilidade de seu emprego, recurso econômico e possibilidade de progresso. Portanto, o sucesso do programa depende em grande parte da educação e treinamento de todos os níveis de pessoal e a adoção das medidas de biossegurança como uma responsabilidade de todos.
O PROGRAMA DE BIOSSEGURANÇA TEM 4 NÍVEIS:
A identifcação dos fatores de risco que podem resultar na introdução de doenças é um dos passos iniciais para conceber e estabelecer um programa de biossegurança para cada empresa e/ou granja específica.
Igualmente, é indispensável estabelecer e implementar procedimentos de isolamento – evitar contatos com outros lotes -, limpeza e desinfecção – veículos, equipamento, ferramentas de trabalho-, e controle de trânsito à granja – pessoas e veículos.
Seguindo esta metodologia, uma vez que um fator de risco (não destacado anteriormente e/ou emergente) é identificado, seu potencial pode ser analisado e seguido pelo planejamento e execução de novas medidas ou modificações focadas em eliminar ou minimizar seu impacto. Idealmente, a efetividade destas ações também deve ser avaliada.
Em 2017, o Programa de Melhoramento Avícola (“NPIP”) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (“USDA”) estabeleceu, como parte de seus padrões oficiais, uma lista de princípios básicos que serve como um modelo dos elementos mínimos requeridos para estabelecer um programa de biossegurança (wwwpoultryimprovement.org ). Estes princípios são os seguintes:
1. Pessoa(s) responsável(is) |
2. Treinamento |
3. Linha de separação |
4. Área perimetral neutra |
5. Manejo de pessoal |
6. Controle de aves silvestres, roedores e insetos |
7. Manejo de equipamento e veículos |
8. Eliminação da mortalidade |
9. Manejo de cama e esterco |
10. Saúde das aves de substituição |
11. Estado da água de bebida |
12. Manejo de alimento e cama nova |
13. Relatórios de morbidade e mortalidade |
14. Auditorias do programa (internas e oficiais) |
Implementação e desenvolvimento da cultura de biossegurança
As normas e práticas de biossegurança podem ser percebidas em muitas ocasiões como “custosas, inconvenientes ou dogmáticas”. Estas percepções dificultam o desenvolvimento de uma cultura e interferem na aceitação e implementação de um programa. Esta barreira cultural somente pode ser dissipada mediante educação/
treinamento e estabelecimento de objetivos comuns.
A implementação do programa de biossegurança é um compromisso que deve ser comunicado, entendido, aceito, apoiado e executado por todos e cada um dos membros da empresa. A biossegurança deve se transformar na filosofa que guie todas as decisões e operações cotidianas de uma empresa. Conseguir isto também requer liderança, trabalho em equipe e comunicação.
O mecanismo para criar e manter a cultura de biossegurança é mediante um programa obrigatório de educação e treinamento anual para todos os empregados.
Por outro lado, uma vez que se desenvolveu um programa e que se investiu em infraestrutura e recursos humanos, não deve assumir que todos os empregados cumprem com os requisitos e procedimentos estabelecidos todos os dias e/ou sem erros.
Experiências publicadas, bem como observações reportadas pelo autor em colaboração com outros especialistas, demostram que a implementação das práticas de biossegurança pode fracassar por falta de treinamento, conscientização do pessoal de uma empresa e recursos. De pouco serve um programa puramente teórico de biossegurança, quando não há suficiente roupa e calçados limpos na granja, se o desenho dos módulos de biossegurança e banheiros de entrada é deficiente, se não se conta com sabão e água quente, se a pressão da água à entrada é insuficiente etc.
Para garantir o sucesso do programa deve-se contar com um sistema de auditoria interna, que sirva para avaliar rotineiramente a implementação das normas e práticas
estabelecidas e detectar falhas, tanto estruturais, quanto operacionais, a fim de tomar medidas corretivas de forma imediata. Auditorias periódicas por pessoal externo especializado em biossegurança podem ajudar também a identificar áreas de melhoramento e contribuir à educação do pessoal de uma empresa.
A execução do programa nunca dever apoiada apenas por ações punitivas. Novamente, a cultura e implementação adequadas do programa são garantidas com educação, comunicação e estabelecimento de um sistema de incentivos, ou reconhecimento (tanto para empregados, como para produtores) por dedicação ao cumprimento do programa, ou por contribuições para o melhoramento do mesmo.
O papel dos laboratórios de diagnóstico
À medida em que a produção avícola avança tecnologicamente, depende cada vez mais do serviço e informação gerados pelos laboratórios de diagnóstico. Estes laboratórios realizam testes de monitoramento rotineiro para determinar o estado de saúde dos lotes, avaliar níveis de imunidade e verificar a efetividade dos programas de biossegurança e vacinação – processo conhecido como monitoramento ativo.
Também, e cada vez com maior frequência, os laboratórios podem realizar testes para detectar precocemente a introdução de certas doenças.
Esta tarefa é de vital importância, já que permite ao pessoal de uma empresa tomar medidas de contingência e evitar a transmissão de uma doença a outras granjas na área, ou sistema de produção.
Outras tarefas realizadas pelos laboratórios incluem testes de controle de qualidade em produtos de consumo, que em conjunto com os métodos de monitoramento de saúde, geram informação que permite detectar desafios, falhas no cumprimento de procedimentos de biossegurança ou normas sanitárias e dão vez a planejamento e execução de medidas corretivas.
Conclusões
A demanda de produtos avícolas e exigências crescentes por parte dos consumidores e organismos reguladores, unidas à ameaça iminente de doenças como a gripe aviária, requerem que as empresas avícolas invistam no estabelecimento e implementação de um programa efetivo de biossegurança.
A biossegurança é fundamental para manter a saúde dos lotes, alcançar os objetivos de produção esperados e garantir a rentabilidade e sustentabilidade das empresas do presente e do futuro.
O sucesso do programa depende da medida com que este faça parte da cultura da empresa e do treinamento contínuo do pessoal da mesma.
Para garantir a efetividade do programa, o mesmo deve estar sujeito a auditorias contínuas com o propósito de identificar falhas de implementação, deficiências de recursos ou treinamento e tomar ações corretivas de forma imediata. Este deve ser um processo voltado a encontrar oportunidades de melhorias constantes.
Finalmente, e diante os desafios atuais e futuros, a avicultura comercial está e continuará evoluindo e conseguindo melhorias contínuas em seus sistemas de produção. Os produtores avícolas deixaram de ser “negócios de frangos e ovos” para se transformar em indústrias modernas produtoras de alimentos saudáveis, nutritivos, confiáveis e econômicos para a população do mundo.
Agradecimento a Amevea Colômbia por autorizar a publicação desta memória do IVX Seminário Internacional de Patologia e Manejo Aviário de Athens. EUA, 2018