Nutrição Animal

Estratégias nutricionais para fertilidade de machos reprodutores

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Estratégias nutricionais para fertilidade de machos reprodutores

A fertilidade é considerada uma das características econômicas mais importantes dentro da produção de matrizes, uma vez que exerce influência não somente sobre a produtividade de reprodutores, como também no desenvolvimento de futuras progênies.

Em geral, os machos reprodutores representam apenas 10% do plantel de matrizes (Borges et al., 2006). No entanto, são responsáveis por mais 50% da carga genética, logo, todas as ações que estejam correlacionadas aos seus aspectos produtivos devem ser consideradas. 

Atualmente, as características que são testadas para avaliar e prever a fertilidade dos machos reprodutores estão ligadas ao sêmen, como: volume, viabilidade, motilidade, número total e contagem de espermatozoides vivos/mortos/anormais (Liu et al., 2008; Chen et al., 2016; Sun et al., 2019). 

Existem diversos fatores que podem prejudicar qualidade do sêmen e reduzir a fertilidade dos machos no plantel, como o histórico genético, fatores estressantes, qualidade e composição das rações, micotoxinas e o próprio envelhecimento (Fouad et al., 2016; 2019).

É amplamente conhecido que machos com mais de 45 semanas de idade, o volume, a concentração e viabilidade espermática decrescem enquanto o percentual de defeitos morfológicos no esperma aumenta significamente (Tabatabaei et al. 2010). Essas alterações são acompanhadas por redução significativa na funcionalidade da membrana do esperma, na atividade mitocondrial e na penetração do espermatozoide no óvulo (Altawash et al., 2017; Bazyar et al., 2019).

A razão exata pela queda da qualidade do sêmen com o avançar da idade não está claramente elucidada. No entanto, existem algumas estratégias nutricionais que podem ser adotadas para amenizar o impacto do envelhecimento dos órgãos reprodutivos, características do sêmen e fertilidade dos machos. 

Na literatura, alguns autores relatam que a adição de 0,3 mg de Se/kg na dieta elevou os níveis de atividade da enzima glutationa peroxidase nos testículos e espermatozoides e diminuiu a peroxidação lipídica nos testículos de galos Rhode (Surai et al., 1998b). Assim como, aumentou a concentração espermática e a porcentagem de motilidade em perus machos (Słowińska et al., 2011).

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Galos alimentados com uma dieta suplementada com 0,3 mg de Se e 100 mg de vitamina E/kg resultou em aumento no volume de ejaculação, concentração de espermatozoides, porcentagem de espermatozoides normais vivos e uma redução na porcentagem de espermatozoides anormais (Jerysz e Lukaszewicz, 2013).

Esses achados podem estar relacionados ao desenvolvimento do órgão reprodutivo, já que o selênio adequado é capaz de aumentar o número de células de Sertoli e sua sobrevivência, bem como reduzir a indução de apoptose nas células germinativas durante a espermatogênese (Song et al., 2015; Khalid et al., 2016; Gao et al., 2017).

A vitamina E é considerada um componente do sistema de defesa antioxidante das aves (Surai et al., 2019). Ela desempenha um papel essencial na proteção do sistema reprodutivo contra danos oxidativos, estimula as funções das mitocôndrias espermáticas e é capaz de reduzir a peroxidação lipídica da membrana espermática (Asl et al., 2018).

Estudos realizados na alimentação de galos reprodutores da linhagem Lohmann Brown com dieta suplementada com 100 mg de Vit E/kg aumentou o volume, concentração e motilidade do esperma (Danikowski et al., 2002).

É um composto necessário para mover elétrons e prótons na membrana mitocondrial interna e gerar ATP (adenosina trifosfato), que é uma molécula que funciona como fonte de energia para os processos celulares (Littarru e Tiano, 2007).

A adição de 300 mg de CoQ10/kg na dieta aumentou a produção de espermatozoides, motilidade, integridade da membrana e a porcentagem de fertilidade. Provavelmente devido a manutenção dos tecidos testiculares, onde o diâmetro do túbulo seminal, a espessura da camada das células germinativas e o status antioxidante seminal foram aumentados pela suplementação com CoQ10 (Sharideh et al., 2020).

É um aminoácido endógeno e presente em alta concentração nos testículos. Em estudo in vitro foi observado que a adição de ácido d-aspártico promoveu a secreção de testosterona, principal hormônio sexual dos machos (Di Fiore et al., 2008).

Diferentes níveis de ácido d-aspártico a 100, 200 e 300 mg/kg de peso corporal foram fornecidos via oral a reprodutores em fim de ciclo, e foi observado que as aves que receberam a dosagem de 200mg/kg apresentaram aumento nos níveis de testosterona e melhora nas características de qualidade do sêmen (concentração, integridade e motilidade do esperma). Essas descobertas podem estar atribuídas à supressão da peroxidação lipídica do esperma e ao desenvolvimento dos testículos (Ansari et al., 2017; 2018).

A L-carnitina é formada a partir de dois aminoácidos essenciais (lisina e metionina) e participa do metabolismo lipídico, transportando ácidos graxos de cadeia longa para a mitocôndria para iniciar a β-oxidação do ácido graxo, bem como proteger os lipídios dos danos oxidativos (Fouad e El-Senousey, 2014; Jahanian e Ashnagar, 2018).

A suplementação de 125 mg de L-carnitina/kg em dietas de galos resultou em aumento da concentração de espermatozoides (Zhai et al., 2007). Em estudo similar, essa mesma suplementação aumentou a concentração, viabilidade e motilidade de esperma em codornas (Ahangari et al., 2014).

A suplementação dietética com 150 mg de L-carnitina/kg em reprodutores em fim de ciclo, estimulou a produção de testosterona e maximizou a fertilidade aumentando a produção de sêmen, viabilidade e motilidade (Elokil et al., 2019). Em patos machos, 150 mg de L-carnitina/kg aumentaram a fertilidade, o volume, concentração, viabilidade e motilidade de espermatozoides, além da redução nas porcentagens de espermatozoides defeituosos e/ou mortos (Al-Daraji e Tahir, 2014).

É um precursor da creatina e é biossintetizado a partir da arginina.

Estudos com galos reprodutores alimentados com dietas suplementadas com 1.200 mg de ácido guanidinoacético/kg, durante 25 semanas, obtiveram maior fertilidade, aumento na produção, concentração e motilidade de espermatozoides. 

Os autores relatam que esses achados podem ser atribuídos a maior população de células de Sertoli e espermatogônias, levando ao aumento na espessura do epitélio seminífero e na espermatogênese e, portanto, na concentração de espermatozoides (Nasirikhah et al., 2019). 

Outro ponto, é que o aumento na motilidade dos espermatozoides pode ter sido devido à maior disponibilidade de energia (ATP) por meio da fosforilação da creatina (Fosoul et al., 2018; Zhang et al., 2019).

É um aminoácido essencial para as aves, sendo um substrato para a biossíntese de várias moléculas (proteínas, óxido nítrico, creatina, ornitina, glutamato, poliaminas, prolina, glutamina, agmatina e dimetilarginase), influenciando em importantes funções biológicas no corpo das aves (Youssef et al., 2015).

A arginina é o único substrato para a síntese de óxido nítrico, cujo papel é crucial em diversos processos fisiológicos no corpo dos animais, incluindo neurotransmissores, vasodilatadores e imunidade (Gad, 2010).  Além disso, a arginina estimula a ereção peniana, relaxa os vasos sanguíneos, melhora a libido dos animais, aumenta a capacidade antioxidante e reduz a peroxidação lipídica, protegendo os espermatozoides contra os danos oxidativos (Chen et al, 2018).

A inclusão dietética de 2,33 kg/ton de L-Arginina sobre a qualidade do sêmen e a concentração de testosterona em galos com 37 semanas de idade apresentou melhor peso dos testículos, melhor nível de testosterona, volume e motilidade espermática (Ahangar et al, 2017). Segundo os autores, o aumento do peso dos testículos pode estar relacionado ao melhor nível de testosterona, que é também importante na espermatogênese. 

Em estudo realizado por Abbaspour et al. (2019), a suplementação dietética com 0,14% de L-Arginina em machos reprodutores em fim de ciclo restaurou o funcionamento dos testículos em termos de peso testicular e houve aumento na produção de testosterona e na motilidade dos espermatozoides. 

Seu principal componente ativo é a curcumina, responsável por suas características antioxidantes (Soleimani et al., 2018). 

Estudos determinaram os efeitos da cúrcuma na qualidade do sêmen em galos. Yan et al. (2017) descobriram que 0,8 mg de subproduto de cúrcuma/kg de dieta melhorou a motilidade do esperma, sugerindo que a fertilidade poderia ter sido melhorada, embora isso não tenha sido comprovado.

Além disso, diferentes níveis de curcumina (10, 20 e 30 mg/galo/d) foram adicionados à dieta de machos reprodutores de frangos de corte. Os autores relatam que a inclusão de 30mg curcumina/galo/d houve redução no número de espermatozoides anormais, aumento do esperma vivo e diminuição da peroxidação lipídica seminal (Kazemizadeh et al., 2019). Essas descobertas também foram acompanhadas pelo aumento da integridade da membrana espermática, motilidade, penetração e fertilidade. 

Outros estudos indicam que a curcumina pode melhorar o estado antioxidante das aves (Zhang et al., 2015; Ruan et al., 2019), bem como aumentar o número de células de Leydig, células espermáticas e o diâmetro do túbulo seminífero, melhorando assim o peso testicular e suas funções (Kazemizadeh et al., 2018).

Embora não se conheça todos os mecanismos envolvidos na perda de fertilidade com o avançar da idade dos machos reprodutores, existem vários indicativos de que é possível, por meio de estratégicas nutricionais, prolongar a manutenção das taxas de fertilidade com impacto econômico no sistema produtivo.

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