Para mitigar esses problemas, tem-se utilizado aminoácidos sintéticos nas rações, permitindo que os níveis de proteína bruta sejam inferiores aos recomendados, mas ainda atendendo às exigências de aminoácidos essenciais. As codornas são divididas em duas espécies principais: a Coturnix coturnix coturnix (codorna europeia), voltada para a produção de carne, e a Coturnix japonica (codorna japonesa), destinada à produção de ovos. A pesquisa sobre exigências nutricionais para codornas europeias é escassa e muitas vezes conflitante em comparação com as codornas japonesas. As rações para codornas de corte são frequentemente formuladas com base em tabelas estrangeiras, resultando em exigências nutricionais que podem ser inferiores para as codornas europeias em relação às japonesas.
Exigências de aminoácidos para codornas: uma revisão
A alimentação representa de 65 a 70% dos custos na produção de codornas, com a proteína (aminoácidos) sendo o principal […]
A alimentação representa de 65 a 70% dos custos na produção de codornas, com a proteína (aminoácidos) sendo o principal responsável por cerca de 25% desses custos. Erros nas dosagens de aminoácidos podem prejudicar o desempenho das aves, seja por deficiência ou excesso, que pode causar toxidez. Portanto, é crucial entender a exigência de aminoácidos e o ponto ótimo de consumo para determinar a quantidade exata necessária, evitando impactos negativos no desempenho das aves.
Historicamente, as mensurações eram baseadas na exigência de proteína, mas estudos recentes mostram que a exigência de aminoácidos é mais precisa. Os aminoácidos limitantes mais comuns nas rações são a metionina e a lisina, que são caros e influenciados por fatores como a qualidade da proteína e a idade das aves. As formulações de dieta ainda consideram a proteína bruta (PB), o que pode resultar em dietas com aminoácidos em níveis inadequados, afetando a produção e o retorno financeiro. O excesso de aminoácidos no sangue pode reduzir o consumo e, consequentemente, a produção.
Exigência de proteína para codornas
A exigência de proteína nas dietas de codornas é afetada pela energia metabolizável dos ingredientes. Para dietas iniciais, a proteína bruta deve ser em torno de 24%, reduzindo para 20% a partir da terceira semana, conforme Lee et al. (1977) e Murakami et al. (1993b). Para codornas em crescimento, a necessidade é de aproximadamente 20%, enquanto para codornas de postura é de 18%. O NRC (1994) recomenda 20% de proteína para postura, com um mínimo de 16% sem impactar a produção de ovos. Silva e Costa (2009) observaram que os teores de proteína diminuem com a idade: 25% na fase inicial (1 a 21 dias) e 22% na fase de crescimento (22 a 42 dias). Embora os níveis de proteína sejam semelhantes entre espécies, as codornas de linhagens pesadas apresentam perfis de aminoácidos mais elevados, devido à necessidade de maior ganho de peso e crescimento muscular.
Exigência de aminoácidos para codornas europeias
Os aminoácidos desempenham funções essenciais no organismo das codornas, sendo fundamentais para a formação de proteínas corporais. Atualmente, são reconhecidos 20 aminoácidos necessários para as codornas, dos quais nove são considerados essenciais (D’Mello, 2003). Os aminoácidos limitantes para aves são a metionina e a lisina, que não são sintetizados em quantidades adequadas pelo organismo, necessitando de suplementação para otimizar o desempenho (Barreto et al., 2006).
- Lisina: Este aminoácido é crucial para a formação de tecidos musculares e ósseos, além de ser um precursor da carnitina. A lisina deve ser ingerida através de alimentos ou suplementação sintética, como a L-lisina (Costa et al., 2001). É considerado o aminoácido referência devido à sua importância na síntese proteica e à facilidade de análise. As exigências de lisina variam conforme a fase de crescimento, sendo mais elevadas na primeira semana de vida, quando o trato gastrointestinal ainda está em desenvolvimento (Toledo et al., 2007). O NRC (1994) recomenda 1,3% de lisina para codornas japonesas em crescimento, enquanto outros estudos sugerem valores entre 0,90% e 1,60%.
- Metionina: Primeiro aminoácido limitante nas rações de codornas, especialmente em dietas à base de farelo de soja e milho. A metionina é importante para o transporte de grupos metil e a síntese de colina e cisteína (D’Melo, 2003). Os níveis recomendados variam, com Lázaro et al. (2005) sugerindo 0,38% e Silva e Costa (2009) 0,50%, conforme o NRC (1994).
- Treonina: Este aminoácido, junto com glicina e serina, é vital para o metabolismo da porfirina e a síntese de proteínas, além de contribuir para a saúde intestinal e o desenvolvimento das penas. A treonina representa cerca de 4 a 5% do conteúdo de proteína bruta (Kidd, 2000). O NRC (1994) recomenda 1,02% de treonina para a fase de crescimento, enquanto Lázaro et al. (2005) encontraram valores inferiores, de 0,65%. Estudos indicam que a inclusão de 1,08% de treonina na ração melhora o peso dos ovos (Samuel et al., 2017).
- A exigência de treonina nas codornas varia conforme a fase de desenvolvimento. Na fase de cria (1 a 22 dias), a necessidade é de 0,87%, enquanto na fase de recria (22 a 42 dias) é de 0,82%. Para a postura 1, a exigência é de 0,67%, e para a postura 2, de 0,73% (Silva e Costa, 2009). As Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017) recomendam 0,73% para a fase de cria e 0,74% para a recria, com valores de 0,70%, 0,67% e 0,64% para a postura, dependendo do peso corporal e consumo de ração. Benites (2018) sugere 0,70% de treonina para a fase de postura, com uma relação de treonina: lisina de 0,63%.
- Triptofano: é um aminoácido precursor da serotonina e melatonina, que ajuda a reduzir o estresse nas aves, facilitando o manejo e melhorando a produção de ovos. Sua deficiência pode diminuir o consumo de ração, e sua exigência é influenciada por outros aminoácidos presentes na dieta (Peganova e Eder, 2002). As Tabelas Brasileiras indicam 0,186% de triptofano digestível para a fase de cria e 0,196% para a recria. Para a fase de postura, a exigência varia de 0,22% a 0,24%, dependendo do peso corporal. Estudos mostram que farelo de soja e milho geralmente atendem a essa exigência, mas a suplementação pode ser necessária em situações de estresse imunológico (Le Floch et al., 2010).
Em relação à metionina e cistina, Silva e Costa (2009) observaram relações de metionina+cistina digestível: lisina digestível de 72% e 67% para rações com 20% e 23% de proteína bruta, respectivamente. Esses valores são inferiores ao sugerido por Pinto et al. (2003), que indicou uma relação de 80%. Scottá et al. (2011) relataram um bom desempenho em codornas japonesas com uma relação de 66% em rações com 19,5% de proteína bruta. O NRC (1994) recomenda um valor de 0,75% para essa associação, superior ao encontrado por Lázaro et al. (2005), que foi de 0,67%.
A alimentação é um dos maiores custos na produção de codornas, com a proteína representando uma parcela significativa desses custos. Compreender e ajustar adequadamente a quantidade de aminoácidos na dieta é essencial para evitar impactos negativos no desempenho das aves, seja por deficiência ou excesso.
A utilização de aminoácidos sintéticos tem mostrado ser uma solução eficaz para atender às necessidades nutricionais sem aumentar excessivamente os níveis de proteína bruta na ração. Contudo, é importante considerar que há uma diferença significativa nas exigências nutricionais entre as espécies de codornas, como a coturnix coturnix coturnix (europeia) e a Coturnix coturnix japonica (japonesa).
O artigo se trata de um compilado realizado pela autora Leticia Aline Silva. O grupo de Comunicação Agrinews não se responsabiliza por citações. Contato do autor pode ser obtidas através do contato com a redação. [email protected]