Ícone do site aviNews Brasil, informações avicultura

Gravidade específica dos ovos: fundamentos, técnicas e aplicações

Escrito por: Thomas Calil - Gerente Global da Lohmann Breeders
PDF
Gravidade específica dos ovos
Há muitos trabalhos acerca da influência da qualidade de casca sobre a eclosão, embora os métodos para determinar sua qualidade variem entre autores. Uma das formas de avaliar a qualidade dos ovos é pela conhecida análise da gravidade específica. Muitos estudos mostram que uma menor gravidade específica resulta em menor eclosão com mortalidade embrionária mais frequente em fases iniciais de desenvolvimento.

Sabemos que a gravidade específica dos ovos nos dá uma indicação da espessura da casca, que por sua vez, guarda relação com a condutância, embora análises de campo em grande escala revelem correlação moderada.

A condutância da casca, é o parâmetro que mostra quanto a casca permite que gases fluam para fora (basicamente CO2 + H2O) e para dentro do ovo (O2).

Quanto maior a condutância então, maior será o fluxo de gases através da casca e é importante relembrar que outros fatores alheios à espessura da casca também contribuem com uma maior ou menor condutância, como é o caso da quantidade, diâmetro médio e disposição de poros, por exemplo.

Existem alguns métodos de mensuração da espessura da casca. O mais comum, adotado universalmente pelos incubatórios, é a prova de gravidade específica (Gráfico 1). Entretanto, outras metodologias, como medição direta da espessura de casca e a prova pelo Princípio de Arquimedes também podem ser utilizadas, além de alguns métodos invasivos.

A seguir descrevemos algumas metodologias e na sequência, focaremos na gravidade específica e o correto entendimento de seus fundamentos, visto que essa é a prática comum na maioria dos incubatórios.

Métodos para mensuração da qualidade de casca em incubatórios comerciais

1 – Medição direta da espessura da casca:

 

Essa é a maneira invasiva (é necessário quebrar o ovo para medir) mais eficiente de se medir a espessura da casca dos ovos, pois é uma medição direta. A medição pode ser feita cuidadosamente com paquímetro digital ou com determinados micrômetros/espessômetros, como podemos ver na Figura 1. Devemos sempre dar preferência aos equipamentos digitais e, entre eles, aos que se conectam diretamente ao computador. Com isso, não apenas ganharemos tempo ao dispensar a tarefa de digitação, como também reduziremos o fator erro humano.

2 – Princípio de Arquimedes:

Essa é a maneira não invasiva mais eficiente de se medir a gravidade especifica dos ovos pois nos fornece resultados de forma contínua e, por isso, resulta em uma inferência da espessura da casca mais segura do que demais metodologias não invasivas utilizadas. Basicamente, consiste em pesar ovos individualmente de duas maneiras. Primeiramente, pesa-se o ovo seco em balança digital, em seguida pesa-se o ovo submerso em água.

A água exerce uma influência sobre a gravidade específica, pois sua densidade varia conforme a temperatura. Mais adiante trataremos desse assunto com mais detalhes. O resultado da gravidade específica obtém-se através da divisão entre o peso seco e o peso mergulhado na água, multiplicado pelo fator de correção da densidade da água.
A utilização desse princípio não é difundida pelo fato de as análises serem individuais, ao passo que na metodologia utilizada pelos incubatórios comerciais faz-se a análise de vários ovos simultaneamente. Entretanto, o emprego da análise pelo Princípio de Arquimedes pode ser tão ou mais viável e rápido quanto o tradicional banho em solução salina que veremos adiante, ainda que analisando-se ovos um a um.

3 – Medição indireta da espessura da casca:

Nessa metodologia, utilizamos um equipamento através de ultrassom. É um método simples e que exige medições individuais, além de ser necessária a utilização de gel para perfeita conexão entre a unidade de leitura e a casca do ovo. A precisão da leitura pode variar significativamente em função da incorreta utilização do gel. Essa também é uma medição não invasiva e inferitiva.

Outras metodologias não invasivas de medição indireta estão em desenvolvimento, como por exemplo o método de espectrometria de reflectância em terahertz (ou simplesmente raios T), mas ainda estão indisponíveis comercialmente.

4 – Método de imersão em solução salina:

Essa é a forma mais comum utilizada por incubatórios ao redor do mundo e é bastante imprecisa, mas traz consigo a vantagem de não ser invasiva e de ser aplicada à inúmeros ovos simultaneamente. Sobre ela discorreremos de maneira mais aprofundada.

Essa metodologia consiste em preparar soluções salinas de diferentes concentrações, normalmente variando de 1.060 até 1.090 a intervalos de 5 em 5 ou 10 em 10 (nunca utilize distintos intervalos na mesma medição). Usualmente recomendamos o uso de 3 ou 4 soluções distintas, mas frequentemente vemos plantas que trabalham com apenas 2 ou até 1 solução.

No caso de utilizar duas soluções, a recomendação é utilizar duas soluções extremas, por exemplo 1.070 ou 1.075 e 1.085. Não recomendamos utilizar apenas uma solução rotineiramente.

Os ovos são imersos na solução de menor densidade. Se boiarem, devem ser retirados e, se afundarem, devem ser transferidos para a imediata maior solução e, assim, sucessivamente. Quando retiramos os ovos, apontamos a quantidade na categoria em que boiaram (Figura 2).

Quando falamos de gravidade especifica, usamos também o termo densidade, que é correto (por isso usamos um densímetro e a melhor escala deve ser de 1.050 a 1.100). Pensando em densidade devemos nos lembrar do conceito, que é a relação entre duas grandezas diferentes, a massa e o volume. Assim, uma solução de 1.060 de densidade quer dizer que para 1.060 unidades de massa utilizadas, temos 1 unidade de volume utilizada.

Um primeiro esclarecimento que se faz necessário é sobre a unidade em que a gravidade específica é medida, pois apenas uma pequena parcela dos técnicos, gerentes e diretores envolvidos no processo de incubação sabe do que se trata. Esse valor de 1.060, por exemplo, quer dizer 1.060 o que?

Normalmente as unidades são gramas para massa e litros para volume. Dessa forma teremos 1.060g/l. Em outras palavras, isso quer dizer que um litro dessa solução deve pesar 1.060 gramas.

Mas porque isso é importante? Porque se mergulhamos um ovo nessa solução e ele afunda, entendemos que o volume representado por esse ovo pesa mais do que o mesmo volume representado pela solução. Se ele boia, seu peso é menor que o da solução, considerando o mesmo volume. Se ele não afunda e nem boia, seu peso é equivalente ao da solução.

Como são feitas diferentes soluções salinas e normalmente intercaladas em 5g/l, os resultados não formam uma leitura continua e sim escalonada. Isso quer dizer que alguns ovos podem ter sua leitura interpretada com uma variação de ±5g/l o que é muito em se tratando de qualidade de casca, perda de umidade e eclosão.

E se o ovo não afunda e nem boia? Algumas vezes nos deparamos com ovos que ficam em posição intermediária do balde. Isso quer dizer que esses ovos têm praticamente a mesma densidade da solução. Ovos que afundam são mais densos, ovos que bóiam são menos densos que a solução. Em termos práticos, consideramos que se a maior parte do ovo afunda até o terço final do balde ele é mais denso que a solução, caso contrário, se ele bóia, ele é menos denso.

Alguns incubatórios consideram que os ovos intermediários seguem à seguinte solução. Isso não é um problema desde que esse procedimento seja padronizado e feito sempre da mesma forma pois geralmente, poucos são os ovos que ficam na posição intermediária. Para esse caso, a constância na aplicação do critério é mais importante do que o critério em si.

A rotina de um incubatório muitas vezes é desgastante e extensa, por isso temos recomendado a substituição dos baldes nos casos em que os ovos são recebidos em cartelas plásticas ou bandejas de incubação de pequena capacidade (Figura 4).

Para ganhar tempo no processo, recomendamos recipientes horizontais de forma que a bandeja/cartela seja imersa totalmente juntamente com os ovos, funcionando assim também como dispositivo coletor para a seguinte solução, conforme a ilustração abaixo. Caso use balde, recomendamos peneiras de fritura com suficiente profundidade.

Baseado na figura acima, ovos da superfície são retirados manualmente, enquanto os demais são transferidos diretamente na bandeja à solução seguinte. No final, recomendamos o enxague dos ovos, seguido de desinfeção com meia dose do agente atualmente em uso.

Nesses casos, se faz muito importante calibrar a solução com o densímetro a cada lote analisado, assegurando assim, maior confiabilidade nos resultados, pois ao passar a bandeja para solução seguinte, podemos dilui-la. O tempo de execução da tarefa poderá cair pela metade usando essa técnica, ao invés do balde convencional.

No início desse item, comentamos que a medição pela gravidade específica é bastante imprecisa. Vale elencar as fontes de variação da utilização dessa metodologia que conferem dita imprecisão aos resultados. Abaixo uma listagem por ordem de importância:

A – ESPESSURA DE CASCA:

Essa é a fonte de variação que buscamos analisar. Se fosse a única, teríamos na gravidade específica uma metodologia 100% confiável e precisa. Como a casca representa a fração mineral do ovo (embora traços de minerais estejam presentes na gema também assim como alguma proteína na casca), a sua variação terá influência direta na medição, pois não precisamos de muita reflexão para saber que minerais são mais pesados que água (albúmen) e gordura (gema).

Assim, uma maior presença de cálcio na casca trará como resultado ovos que se enquadram nas categorias mais altas de gravidade específica. Preferencialmente, devemos padronizar a utilização de ovos da mesma coleta em todas as análises.

Da mesma forma, ovos com casca fina, tendem a trincar, por isso devem ser inspecionados antes do início da atividade, pois são mais prováveis de se enquadrarem nas categorias mais baixas. Normalmente, esses ovos não alteram a média, mas sim a distribuição que deve ser um certo % de ovos iguais ou acima de uma determinada gravidade específica (normalmente 60% dos ovos acima de 1080 ou 1085g/l).

B – TEMPERATURA DA ÁGUA:

A água é o maior componente da solução salina em todas as concentrações que preparamos, por isso sua densidade exerce uma influência significativa na densidade da solução. Sem as variações da densidade da água e da densidade do sal, não precisaríamos de um densímetro para preparar as soluções.

Como vimos, a densidade da solução é a representada pela sua massa dividida pelo seu volume. Assim, conhecendo a densidade da água e do sal, bastariam pequenos cálculos e teríamos quantidades fixas de água de sal, necessitando apenas uma balança.

Por exemplo, a água pura tem sua maior densidade na temperatura de 4oC, que podemos considerar 1.000g/l. Diferentemente de outros materiais, ao esfriar, sua densidade baixa (por isso o gelo em um copo d´água boia).

Curiosamente, acima dos 4oC a densidade da água também baixa. Por essa razão, sempre se recomenda realizar a atividade com a temperatura da água na casa dos 20oC pois os densímetros são na verdade denominados termo-densimetros e em geral estão calibrados para 20oC (e devem mostrar uma escala de temperatura também).

Caso seja utilizado um densímetro calibrado a uma temperatura diferente, a solução deve ser preparada nessa temperatura indicada pelo densímetro.

Já a densidade do sal é muito variável. Os sais que utilizamos tem densidades muito menores que o NaCl puro, pois há maior presença de ar entre as partículas, mesmo considerando-se sal refinado de cozinha. Dessa forma, reiteramos que não devemos utilizar valores fixos de água e sal para o preparo da solução de forma definitiva (desconfie de tabelas prontas para esse propósito).

Eles podem ser utilizados apenas como balizamento inicial do preparo, para então, com o uso do densímetro, chegar a concentração correta de cada solução.

Novamente, em termos práticos, podemos considerar que a densidade da solução varia 1g/l a cada 2oC acima ou abaixo de 20oC (caso tenha sido preparada com termo-densímetro calibrado a 20oC). Isso quer dizer que devemos trabalhar com a temperatura da solução entre 18 e 22oC para que não haja erros de interpretação.

Na Figura 5, podemos ver 8 ovos com densidade menor do que a solução a 21,6oC. Utilizando-se exatamente a mesma solução e mesmos ovos, mas aquecendo-a até 27,9oC fará com que 7 deles afundem. Esse efeito é unicamente pela temperatura da solução que reduz a densidade da água, fazendo com que os ovos afundem.

C – DATA DA POSTURA E TAMANHO DA CÂMARA DE AR:

Conforme estocamos ovos por mais de um dia, a liberação de vapor de água de seu interior levará a uma diminuição de seu peso, fazendo baixar as leituras de perda de umidade. Dessa forma, não recomendamos fazer leitura de perda de umidade em ovos com mais de 2 dias de postura (o ideal é utilizar ovos do dia, mas para efeitos práticos “toleramos” até 2 dias como máximo).

A perda de peso provoca aumento da câmara de ar, entretanto, vemos que mesmo no dia da postura, pode haver variações no tamanho da câmara de ar entre diferentes ovos e, consequentemente, variações na leitura da gravidade específica.

Em termos práticos, a cada um ou dois dias de estoque, os ovos perderão 1g/l de gravidade específica. Em outras palavras, um ovo que inicialmente apresenta 1.080g/l no dia 1 pós postura, apresentará aproximadamente 1.079 um ou dois dias depois, logo 1.078 e assim sucessivamente, a depender da espessura da casca e das condições de umidade relativa do armazenamento.

D – CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DO OVO (PESO, ALTURA, LARGURA):

Como a densidade é a divisão da massa pelo volume, é natural imaginarmos que ovos de mesma massa, mas de volume diferente, terão diferentes densidades. Da mesma forma, sabendo que a largura do ovo influencia em seu volume mais do que a altura, ovos mais largos tendem a ter menor gravidade específica do que ovos mais compridos de mesma massa.

De forma geral, ovos com maior gravidade específica, são em média, mais leves, embora a dispersão seja grande.

E – TAMANHO DA GEMA:

A gema dos ovos apresenta tamanho variável em função da idade da galinha, geralmente partindo de aproximadamente 25% do peso do ovo em lotes jovens, chegando a mais de 30% em lotes no final do ciclo produtivo.

Esse fator por si só, já exerce influência negativa sobre a densidade, o que muitas vezes é negligenciado, atribuindo-se unicamente à qualidade da casca as razões para uma pior gravidade específica do fim de ciclo. Essa influência ocorre também em um grupo de ovos de mesma idade e mesmo lote, pois o peso da gema varia de ovo a ovo.

F – TENSÃO SUPERFICIAL DA SOLUÇÃO SALINA:

Esse fator induz a pequenos erros de leitura pois a tensão superficial da água nos faz identificar dois possíveis pontos no termo-densímetro, conforme a imagem abaixo (Figura 6). É importante salientar que a leitura deve ser feita pelo ponto mais baixo indicado na escala (o ponto do nível normal da água), conforme a imagem abaixo. Na figura da direita a densidade da solução é menor que 1.090g/l.

Considerações finais

No início desse artigo comentamos que a gravidade específica e a espessura da casca influenciam as taxas de eclosão. A literatura está repleta de análises de gravidade específica e resultados de eclosão. O artigo foi feito para elucidar técnicos de incubação de todo o mundo sobre essa importante ferramenta de gestão de qualidade de casca e resultados, seja para plantas de todas as gerações de aves de genética para postura ou para corte.

Acesse o site!!

PDF
PDF
Sair da versão mobile