Sabemos que a gravidade específica dos ovos nos dá uma indicação da espessura da casca, que por sua vez, guarda relação com a condutância, embora análises de campo em grande escala revelem correlação moderada.
A condutância da casca, é o parâmetro que mostra quanto a casca permite que gases fluam para fora (basicamente CO2 + H2O) e para dentro do ovo (O2).
Existem alguns métodos de mensuração da espessura da casca. O mais comum, adotado universalmente pelos incubatórios, é a prova de gravidade específica (Gráfico 1). Entretanto, outras metodologias, como medição direta da espessura de casca e a prova pelo Princípio de Arquimedes também podem ser utilizadas, além de alguns métodos invasivos.
A seguir descrevemos algumas metodologias e na sequência, focaremos na gravidade específica e o correto entendimento de seus fundamentos, visto que essa é a prática comum na maioria dos incubatórios.
Métodos para mensuração da qualidade de casca em incubatórios comerciais
1 – Medição direta da espessura da casca:
2 – Princípio de Arquimedes:
Essa é a maneira não invasiva mais eficiente de se medir a gravidade especifica dos ovos pois nos fornece resultados de forma contínua e, por isso, resulta em uma inferência da espessura da casca mais segura do que demais metodologias não invasivas utilizadas. Basicamente, consiste em pesar ovos individualmente de duas maneiras. Primeiramente, pesa-se o ovo seco em balança digital, em seguida pesa-se o ovo submerso em água.
3 – Medição indireta da espessura da casca:
Outras metodologias não invasivas de medição indireta estão em desenvolvimento, como por exemplo o método de espectrometria de reflectância em terahertz (ou simplesmente raios T), mas ainda estão indisponíveis comercialmente.
4 – Método de imersão em solução salina:
Essa metodologia consiste em preparar soluções salinas de diferentes concentrações, normalmente variando de 1.060 até 1.090 a intervalos de 5 em 5 ou 10 em 10 (nunca utilize distintos intervalos na mesma medição). Usualmente recomendamos o uso de 3 ou 4 soluções distintas, mas frequentemente vemos plantas que trabalham com apenas 2 ou até 1 solução.
No caso de utilizar duas soluções, a recomendação é utilizar duas soluções extremas, por exemplo 1.070 ou 1.075 e 1.085. Não recomendamos utilizar apenas uma solução rotineiramente.
A rotina de um incubatório muitas vezes é desgastante e extensa, por isso temos recomendado a substituição dos baldes nos casos em que os ovos são recebidos em cartelas plásticas ou bandejas de incubação de pequena capacidade (Figura 4). |
Para ganhar tempo no processo, recomendamos recipientes horizontais de forma que a bandeja/cartela seja imersa totalmente juntamente com os ovos, funcionando assim também como dispositivo coletor para a seguinte solução, conforme a ilustração abaixo. Caso use balde, recomendamos peneiras de fritura com suficiente profundidade.
Baseado na figura acima, ovos da superfície são retirados manualmente, enquanto os demais são transferidos diretamente na bandeja à solução seguinte. No final, recomendamos o enxague dos ovos, seguido de desinfeção com meia dose do agente atualmente em uso.
No início desse item, comentamos que a medição pela gravidade específica é bastante imprecisa. Vale elencar as fontes de variação da utilização dessa metodologia que conferem dita imprecisão aos resultados. Abaixo uma listagem por ordem de importância:
A – ESPESSURA DE CASCA:
Da mesma forma, ovos com casca fina, tendem a trincar, por isso devem ser inspecionados antes do início da atividade, pois são mais prováveis de se enquadrarem nas categorias mais baixas. Normalmente, esses ovos não alteram a média, mas sim a distribuição que deve ser um certo % de ovos iguais ou acima de uma determinada gravidade específica (normalmente 60% dos ovos acima de 1080 ou 1085g/l).
B – TEMPERATURA DA ÁGUA:
Como vimos, a densidade da solução é a representada pela sua massa dividida pelo seu volume. Assim, conhecendo a densidade da água e do sal, bastariam pequenos cálculos e teríamos quantidades fixas de água de sal, necessitando apenas uma balança.
Curiosamente, acima dos 4oC a densidade da água também baixa. Por essa razão, sempre se recomenda realizar a atividade com a temperatura da água na casa dos 20oC pois os densímetros são na verdade denominados termo-densimetros e em geral estão calibrados para 20oC (e devem mostrar uma escala de temperatura também).
Caso seja utilizado um densímetro calibrado a uma temperatura diferente, a solução deve ser preparada nessa temperatura indicada pelo densímetro.
Eles podem ser utilizados apenas como balizamento inicial do preparo, para então, com o uso do densímetro, chegar a concentração correta de cada solução.
Na Figura 5, podemos ver 8 ovos com densidade menor do que a solução a 21,6oC. Utilizando-se exatamente a mesma solução e mesmos ovos, mas aquecendo-a até 27,9oC fará com que 7 deles afundem. Esse efeito é unicamente pela temperatura da solução que reduz a densidade da água, fazendo com que os ovos afundem.
C – DATA DA POSTURA E TAMANHO DA CÂMARA DE AR:
Conforme estocamos ovos por mais de um dia, a liberação de vapor de água de seu interior levará a uma diminuição de seu peso, fazendo baixar as leituras de perda de umidade. Dessa forma, não recomendamos fazer leitura de perda de umidade em ovos com mais de 2 dias de postura (o ideal é utilizar ovos do dia, mas para efeitos práticos “toleramos” até 2 dias como máximo).
Em termos práticos, a cada um ou dois dias de estoque, os ovos perderão 1g/l de gravidade específica. Em outras palavras, um ovo que inicialmente apresenta 1.080g/l no dia 1 pós postura, apresentará aproximadamente 1.079 um ou dois dias depois, logo 1.078 e assim sucessivamente, a depender da espessura da casca e das condições de umidade relativa do armazenamento.
D – CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DO OVO (PESO, ALTURA, LARGURA):
Como a densidade é a divisão da massa pelo volume, é natural imaginarmos que ovos de mesma massa, mas de volume diferente, terão diferentes densidades. Da mesma forma, sabendo que a largura do ovo influencia em seu volume mais do que a altura, ovos mais largos tendem a ter menor gravidade específica do que ovos mais compridos de mesma massa.
De forma geral, ovos com maior gravidade específica, são em média, mais leves, embora a dispersão seja grande.
E – TAMANHO DA GEMA:
A gema dos ovos apresenta tamanho variável em função da idade da galinha, geralmente partindo de aproximadamente 25% do peso do ovo em lotes jovens, chegando a mais de 30% em lotes no final do ciclo produtivo.
Esse fator por si só, já exerce influência negativa sobre a densidade, o que muitas vezes é negligenciado, atribuindo-se unicamente à qualidade da casca as razões para uma pior gravidade específica do fim de ciclo. Essa influência ocorre também em um grupo de ovos de mesma idade e mesmo lote, pois o peso da gema varia de ovo a ovo.
Esse fator induz a pequenos erros de leitura pois a tensão superficial da água nos faz identificar dois possíveis pontos no termo-densímetro, conforme a imagem abaixo (Figura 6). É importante salientar que a leitura deve ser feita pelo ponto mais baixo indicado na escala (o ponto do nível normal da água), conforme a imagem abaixo. Na figura da direita a densidade da solução é menor que 1.090g/l.
No início desse artigo comentamos que a gravidade específica e a espessura da casca influenciam as taxas de eclosão. A literatura está repleta de análises de gravidade específica e resultados de eclosão. O artigo foi feito para elucidar técnicos de incubação de todo o mundo sobre essa importante ferramenta de gestão de qualidade de casca e resultados, seja para plantas de todas as gerações de aves de genética para postura ou para corte.