“Precisamos fazer essa modernização”, avalia Caron. “Vamos determinar quais são os riscos da carne ao consumidor, para poder trabalhar em cima desses riscos, deixando a questão da qualidade da carne por conta das empresas, sob supervisão e auditoria do SIF”, conclui.
Inspeção da carne de frango deverá focar riscos à saúde pública
O SIF (Sistema de Inspeção Federal) da carne de frango deverá focar os riscos à saúde pública. Esse é o […]
O SIF (Sistema de Inspeção Federal) da carne de frango deverá focar os riscos à saúde pública. Esse é o objetivo do trabalho que vem sendo desenvolvido numa parceria entre a Embrapa Suínos e Aves e a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a pedido do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
A primeira etapa do Projeto, já concluída, avaliou as principais causas de condenações post mortem em 153 abatedouros frigoríficos sob Inspeção Federal. A análise foi feita com base em dados do SIGSIF (Sistema de Informações Gerenciais do SIF) do período entre os anos de 2012 e 2015.
O trabalho apurou que as principais causas de condenação se devem a problemas de processo, como contaminações geradas por falhas de evisceração, e doenças da produção, como aerossaculite e artrites. A condenação gastrointestinal foi causa de 26,2% das condenações, segundo apurado pelo trabalho de pesquisa, seguida da lesão traumática, responsável por 24,8% das condenações.
Em terceiro, quarto e quinto lugar de causas de condenações vêm lesão de pele inespecífica (13,3%), celulite (8.8%) e miopatias (7%). As demais causas representam menos de 20% do total de condenações.
“São algumas tecnopatias, que agora estão passando por uma análise de risco para avaliarmos se têm alguma relação com a saúde pública ou não”, explica o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Luizinho Caron. “Se essa relação não existir, a tendência é que esses problemas fiquem a cargo das empresas resolverem, enquanto a inspeção deverá focar no que se refere à saúde do consumidor”, completa.
Segundo Caron, no Canadá o percentual de todas as condenações reportadas em 2017 foi de 1,33%, sendo que lá não está relacionada a contaminação gastrointestinal, que foi o principal problema de condenações apurado no Brasil pela pesquisa da Embrapa. Nos Estados Unidos, entre janeiro e fevereiro de 2018, foi reportado 0,33% de total de condenações e 0,016% de contaminação.
A análise de riscos à qual se referiu Caron é a segunda etapa do trabalho para modernização do SIF da carne de frango e está sendo desenvolvido pela UFRGS. “Essa etapa aborda quais doenças têm maior risco de serem transmitidas ao consumidor da carne de frango para, a partir dessa determinação, apontar-se quais os procedimentos para reduzir esse risco”, explica o pesquisador.
Os próximos passos serão a elaboração das normas, sua validação em frigorífico e o debate junto aos setores envolvidos no processo, incluindo os consumidores dos mercados domésticos e internacional. “Como o Brasil exporta carne de frango para diversos países, tem que haver uma comunicação não apenas com o nosso consumidor sobre as mudanças, mas também com os consumidores dos outros países que compram essa carne”, explica Caron.
O encerramento do trabalho, previsto para no máximo 2020, se dará com a fase de transferência de tecnologia, ou seja, elaboração de manuais e treinamento dos fiscais para implementação do projeto.
O Serviço de Inspeção Federal, conhecido mundialmente pela sigla SIF e vinculado ao DIPOA (Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal), é o responsável por assegurar a qualidade de produtos de origem animal comestíveis e não comestíveis destinados ao mercado interno e externo, bem como de produtos importados. Atualmente, o SIF tem atuação em mais de 5 mil estabelecimentos brasileiros, todos sob a supervisão do Dipoa.
Para o Mapa, a reorganização do sistema de inspeção é o principal desafio para o desenvolvimento da Agricultura no País.