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O representante da Câmara de Produtores Avícolas, CAPIA, realiza uma revisão dos principais marcos e desafios da indústria de produtores de ovos da Argentina, focando na abertura do mercado ao exterior e na implementação de processos tecnológicos, tanto para melhorar o bem-estar animal, como para entregar melhores produtos aos consumidores.
Javier Prida é o atual presidente da Câmara Argentina de Produtores Avícolas (CAPIA). Assumiu o cargo em novembro de 2012 e há seis meses foi reeleito para conduzir a associação até o final de 2019.
AviNews Quais os principais desafios planejados?
Javier Prida Temos vários desafios, alguns que vêm de arrastro e que necessitamos corrigir, tais como: a redução dos impostos sobre o ovo, o produto final, o que se chama de imposto sobre o valor agregado (IVA); começar a incutir uma conduta exportadora dentro do setor para que possa haver novos mercados e, assim, todo esse crescimento que vem sendo experimentado não seja freado.
Porque, realmente, como quinto país consumidor de ovos em nível mundial, o teto de consumo está próximo; e, começar a desenvolver novos nichos de mercado para que o produto seja mais amigável, sob outras óticas, para o consumidor.
AN Como é composta a cadeia de postura da Argentina?
JP Produzimos 13 milhões de unidades de ovos, temos 44,2 milhões de galinhas em postura, pouco mais de uma galinha por habitante, temos um consumo de 1.120 milhões de toneladas de milho, 440 mil toneladas de soja, geramos 18.000 empregos de forma direta e 7.000 de forma indireta.
AN Como está distribuída a produção de ovos?
JP Dos 13 milhões de unidades de ovos, 90% foi comercializado como ovo de mesa, 10% foi destinado à indústria como ovo processado. Do total, nesse momento, 97% é produzido para o mercado interno e 3% é destinado ao mercado externo.
AN Qual é o consumo de ovo na Argentina?
JP O consumo per capita é de 281 unidades de ovos e são produzidos cerca de 300 ovos por habitante ao ano. Para esse ano, espera-se crescer cerca de 2,5%.
AN A Argentina é reconhecida por suas campanhas publicitárias sobre o ovo. Em que consistiu a última e que prêmio obteve?
JP Na última campanha, trabalhamos com Javier Mascherano, jogador do Barcelona, já que nós argentinos somos muito boleiros. Quando um jogador é muito aguerrido, defende muito, corre e transpira a camiseta, tem paixão por seu país, dizemos que põe ovos. Então, como Mascherano põe ovos, o escolhemos para esta campanha. Por essa razão, realizamos uma campanha de alimentação saudável com o ovo, com Mascherano. Ela consistiu em quatro etapas: o café da manhã com ovos mexidos, meia manhã, com um ovo cozido, meio dia, com uma porção de tortilha, e a noite comia um flan como sobremesa, depois de trabalhar o dia todo. Em seguida, ele nos presenteou com uma quinta publicidade que é uma omelete, “Porque eu gosta de omelete depois de treinar. Para recuperar as forças eu quero comer uma omelete”. Fizemos uma campanha com 5 pratos de diferentes etapas da sua vida, que podem ser consumidos, mandando uma mensagem de um desportista saudável, exitoso e vencedor. A verdade é que, com um orçamento de escassíssimo custo, tivemos quase 1.000.000 de curtidas no Facebook.
No último ALA 2017, em Guadalajara, ganhamos 3 prêmios de 5: melhor campanha integral, melhor comemoração da semana mundial do ovo e melhor campanha com Celebrity. Vimos ganhando a campanha de “Melhor comemoração da semana mundial do ovo” desde 2007 até agora. Apenas um ano, o de 2015, empatamos com o México. Essa campanha serviu para aumentar o consumo de ovos na Argentina.
AN Como você visualiza 2018 e que variáveis afetarão o setor de postura argentino?
JP Vejo uma contração da produção de cerca de 2%, como média, com um piso de 1,5% e com um teto de 4%. Quanto à diminuição da produção, entendo que será assim, devido à conjuntura econômica do país: a alta do dólar, o aumento dos preços do milho, o preço da soja, o custo da energia elétrica, o combustível fugiu ao nosso controle e lamentavelmente está tirando nossa competitividade por um lado e, por outro, poder de compra e consumo da população.
AN Qual o papel da CAPIA na avicultura argentina?
JP Bom, a CAPIA foi a primeira câmara empresarial da avicultura argentina, criada em 1962. Estamos completando 56 anos. Somos a câmara pioneira que reuniu todos os produtores de ovos, os incubatórios, produtores de frango de corte. Depois os produtores de carne de frango, os processadores formaram outra câmara que se chama CEPA -Centro de Empresas Processadoras Avícolas. Uma câmara parceira, com a qual temos uma excelente relação. Porém, dentro da CAPIA está tudo o que diz respeito à produção de ovos, tanto de mesa, como férteis.
A CAPIA representa 76% dos produtores da indústria avícola, orientados à produção de ovos. Aproximadamente 400 empresas de forma direta e indireta.
AN Quais são os objetivos da CAPIA?
JP O objetivo da CAPIA é tratar de representar, nos quatro cantos do país, todos os produtores, cuidar dos nossos interesses como produtores de um alimento tão nobre como o ovo e fazer com que as empresas familiares o continuem sendo. Cuidar para que o processo de concentração que o setor avícola está experimentando no mundo, não chegue na Argentina com a velocidade que está chegando em outros países. E, oxalá, não chegue nunca, ainda que saibamos que está passando, porém que seja com a menor velocidade possível. Vemos, em alguns países, principalmente do hemisfério norte, como Estados Unidos, México Canadá e Europa mesmo, onde o tema da concentração do setor avícola nos últimos 15 anos é notório e muito grande e, graças a Deus, na Argentina não está chegando. No entanto, há alguns movimentos que indicam que a concentração está se aproximando.
AN Qual sua opinião sobre o mercado para ovos de sistema livre de gaiolas?
JP Sobre o mercado livre de gaiolas, primeiro é preciso ser muito respeitoso com o que o consumidor quer. Nós acreditamos que é preciso produzir esse ovo, no entanto, quando o consumidor o aceite e não impondo-o.
Nós sabemos que há muitas dores de cabeça em vários países que instalaram como normativa obrigatória o sistema livre de gaiola. As pessoas têm que entender que livre de gaiola não é sinônimo de bem-estar animal. Existem 60 anos de desenvolvimento genético, onde as casas genéticas produziram um animal que nos permitia uma série de atitudes para produzir de maneira versátil, de maneira a tirar o melhor proveito desse animal. E hoje em dia querem que todas essas atitudes que a genética conquistou, da noite para o dia mudem e que o animal volte a ser o mesmo de antes, coisa que é impossível.
Sabemos que o animal tem instintos como querer voar, tomar banho de areia, que é bom. Vamos descobrir formas para que o animal possa desenvolver essas atividades. Entendemos que se não fosse pela genética, não haveríamos avançado. Nesses sistemas livres de gaiolas, devemos pensar na mortandade, os ovos estão mais expostos a Salmonella, E. coli, Campilobacter e a um monte de variáveis que nos mostram cientificamente que isso não é bem-estar animal.
Agora, quando falamos de centímetros quadrados de gaiola, de centímetros lineares de comedouros, da debicagem, do corte de unhas, aí estou de acordo, penso que isso sim é bem-estar animal. O restante não é bem-estar animal, é apenas um capricho – o que fazemos é fiscalizar o produto ao consumidor final – e que afasta o consumidor do ovo. E vender um produto que, em termos de segurança, não tem as mesmas condições que um ovo produzido em gaiola. Esse é um ovo que não tem a mesma qualidade que um ovo produzido em gaiola e, nutricionalmente, são iguais.
Isso está levando a uma maior concentração, dependendo aqui também dos países que estão mais avançados, há mais tempo com essa legislação de suposto bem-estar animal, porque não é bem-estar animal. Estes estão fazendo com que o negócio se concentre cada vez mais e que a economia familiar desapareça. Aqui me preocupa tudo: o bem-estar animal, o produtor e o consumidor.
Ao consumidor tenho que oferecer um alimento produzido da melhor maneira possível, com boa qualidade, que seja seguro e barato. O produtor tem que trabalhar com variáveis que incluam o bem-estar animal e produza um alimento ao alcance do consumidor. A ave tem que ter bem-estar animal, que seja bem-feito, não esse bem-estar animal que nos querem fazer crer associações que têm milhões de dólares e milhões de euros por trás, que resolvem a questão com campanhas agressivas e distorcidas.
Uma das principais ONG esteve na Argentina e divulgou que as pessoas não ingeriam mais proteína animal e comiam apenas vegetais “porque são veganas”. Então, é preciso comunicar às pessoas, que fazem isso sobre uma base tendenciosa.
Também, em nosso país, foi realizada uma palestra voltada aos produtores, que foi lastimável, onde esteve a Dra. Sara Shield, da Universidade da Califórnia. Ela reconheceu que, nobreza obriga, as pessoas não deveriam comer mais proteína animal; que o produto é encarecido em pelo menos 40% ao consumidor final; e, por último, admitiu que o produto que as pessoas consomem dos sistemas livres de gaiola não têm a mesma segurança que o ovo produzido em gaiola.
É imprudente que os governos, como o europeu, quando negociam certas condições para outras áreas da agricultura, devem se endividar com os disputados verdes ou ecologistas e não lhe interessa a produção avícola. Agarram qualquer lei mal feita e isso não é bem-estar animal. Os mesmos trabalhadores estão sofrendo problemas de saúde pelo pó que inalam. Por exemplo, não é o mesmo um ovo produzido em uma gaiola em que a galinha, quando ocorre a ovoposição, o ovo sai e chega a uma cinta para ser levado a um depósito de plastificação e empacotamento. Enquanto o local onde a galinha põe o ovo nesses novos sistemas que querem nos impor, possui fezes e urina o dia todo. Agora, se é o que quer o consumidor, vamos produzir.
Pessoalmente, viajo à Europa duas vezes por ano e estive na Bélgica em uma granja onde tinham as galinhas produzindo no meio do nada, adiante um caminho e, em frente, galinhas do vizinho. Isso não é biosseguridade. Nós temos uma legislação na Argentina que, se não há 1.000 metros entre cada granja, não são habilitadas. Ao contrário, na Europa, no caso que estou exemplificando, em um caminho vizinho de 7 ou 8 metros de distância, é permitido ter dois estabelecimentos defronte. Outro problema na Europa é o caso da Influenza Aviária (IA), um procedimento da Organização Internacional de Epizootias. Se você olhar de 2012 para trás e de 2012 até outubro de 2017, houve 1.047% de casos de IA por levar as aves para fora. Eu vi na França, como um gavião levou nas garras uma galinha e as raposas se multiplicaram exponencialmente na Europa.
Nós temos o desafio de oferecer comida às pessoas, um produto seguro, de alto valor biológico, acessível e embalado da origem. A essas pessoas não interessa nada, porque são veganos. Eles vão pelo bem-estar animal, pela gaiola e logo estarão pelo confinamento e assim….
Hoje a avicultura, entre ovo e carne de frango, é a primeira proteína animal consumida pelo ser humano no mundo. É a que gera mais trabalho, que menos produz pegada de carbono, provoca menor desmatamento, necessita menor quantidade de água para a produção etc.
AN Com relação à Argentina, vocês possuem apoio do governo?
JP Não há nenhum apoio governamental, mas uma relação muito boa e trabalho conjunto. Temos objetivos em comum. Precisamos da redução do imposto sobre o valor agregado, que nesse momento é de 21%, no entanto, queremos nos equipar com o frango que tem o imposto de 10,5%.
Principalmente, nos damos muito bem com as duas províncias onde se concentram dois terços da avicultura: a província de Buenos Aires é a que tem maior concentração de ovos (41%) e em Entre Ríos (26%).
AN Qual a relação com o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (SENASA)?
JP Há uma excelente relação, acredito que nos últimos anos foi de menor para maior. Há 10 anos era uma relação tranquila, morna, nos últimos anos há uma relação dinâmica, muito boa, chegando a praticamente duas ou três consultas semanais e com respostas do outro lado com a mesma frequência.
AN Quais as metas propostas a serem cumpridas?
JP Temos vários desafios, como evitar a concentração, cuidar para que as pessoas continuem a se modernizar, já que na Argentina 55% da produção avícola é tecnificada e queremos chegar, até 2020, entre 75% e 80%. Necessitamos abrir novos mercados, produzir nichos para novos produtos.
No geral, 95% do ovo industrializado é exportado, em sua maioria em pó e, em menor quantidade líquido congelado ou fresco. O ovo líquido é exportado para o Chile, Uruguai, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Brasil, países vizinhos. No entanto, o ovo industrializado congelado é vendido ao México, Tunísia, Iêmen e Dakar; e em pó ao Iêmen, Dakar, Equador, Venezuela, Cuba, Tailândia, Vietnã, Laos, Indonésia, Singapura, Japão, Tailândia, Madagascar, Camboja e Rússia.
Queremos entrar na Europa, porque estão importando ovos. No entanto, no momento não podemos entrar, já que existem barreiras tarifárias. Querem que produzamos sob suas normas de bem-estar animal.
AN O que você espera para o futuro?
JP Espero uma indústria onde os desafios não passem apenas pelo bem-estar animal. Me parece que são temas que precisam ser abordados. Eu visualizo, dentro de alguns anos, ovos que contenham aditivos naturais, enriquecidos com minerais como ferro, selênio e, também, vitamina B, vitamina E, vitamina D: ovos opcionais. Aspiro, de 2025 a 2030, que surja um novo ovo, que tenha mais de uma habilidade depois de cozido e não dure um período curto. Na Europa estão sendo realizados importantes desenvolvimentos, que fazem (ovo) durar mais de dois meses depois de cozidos. Buscar uma maneira de processamento que permita ter um ovo cozido na geladeira por mito mais tempo do que temos agora.
Conseguir que o ovo seja um produto mais homogêneo e parecido possível. Eu acredito que nos próximos 7 ou 8 anos, em nível global, vamos ter uma avicultura de precisão, que inexoravelmente, aquele que não entrar nesse caminho, ficará de fora da autopista do progresso.