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Leucina digestível na alimentação de codornas japonesas em crescimento

Escrito por: Mariani Ireni Benites - Zootecnista, Mestre em Produção de aves e suínos Doutoranda na Universidade Estadual de Maringá
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leucina digestível, codornas

O mercado avícola está em constante desenvolvimento e com a coturnicultura não é diferente. Adequando-se às novas tecnologias de produção e ao mercado consumidor, a criação de codornas vem demonstrando crescimento expressivo no Brasil.

Dados do IBGE (2020) referentes à produção de 2019, mostram que o Brasil:

produziu 315,6 milhões de dúzias de ovos de codorna,

com um efetivo de 14,4 milhões de cabeças alojadas no País,

o que significa um aumento de 16,3% na produção de ovos e de 3,4% no rebanho, se comparado ao ano anterior.

 

Esse aumento representa uma maior eficácia na produção de ovos, já que o aumento da produção foi muito maior do que o aumento no número de aves alojadas.

Essa otimização do potencial genético acontece não somente por meio das inovações nos modelos de criação das codornas, mas também pelo fornecimento cada vez mais preciso das exigências nutricionais, baseadas em estudos e experimentos realizados na realidade do Brasil para a determinação dessa exigência.

 

 

O grupo de estudos em nutrição de codornas (GENCO) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) se dedica a explorar os melhores níveis nutricionais da espécie.

E uma das linhas de pesquisa refere-se à proteína ideal, determinando a exigência dos aminoácidos para que não haja excesso, nem deficiência dos mesmos. Recentemente, foi realizado um estudo da leucina na alimentação de codornas japonesas.

 

 

A leucina faz parte dos aminoácidos de cadeia ramificada, que compreendem três aminoácidos neutros hidrofóbicos, são eles:

a leucina,

isoleucina e

valina.

 

Caracterizados por sua estrutura de cadeias laterais ramificadas (Figura 1).

Estes três fazem parte dos dez aminoácidos considerados dieteticamente essenciais para as aves, pois não podem ser sintetizados a partir de outras substâncias, e devem, portanto, estar presentes na alimentação.

Figura 1. Estrutura dos aminoácidos de cadeia ramificada (Nelson e Cox, 2014).

 

Os aminoácidos de cadeia ramificada constituem quase 50% dos aminoácidos indispensáveis que estão presentes nos alimentos. Portanto, suas deficiências são raras e não ocorrem naturalmente.
Por esse motivo o crescente interesse dos nutricionistas em compreender as interações, exigências e o metabolismo desses aminoácidos nas aves tem focado principalmente nos efeitos do consumo excessivo desses aminoácidos individualmente e nas relações metabólicas entre eles, ao invés de problemas relacionados a ingestões inadequadas.

Algumas pesquisas foram feitas recentemente para determinar as exigências de valina e isoleucina em codornas (Santos et al., 2016; Viana et al., 2017; Alves et al., 2017; Paula et al., 2017). No entanto, poucos estudos foram focados em determinar as exigências de leucina, principalmente em fase de crescimento.

 

 

Pensando nisso, foi realizado um experimento no setor de coturnicultura da Fazenda Experimental de Iguatemi pertencente a UEM, a fim de avaliar o efeito dos níveis crescentes de leucina digestível na alimentação de codornas japonesas de 1 a 42 dias de idade.

 

Foram utilizados:

Cinco níveis de leucina digestível (1.30, 1.40, 1.50, 1.60 e 1.70%);
Todas as rações foram formuladas para atender as exigências nutricionais de codornas japonesas na fase de cria (1 a 14 dias) e recria (15 a 42 dias), de acordo com as recomendações feita por Rostagno et al. (2017), menos para leucina, já que esse nutriente foi extrapolado a fim de avaliar seus efeitos.

Foi adicionado ácido glutâmico para tornar as rações isoproteicas.

Foram utilizadas 750 codornas japonesas fêmeas, distribuídas em um delineamento inteiramente ao acaso, composto pelas cinco dietas experimentais, sendo seis boxes por dieta, com 25 aves cada.

Parâmetros de desempenho e composição química corporal foram avaliados aos 14 e aos 42 dias de idade.

E os dados foram analisados por regressão polinomial para os níveis de leucina digestível, sendo considerado significativo estatisticamente quando P<0,05.

 

 

Apesar da leucina ter como principal função estimular a síntese proteica, os resultados desse experimento demonstraram, com o aumento dos níveis de leucina digestível na dieta aos 14 e aos 42 dias de idade:

menor peso corporal e

menor ganho de peso.

Já o consumo de ração e conversão alimentar não apresentaram diferença estatística. 

 

Gráfico 1. Peso corporal de codornas japonesas aos 14 dias de idade alimentadas com níveis crescentes de leucina digestível.

Gráfico 2. Ganho de peso de codornas japonesas de 1 a 14 dias de idade alimentadas com níveis crescentes de leucina digestível.

 

Gráfico 3. Peso corporal de codornas japonesas aos 42 dias de idade alimentadas com níveis crescentes de leucina digestível.

Gráfico 4. Ganho de peso de codornas japonesas de 15 a 42 dias de idade alimentadas com níveis crescentes de leucina digestível.

Os aminoácidos de cadeia ramificada, por serem estruturalmente semelhantes, têm uma rota metabólica comum, compartilhando os mesmos sistemas de transporte, através da membrana celular, e usando as mesmas enzimas para sua degradação (Harper et al., 1984).

Por este motivo estudos demonstram que, principalmente o excesso de leucina na dieta, deprime o uso de valina e isoleucina pelos animais, diminuindo seu desempenho (D’Mello, 2003). O que pode explicar os resultados obtidos nesse estudo em questão.

 

O excesso de leucina na dieta acarreta em uma menor absorção e maior degradação da valina e isoleucina, diminuindo os níveis séricos destes aminoácidos no sangue; podendo ainda induzir à diminuição de outros aminoácidos no cérebro (Choi et al., 2013).

De acordo com Soumeh et al. (2015) e Morales et al. (2016), esse antagonismo pode ser atenuado com o aumento dietético dos aminoácidos valina e isoleucina.

 

 

Por outro lado, as análises de composição química corporal apresentaram efeito significativo (quadrático) somente para a taxa de deposição de proteína aos 42 dias de idade, indicando a estimativa de 1,44% de leucina digestível para uma maior deposição de proteína.

Gráfico 5. Taxa de deposição de proteína corporal de codornas japonesas de 15 a 42 dias de idade alimentadas com níveis crescentes de leucina digestível.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lembrando que a proteína está presente não só como músculos nas aves, mas também está presente no:

tecido conjuntivo,
colágeno,
pele,

unha,

pena e bico,

além de atuar na formação de hormônios, enzimas e ovos.

 

Por isso é muito importante que as aves terminem a fase de crescimento com reservas suficientes para manter um elevado nível de produção de ovos, além do que aves abaixo do peso ideal produzirão ovos pequenos.

São necessários mais estudos sobre esse antagonismo com codornas japonesas.

Porém, fica claro com os resultados do presente estudo, que não somente a falta de aminoácidos leva a prejuízos no desempenho, como também o excesso destes pode provocar algum desbalanço aminoacídico, o que leva a resultados não satisfatórios.

 

 

 

 

Alves, W. J., Viana, G. S., Barreto, S. L. T., Muniz, J. C. L., Hannas, M. I., Silva, A. D., Barros, V. R. M. S. (2017). Optimum Digestible Valine to Lysine Ratio for Meat-Type Quails from 15 to 35 Days of Age. Revista Brasileira de Ciência Avícola, 19(2), 185-190.

Choi, S., DiSilvio, B., Fernstrom, M. H., Fernstrom, J. D. (2013). Oral branched-chain amino acid supplements that reduce brain serotonin during exercise in rats also lower brain catecholamines. Amino acids, 45(5), 1133-1142.

D’Mello, J. P. F. (2003). Amino Acids in Animal Nutrition. 2nd ed. Wallingford: CABI Publishing, 544.

Harper, A. E., Miller, R., Block, K. P. (1984). Branched-chain amino acid metabolism. Annual review of nutrition, 4(1), 409-454.

Morales, A., Arce, N., Cota, M., Buenabad, L., Avelar, E., Htoo, J. K., Cervantes, M. (2016). Effect of dietary excess of branched-chain amino acids on performance and serum concentrations of amino acids in growing pigs. Journal of animal physiology and animal nutrition, 100(1), 39-45.

Nelson, D. L., Cox, M. M. (2014). Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6 ed. Sarvier. São Paulo. 

Paula, E. D., Barreto, S. D. T., Reis, R. D. S., Umigi, R. T., Lima, H. J. D., Pereira, D. C. O. (2017). Ratio of valine to lysine in diets for laying Japanese
quail.
PUBVET, 11(3), 306-312.

Rostagno, H.S.; Albino, L.F.T.; Hannas, M.I.; Donzele, J.L.; Sakomura, N.K.; Perazzo, F.G.; Saraiva, A.; Teixeira, M.L.; Rodrigues, P.B.; Oliveira, R.F.; Barreto, S.L.T. e Brito, C.O., 2017: Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 4 ed. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.

Santos, G. C. D., Garcia, E. A., Vieira Filho, J. A., Molino, A. D. B., Pelicia, K., & Berto, D. A. (2016). Performance of Japanese quails fed diets with low-protein and isoleucine. Acta Scientiarum. Animal Sciences, 38(2), 219-225.

Soumeh, E. A., van Milgen, J., Sloth, N. M., Corrent, E., Poulsen, H. D., Nørgaard, J. V. (2015). Requirement of standardized ileal digestible valine to lysine ratio for 8-to 14-kg pigs. animal, 9(8), 1312-1318.

Viana, G. S., Barreto, S. L. T., Muniz, J. C. L., Arnaut, P. R., Santana, L. C., Alves, W. J., … & Tizziani, T. (2017). Optimum Dietary Standardized Ileal Digestible Isoleucine to Lysine Ratio for Meat-Type Quails in the GrowingFinishing Phase. Revista Brasileira de Ciência Avícola, 19(3), 417-420.

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