Manejo alimentar
Para ler mais conteúdo de aviNews Brasil 3 TRI 2024
Manejo alimentar
Tendo em conta que a galinha demonstra, naturalmente, comportamento seletivo na ingestão da partícula de alimento consumida e que, no sistema de criação alternativo, os animais não estão sujeitos a apenas um pequeno pedaço de comedouro onde escolhem as suas partículas, nem ao seu restrito grupo hierárquico, o maneio da alimentação do lote nesse novo tipo de sistema tem forçosamente de ser diferente.
Também é importante considerar que, devido ao livre movimento das aves, o gasto energético desses animais será, obviamente, maior. Assim, é vital estimular o consumo diário de ração para, em recria, alcançar o desenvolvimento corporal adequado e, em postura, garantir o aporte nutricional necessário para assegurar a manutenção corporal da ave, bem como atingir a produção desejada.
É objetivo deste pequeno guia informar acerca de estratégias simples e importantes a aplicar em recria e postura para assegurar o melhor manejo alimentar possível às aves.
O mais importante de todos os processos de manejo alimentar é assegurar o correto esvaziamento dos comedouros diariamente. Esvaziar o comedouro tem diversas utilidades:
Salienta-se, contudo, que apenas deve ser praticado o esvaziamento do comedouro caso se trabalhe com densidade animal adequada para permitir a todas as aves acesso aos comedouros, respeitando a legislação em vigor.
O esvaziamento do comedouro deve ser realizado diariamente tanto em recria quanto em postura. Pode-se recorrer ao mesmo mais do que uma vez no dia. Há, inclusive, casos bem-sucedidos de criadores que apenas trabalham com alimentação em bloco após cada esvaziamento do comedouro, o que requer grande prática e controlo, como será explicado de seguida.
Tudo é adaptável quando trabalhamos em sistemas alternativos.
O início do processo poderá ser antecipado, caso se opte por trabalhar com comedouros mais vazios, por menor débito a cada passada, ou atrasado, caso coincida com a abertura do equipamento, uma vez que não é desejável aplicar mudanças em qualquer âmbito da vida das aves quando já estamos desafiando as frangas a sair do equipamento, explorar o ambiente e obrigá-las a regressar ao mesmo equipamento para se alimentar, hidratar e dormir.
Desta forma, conclui-se, que será dever do criador ponderar o melhor momento a iniciar o processo de esvaziamento do comedouro e adaptar-se à resposta dada pelas aves ao mesmo processo, nunca forçando as aves a adaptarem-se à sua vontade.
Em postura, passada a primeira semana de adaptação ao galpão de postura, de forma a garantir que os animais explorem o equipamento e conheçam a localização de todos os pontos de alimentação e água, o esvaziamento dos comedouros deverá ser iniciado de imediato.
Recomenda-se realizar o esvaziamento do comedouro após a primeira passagem de ração pela manhã. Essa decisão deve-se sobretudo a utilidade dessa aplicação em postura. Regra geral, um lote de aves adultas demora entre 4-6 horas a esvaziar os comedouros, o que coincide favoravelmente com a janela de 6-8 horas que galinhas castanhas estão em processo de postura após o início do dia (já que temos que considerar o tempo necessário para o início da atividade diária e a primeira alimentação).
Deste modo será possível coincidir a segunda passagem de ração após a maioria das aves já ter posto.
O processo de esvaziamento dos comedouros é muito simples: após a primeira passagem de ração apenas voltaremos a fornecer alimento às aves após os comedouros estarem vazios. Contudo há três pontos a ter em atenção:
O que é um comedouro vazio?
Um comedouro vazio não é um que tenha apenas pó, nem que se veja parte da corrente de distribuição (Figura 1). Um comedouro vazio é um que esteja realmente completamente vazio ou com uma quantidade ínfima e residual nele (Figura 2).
O criador não deverá temer prejudicar o lote com o esvaziamento do comedouro, mesmo que essa recomendação vá totalmente de encontro a sua mentalidade de trabalho.
Sabemos que incomoda a maior parte dos criadores permitir os comedouros estarem completamente vazios, tal como se exige. Contudo, a alimentação das aves após um esvaziamento apenas parcial é completamente inútil para atingir os objetivos previamente elucidados neste guia.
Como ultrapassar diferenças entre os distintos pisos do galpão?
É frequente verificarmos que ainda há ração em um piso quando já está esgotada em outro, principalmente por se verificar irregular distribuição das aves pelos distintos pisos do equipamento. Apresenta-se três possibilidades ao criador, da mais preferível à menos, segundo nossa opinião:
1. Trabalhar com diferentes níveis de débito de ração em cada piso; tendencialmente será o piso superior o que levará mais tempo a esvaziar.
Afinando o processo ao final de alguns dias, acertar a hora em que temos os diferentes comedouros vazios. Um desfasamento de 10-20 minutos entre esvaziamento de comedouros de diferentes pisos não é problema.
Este pequeno período de fome imposto as aves do piso que esvazia primeiro não irão causar qualquer prejuízo ao lote.
2. Encontrar o piso-chave do esvaziamento de comedouros.
Esse será, naturalmente, o 2º piso a esvaziar, de forma a que, utilizando o esvaziamento do comedouro desse piso como sentinela, será ativada a nova passagem de ração.
A utilização desse piso sentinela, porém, obrigará, forçosamente, sujeitar as aves do primeiro piso a esvaziar os comedouros a um período de fome, sem garantir total esvaziamento dos comedouros do piso retardatário.
3. Trabalhar com horários de passagens de ração distintos entre os diferentes pisos.
Nomeadamente eliminando passagens de ração no piso onde o consumo é menor e o esvaziamento mais lento. Ainda que seja uma forma possível de trabalhar, requer muita prática e atenção, sendo um processo complexo e ainda mais desafiador.
Não é necessário recorrer a período algum de fome. Após a verificação do correto esvaziamento do comedouro já estaremos seguros que larga parte das aves está há suficiente tempo sem comer, pelo que o estímulo da próxima passagem será suficiente para atraí-las.
Já as aves que comeram por último, não só não serão tão estimuladas pela nova passagem como, por possivelmente estarem no fundo da pirâmide hierárquica, tampouco poderão alcançar os comedouros aquando da nova passagem de ração.
A alimentação após o esvaziamento dos comedouros deve ser dupla, ou seja, deverão ser encaixadas duas passagens de ração intervaladas por 30-45 minutos. Tal se deve ao facto das aves que estão acima na pirâmide hierárquica serem as primeiras a se alimentarem, selecionando o grão, que não restará às aves que vierem de seguida.
Isso poderá afetar negativamente o consumo total de ração dessas aves, bem como fornecer-lhes aporte nutricional diário inadequado.
É possível aplicar o esvaziamento dos comedouros com qualquer apresentação de ração?
Somos da opinião que a melhor forma de apresentação da ração é a farinhada, desde que de apresentação homogênea.
Teoricamente, a migalha seria uniforme e distribuída toda ela por igual. Porém sabemos que mesmo a migalha apresenta um componente em pó, seja por dificuldade de fabrico, ou por quebra da partícula durante transporte ou distribuição da ração dentro do pavilhão.
Nesse caso, sim, também com migalha deverá ser tentado recorrer ao esvaziamento do comedouro.
Salienta-se, todavia, que todo o processo é muito mais difícil, já que aves alimentadas com migalhas são ainda mais refratárias a ingerir a parte fina da ração, o que pode limitar em demasia as passagens de ração diárias, impactando negativamente a alimentação do bando. Explicados os quatro pontos de costumeira dúvida quanto à implementação do esvaziamento do comedouro, apresenta-se, de seguida, esquema para aplicação do mesmo:
A modificação dos tempos de alimentação ou a diversificação dos mesmos entre os diferentes pisos do equipamento, quer em recria como em postura, poderá ser útil para combater problemas de acúmulo de animais em determinado piso, auxiliar na subida das aves para o equipamento antes do apagar das luzes ou aumentar o número de aves nos pisos mais próximos aos ninhos.
Todavia, convém esclarecer que a sua eficácia é limitada sendo o corte de água nos diferentes pisos mais eficaz, ainda que muito mais agressivo e capaz de causar maior dano ao lote, em caso de errada execução.
A utilização da ração como promotora de movimento é simplesmente executar passagens mais amiúdes junto ao local onde se deseja concentrar os animais, tendo em conta que, mesmo sem período de fome envolvido, o estímulo sonoro das cadeias de distribuição de ração é capaz de atrair animais para junto desses comedouros.
Uma ocasião em que esse procedimento é particularmente útil é, durante o período de recria, realizar a última passagem de ração, 30 minutos antes do início do apagar das luzes, concentrando maior número de animais no equipamento e, consequentemente, reduzindo o número de animais no solo durante o processo de dimming.
Mesmo sendo simples a execução do procedimento, é necessária constante monitorização dos consumos de ração diários, para excluir a possibilidade de se estar diminuindo o mesmo, uma vez que o estímulo constante para alimentação promove o comportamento seletivo e, consequentemente, desequilíbrio nutricional e queda do consumo diário.
Em caso de insucesso no resultado obtido, o procedimento deverá ser abandonado, não exagerado em duração ou severidade. É importante também ter claro que a execução desse procedimento irá deslocar todo o protocolo de alimentação diário.
Assim, se já é requerido o afinamento constante dos horários de alimentação tanto na recria quanto na postura, ainda mais essencial se torna quando ao esvaziamento de comedouros se soma este novo procedimento.