Evita o contato direto com o chão ou piso;
Para ler mais conteúdo de aviNews Brasil 1T 2022
A avicultura representa um dos grandes pilares da economia brasileira, movimentando capital e gerando empregos, sendo o Brasil um dos maiores exportadores mundiais de aves.
Também é uma das mais competitivas e isso se deve principalmente pela maneira como produzimos, baseada na ciência e sustentabilidade.
Quando falamos em sustentabilidade um dos insumos de maior impacto é a matéria-prima utilizada para a cama das aves, o seu uso e destino. Pode ser de diferentes materiais, sendo os mais comumente utilizados a maravalha e a casca de arroz.
A cama de aviário é utilizada para oferecer uma melhor qualidade de vida às aves durante sua permanência no galpão, pois:
Evita o contato direto com o chão ou piso;
Evita a formação de calos de pata e peito nos animais;
Como a ave está em contato contínuo com a cama, esta deve ter um volume adequado para contribuir com o bom desenvolvimento dos animais, evitar oscilações de temperatura e não acumular umidade excessiva, o que pode afetar negativamente no ganho de peso e conversão alimentar das aves.
Outra característica importante é que a cama estará em contato com a ave de um dia e esta não está imunologicamente preparada para combater possíveis patógenos presentes na cama e mais facilmente será infectada.
Recomenda-se que estes materiais passem, preferencialmente, por um tratamento térmico ou outro capaz de reduzir os riscos, que sejam armazenados em locais fechados e sem a possibilidade de acesso de roedores, pássaros ou outras possíveis fontes de contaminação. |
Com o crescimento da avicultura brasileira surgiu a necessidade de alternativas para reduzir os volumes utilizados destas matérias-primas e também os volumes de cama destinada ao meio ambiente.
Iniciou-se então o processo de estudo e avaliação para a reutilização da cama, inicialmente por 2 ou 3 lotes, e conforme as pesquisas foram dando segurança este período foi ampliado.
A grande vantagem da reutilização da cama entre lotes de aves de corte é a sustentabilidade, porém não devemos esquecer que a reintrodução frequente de origens não controladas pode representar um risco à saúde das aves.
A reutilização quando feita adequadamente favorece o controle de algumas bactérias, como por exemplo, as salmonelas.
As não patogênicas participam de complexos processos de reciclagem dos nutrientes excretados pelas aves, tais como os que atuam na decomposição do ácido úrico, resultando em amônia, e os proteolíticos que produzem enzimas (proteases) que decompõem proteínas da excreta.
O grupo dois, no entanto, é o grupo de interesse quando se considera riscos microbiológicos da reutilização de cama, sobretudo os agentes zoonóticos, devido às suas implicações em saúde pública.
A Salmonella é a mais comumente encontrada e que tem impacto em segurança alimentar mais relevante. Bactérias como Escherichia coli e Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens, entre outras, também podem estar presentes na cama e atuar como patógenos oportunistas ou contaminantes de alimentos.
O tratamento adequado das camas, nos intervalos entre lotes e na sua retirada, é um processo fundamental para prevenir a disseminação de patógenos para as aves e ambiente. |
Existem vários métodos de descontaminação da cama que podem ser utilizados sozinhos ou associados, dependendo do desafio. Os mais conhecidos e aplicados são:
Fermentativos;
Acidificantes;
Alcalinizantes;
Redutores de umidade.
Os trabalhos de pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves (SC) têm sido fundamentais na validação destas metodologias. Estudos realizados comprovam a eficiência dos métodos fermentativos e de alcalinização no controle de Salmonella e enterobactérias.
“Os experimentos demonstraram que o método é efetivo sobre o vírus da Doença de Gumboro, um modelo viral altamente resistente ao ambiente. A estratégia também pode ser recomendada para inativar vírus aviários residuais com características de resistência equivalentes”, destaca Clarissa Vaz, pesquisadora da Embrapa. |
O estudo é usado como referência pelo serviço veterinário oficial e agroindústrias avícolas. Desta vez, a confirmação científica do efeito do procedimento sobre os vírus aviários é importante para auxiliar nas orientações aos produtores e na fiscalização pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Um bom manejo da cama no intervalo entre lotes, aliado a um tempo mínimo, assegura a saúde das aves e do consumidor.
Atualmente, os métodos mais utilizados são:
Fermentação plana associada ou não à alcalinização.
A determinação do método empregado segue as orientações das empresas produtoras, as quais avaliam os desafios, estruturas, tempo de intervalo e resultados.
Sabe-se que, para a efetividade destes procedimentos, alguns passos são primordiais e os resultados estão diretamente ligados a eles.
Para todos se recomenda que, logo após a saída das aves, as etapas de tratamento sejam realizadas como:
queima de penas, remoção de cascas ou quebra em partículas menores, adição de umidade se necessário e cobertura com lona. Quando o método escolhido for o de alcalinização após queima de penas e retirada de cascões, o alcalinizante deve ser incorporado. |
A escolha do material e o bom manejo de reutilização estão diretamente relacionados com a qualidade do ambiente em que as aves estarão expostas. |
Excessos de umidade resultam em desconforto para as aves e consequentemente estresse, levando a:
Aumento de condenações por dermatites;
Baixo aproveitamento de patas pela presença de calos e de outros desafios.
Também é conhecido que bactérias como a salmonela têm sua multiplicação aumentada nestas condições. As falhas também levam à presença de altos níveis de amônia, muito prejudiciais ao bom desenvolvimento das aves e de sua saúde.
O reaproveitamento de cama é indicado quando os lotes não apresentam problemas sanitários, como desafios respiratórios com alta mortalidade e aerossaculites, entre outros. Também, por normativa, não se faz a reutilização em casos de salmonelas imóveis e S.Typhimurium e S.Enteritidis.
A cama de aves, após a criação de dois ou três lotes, constitui-se de um material absorvente acrescido de fezes, penas, insetos e restos de ração. Sendo assim, a microbiota da cama é muito similar à excreta das aves.
O manejo adequado da cama deve ser capaz de eliminar os micoorganismos indesejáveis, patogênicos ou não para as aves, e manter sua capacidade de proporcionar um ambiente agradável para o bem-estar das mesmas.
O manejo adequado da cama deve fazer parte de qualquer empresa desde sua concepção. Desde a disponibilidade e origem dos materiais, reutilização e destino após o uso, mantendo-se assim uma cadeia de produção sustentável, sem causar danos às aves e ao meio ambiente. |