A utilização de plantas com fins medicinais para tratamento, cura e prevenção de doenças, é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade (VEIGA Jr. & PINTO, 2005).
Nos últimos anos, aumentou o interesse no estudo de moléculas bioativas em plantas, devido a crescente popularidade dos medicamentos fitoterápicos para humanos e animais.
Partes das plantas como raiz, caule e folhas fornecem substâncias bioativas que podem ser empregadas na obtenção de medicamentos. As plantas utilizadas na medicina tradicional estão sendo também cada vez mais estudadas por serem possíveis fontes de substâncias com atividades antimicrobianas frente a microrganismos prejudiciais a saúde (MENDES et al., 2011).
Dentre as espécies de plantas conhecidas, 10% contém Extratos Herbais, sendo denominadas plantas aromáticas (Svoboda & Greenaway, 2003).
As propriedades bioativas presentes em Extratos Herbais e Óleos Essenciais, produzidos pelas plantas, como consequência do seu metabolismo secundário, mostraram-se eficientes no controle do crescimento de uma ampla variedade de microrganismos, incluindo fungos filamentosos, leveduras e bactérias, o que evidencia o potencial das plantas no combate a esses organismos patogênicos (DUARTE, 2006).
Estas substâncias geralmente não encontram-se na planta em estado puro, mas sob a forma de complexos ou traços, cujos diferentes componentes se completam e reforçam sua ação sobre o organismo em questão.
Os compostos secundários de plantas são usualmente classificados de acordo com a sua rota biossintética. As três principais famílias de moléculas são, geralmente, os compostos:
Terpênicos
Alcaloides.
Destacam-se aproximadamente 3 princípios ativos em grande quantidade em cada espécie de plantas aromáticas (aproximadamente 70%), o restante se apresenta em pequenas quantidades denominadas “traços” (aproximadamente 30%).
A combinação entre os princípios ativos ou metabólitos secundários é o que determina a intensidade do impacto total sobre determinada ação.
Isso leva à conclusão de que esses metabólitos isolados (ou mesmo sintetizados) não terão o mesmo impacto quando comparados a uma mistura de componentes atuando de maneira sinérgica. Acredita-se que, mesmo uma substância em concentrações muito baixas, tenha uma função significativa e essencial para determinado fim.
Os Extratos Herbais podem ser obtidos por meio de diferentes processos, sendo que os mais utilizados são a maceração, infusão, percolação, digestão (planta e solvente), destilação e secagem (MARTINS et al., 2000).
Segundo OETTING (2005), a principal diferença entre os Extratos Herbais e os Óleos Essenciais é o método de extração. Os óleos essenciais, apesar de não deixarem de ser considerados Extratos Herbais, são obtidos somente pelo método de extração a vapor.
Figura 1. Fatores que interferem diretamente na qualidade dos Extratos Herbais
É por esse motivo que a composição dos constituintes metabólicos de uma planta pode variar de acordo com o clima, solo, chuvas, estação do ano, período de colheita, cultivo, parte da planta utilizada e fase de desenvolvimento em que foi colhida (COSENTINO et al., 1999; MARINO; BERSANI; COMI, 1999).
Os princípios ativos dos vegetais são moléculas de baixo peso molecular, e como já comentado, oriundas do metabolismo secundário dos vegetais. Estes compostos são produzidos como um mecanismo de defesa da planta contra fatores externos, tais como estresse fisiológico (falta de água ou nutriente, por exemplo), fatores ambientais, proteção contra predadores e patógenos, e na atração de organismos benéficos e polinizadores (Figura 1).
Outra fonte de variação que deve ser levada em consideração é o método de extração/destilação e estabilização utilizado, e o tempo e condições de armazenamento (HUYGHEBAERT, 2003).
Muito se discute sobre a atribuição do uso dos aditivos promotores de crescimento na pressão seletiva dos genes de resistência aos antimicrobianos que afetam a terapia antibiótica humana. Consequentemente, o uso destes antimicrobianos químicos em alimentos para animais está sendo reduzido, ou, em alguns países, banido completamente (BEDFORD, 2000).
Com relação à nomenclatura, frequentemente os profissionais da área animal deparam-se com dúvidas acerca do emprego correto de termos farmacológicos. Dentre esses, está a utilização das palavras fitoterápicos ou fitogênicos, que de acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada número 48 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2004), são termos distintos e que devem ser utilizados de maneira correta na nutrição animal.
FITOTERÁPICO
A terminologia fitoterápico designa os medicamentos que utilizam exclusivamente matérias–primas vegetais ativas e que assim como todo medicamento deve existir a caracterização da sua eficácia e risco de seu uso por meio de estudos etnofarmacológicos, além de permitir a reprodutibilidade e controle de qualidade (BRASIL, 2004).
FITOGÊNICOS
Enquanto que, fitogênicos são produtos compostos de Óleos essenciais e/ou Extratos Herbais utilizados nas rações animais para serem utilizados na melhoria do desempenho animal, sem efeito medicamentoso, quer seja pelo princípio ativo ou dose utilizada (FASCINA, 2011).
Nostro el al., 2004 cita que os Extratos Herbais atuam dispersando as cadeias de polipeptídios que irão constituir a matriz da membrana celular.
Também provocam:
- Mudanças na permeabilidade e atividade da membrana celular das bactérias.
- Alterações na atividade dos canais de cálcio.
- Perturbação do equilíbrio iônico
- Perda de íons.
Esses danos ao sistema enzimático das bactérias estão relacionados à produção de energia e síntese de componentes estruturais, dificultando a condução e transporte do ATP intracelular.
Na Figura 2, é possível observar algumas características antimicrobianas da ação dos Extratos Herbais
Segundo Kohlert et al. (2000), os princípios ativos dos Extratos Herbais são absorvidos no intestino pelos enterócitos e metabolizados rapidamente no organismo animal. Os produtos deste metabolismo são transformados em compostos polares, através da conjugação com o glicuronato e excretados na urina. Outros princípios ainda podem ser eliminados pela respiração como CO2.
A rápida metabolização e a curta meia vida dos compostos ativos levam a crer que existe um risco mínimo de acúmulo nos tecidos (Kohlert et al., 2000).
BURT (2004) confirma que Extratos Herbais e Óleos Essenciais são ligeiramente mais ativos contra bactérias Gram positivas do que contra as bactérias Gram negativas, pois os organismos Gram negativos possuem a membrana externa que envolve a parede celular, o que limita a difusão dos compostos hidrofóbicos através da sua camada de lipopolissacarídeos (Figura 3).
PROPRIEDADES ANTIMICROBIANAS DO LÚPULO
Atualmente o lúpulo é uma planta estudada na produção animal (Figura 4). Os constituintes das substâncias amargas do lúpulo (Humulus lupulus) possuem uma potente atividade antimicrobiana contra uma variedade de microrganismos (GERHAUSER, 2005; SRINIVASAN et al., 2004; LEWIS et al., 1994).
Aplicações antimicrobianas de lúpulo incluem atividade:
- Antiprotozoária
- Anticlostridial
- Antivirais
Além de várias aplicações em alimentos sob a forma de aditivos para a ração animal e uso como fonte potencial de novos antibióticos (CORNELISON et al., 2006; MITSCH et al., 2004; LEWIS K., AUSUBEL F.M., 2006).
Espécies bacterianas com susceptibilidade relatada ao lúpulo incluem:
As substâncias do lúpulo são classificadas em dois grupos: α-ácidos e β-ácidos (Figura 5), sendo que outros compostos também estão presentes de forma natural ou então formados durante a secagem e armazenamento da planta (BIENDL M., PINZL C., 2008).
Os α-ácidos (humulonas) e seus isômeros solúveis em água e os iso-α-ácidos (isohumulonas) são os principais componentes que conferem o sabor amargo deste vegetal. Essas substâncias atuam como ionóforos na parede celular bacteriana Gram positiva, causando alteração do potencial transmembrana, resultando no vazamento de ATP e morte celular (TEUBER M., SCHMALRECK A.F., 1973; SCHMALRECK A.F., TEUBER M., 1975).
As atividades antimicrobianas dos diversos mecanismos. β-ácidos são atribuídas a uma série de compostos similares, como a lupulona e seus congêneres (adupulona, colupulona, entre outros). Esta classe contribui menos para o amargor do que a classe dos α-ácidos, porém possuem maior atividade antimicrobiana devido à sua natureza hidrofóbica (SIRAGUSA et al., 2008).
Seu efeito antimicrobiano ocorre na estrutura da parede celular bacteriana, desnaturando e coagulando proteínas.
Atua também alterando a permeabilidade da membrana citoplasmática para íons de hidrogênio e potássio, causando a interrupção dos processos vitais da célula, como transporte de elétrons, translocação de proteínas, fosforilação e outras reações que dependem de enzimas, o que resulta em perda do controle quimiosmótico da célula, levando à morte bacteriana (DORMAN et al., 2000).
De acordo com Rahman e Kang (2009), o risco de que microrganismos patogênicos venham a desenvolver resistência aos Óleos Essenciais e Extratos Herbais é muito baixo, uma vez que estes produtos contêm uma mistura de substâncias antimicrobianas, que atuam através de diversos mecanismos.
REFERÊNCIAS
DUARTE M.C.T. Atividade Antimicrobiana de Plantas medicinais e aromáticas utilizadas no Brasil. Cons- truindo a história dos Produtos Naturais. Multi Ciência: Revista Interdisciplinar dos Centros e Núcleos da Unicamp, v.7 n.1, p.1-16, 2006.
DORMAN, H. J. D.; DEANS, S. G. Antimicrobial agents from plants: antibacterial activity of plant volatile oils. Journal of Applied