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Mudanças na coloração dos fígados em aves comerciais

Escrito por: Manuel Contreras
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alteraciones hepáticas por micotoxinas fígados

Conteúdo disponível em: Español (Espanhol)

Se os fígados parecem pálidos, amarelados ou congestionados, a maioria dos consumidores entende que ocorreu algum problema durante a produção nas granjas. Com frequência visitamos abatedouros de frangos, onde investigamos a razão de destas variações nos lotes.

Muitas destas mudanças de cor são provocadas porque os hepatócitos, células que formam parte do tecido hepático, estão carregadas com gordura ou pigmentos. As principais causas das mudanças na cor em aves comerciais são do tipo fisiológico, nutricional ou relacionadas com as práticas de manejo realizadas antes do transporte e abate. A ingestão de toxinas de vários tipos, incluindo as micotoxinas, também pode afetar a aparência do fígado.

Em aves adultas, a quantidade de gordura no fígado aumenta antes do início da produção de ovos porque a ave produz níveis maiores de estrógeno, um hormônio presente em altas concentrações na fase madura das aves.

Quase sempre as galinhas com um alto nível de produção de ovos dentro de um lote, apresentarão os fígados de cor marrom claro ou amarelado, como consequência dos depósitos de gordura e/ou pigmentos.

Estes nutrientes também serão transportados do fígado aos ovários para formar os folículos ovarianos, que posteriormente se transformarão em ovos.

Mudanças fisiológicas

Durante os primeiros dias depois do nascimento, os pintinhos e perus recém-nascidos normalmente apresentam grandes quantidades de gordura e pigmentos depositados no fígado. Os nutrientes provêm da gema do ovo (saco vitelino), de onde se movem até os intestinos, para passar pela via sanguínea ao fígado. Nesta etapa é comum detectar no microscópio vacúolos (espaços vazios presentes no tecido hepático) cheios de gordura.

Esta coloração é percebida por vários dias, enquanto essas gorduras e pigmentos se movem novamente do fígado aos intestinos até que, como consequência de sua eliminação, o órgão passa a ter uma cor marrom intensa, geralmente por volta dos 7 dias de idade em condições comerciais.

Algumas vezes encontramos galinhas com muitos folículos no ovário, que apresentam um fígado de cor marrom escuro. Para determinar se a coloração amarelada ou pálida do fígado é produto das mudanças fisiológicas mencionadas, ou produto de uma intoxicação com uma micotoxina, como a Aflatoxina, a histopatologia é uma ferramenta muito importante, que nos permitirá detectar lesões típicas do tecido hepático

Deficiências ou desequilíbrios nutricionais

Síndrome do fígado gorduroso e hemorrágico (FLHS, sigla em inglês)

Trata-se de uma desordem metabólica das galinhas, ocasionado por um desequilíbrio nutricional (energia/proteína), que pode ser causado por baixos níveis de proteína, ou altos níveis energéticos na ração.

Lesões: Fígados amarelados, inchados e com depósitos de gordura

A presença de hemorragia na cavidade abdominal, com a apresentação de um grande coágulo é comum, porém nem sempre está presente. Este coágulo surge quando o fígado deixa de funcionar e colapsa, permitindo que o sangue se deposite na cavidade. Se estabeleceu que rações com baixos níveis de fatores lipotrópicos, como a colina, metionina e a vitamina B 12 podem provocar infiltração gordurosa.

A acumulação excessiva de lipídeos pode ocorrer pelo mal aproveitamento do alimento ingerido, dano aos hepatócitos e uma falha subsequente. Quando usamos o termo vacuolização gordurosa em nível hepatocelular, nos referimos ao acúmulo excessivo de glóbulos de triglicerídeos e outros metabólitos das gorduras dentro do citoplasma das células.

Um hepatócito que está sobrecarregado com lipídeos acabará sofrendo necrose (destruição) em muitas ocasiões. Em lotes comerciais saudáveis é normal encontrar galinhas que apresentam FLHS depois das 45 semanas de idade: isto não significa que todo o lote está sofrendo disso, mas que algumas galinhas dentro do lote, por diferentes razões, estão apresentando o quadro.

É importante considerar que os fígados pálidos ou amarelos não necessariamente indicam que as galinhas apresentam FLHS. Aves normais que são alimentadas usando níveis altos de milho amarelo, que contém muitas xantofilas (pigmento), apresentaram uma coloração amarelada.

Síndrome do fígado e rins gordurosos (FLKS, sigla em inglês)

Está associada com a deficiência de biotina e está comprovado que quando se adiciona os níveis adequados desta vitamina, os danos produzidos são reversíveis. Sintomas: Depressão no crescimento e infiltração gordurosa no fígado, rins e coração.

Macroscopicamente, os fígados se apresentam ampliados, pálidos e, às vezes áreas, áreas do órgão com manchas de cores diferentes. A mortalidade pode chegar a cerca de 10%. Microscopicamente, detecta-se infiltração gordurosa generalizada em vários órgãos.

O quadro clínico foi relatado principalmente em frangos de corte e pintinhos de poedeiras comerciais durante as primeiras 4 semanas de vida. No entanto, também pode-se apresentar em lotes de maior ou menor idade.

Como diferenciar clinicamente se a FLHS é provocada pela Aflatoxina?

Frequentemente, se os depósitos de gordura são provocados por Aflatoxinas, as galinhas apresentam um fígado amarelado, com hemorragias petequiais e, na maioria dos casos, não se observa depósitos de gordura muito grossos. Se a síndrome é resultado de uma desordem metabólica, o conteúdo de gordura no abdômen é maior.

Práticas de manejo

Jejum antes do processamento no matadouro

Este fator é mais importante em frangos de corte pelo tipo de manejo ao qual são submetidos nas granjas. Uma prática comum na produção de frangos consiste em manter um período de jejum de cerca de 12 horas com o objetivo de reduzir a contaminação fecal das carcaças no ato da evisceração automática no matadouro. Esta contaminação pode se transformar num problema muito sério de saúde pública, no caso de as fezes estarem contaminadas com algumas cepas altamente patogênicas de Eschericia coli, ou outras bactérias como Salmonella e Campilobacter.

Uma das consequências do jejum são as mudanças de cor no fígado. Frangos que se alimentam constantemente, sem a retirada da ração, apresentam fígados com coloração mais claro, já que apresentam uma concentração de lipídeos mais alta dentro do órgão. Pelo contrário, os frangos que ficaram em jejum por 12 horas, apresentam fígados de cor mais escura porque os níveis de gordura diminuíram pela falta de ingestão de ração.

Substâncias tóxicas

Toxinas como os metais pesados, micotoxinas e algumas plantas venenosas podem provocar efeitos muito sérios no funcionamento do fígado. A Aflatoxina, considerada uma das micotoxinas mais tóxicas identificadas na natureza, pode causar vacúolos do tipo gorduroso, que pode terminar com a necrose (destruição) dos hepatócitos, além de hiperplasia dos conductos biliares e fibrose.

É importante enfatizar que a Aflatoxina afetará a síntese de proteína e, portanto, o fígado não será capaz de produzir nutrientes críticos, que são excretados normalmente pelo corpo da ave. Micotoxinas como a toxina T 2 também podem prejudicar os hepatócitos, causando hemorragias e necrose. A presença de bile pálida dentro da vesícula biliar é associada a Aflatoxicose pela redução na produção de amilase, lipase e de sais biliares. Este nível de dano termina provocando a presença excessiva de gordura nas fezes (esteatorreia) porque não ocorre a digestão adequada das gorduras.

No caso da ave é difícil observar esta condição nas fezes, do ponto de vista clínico, porque as fezes e a urina saem mescladas através da cloaca.

Efeito da fumonisina sobre o fígado

É importante realçar que, apesar de os parâmetros produtivos serem afetados nos lotes atingidos por esta micotoxina, não se observam danos macroscópicos em nível hepático, mesmo quando utilizados níveis de até 100 ppm de Fumonisina em testes experimentais. A única mudança relatada em aves, em nível experimental, é a presença de palidez no órgão. Para demostrar o dano, é necessário medir a concentração de biomarcadores (metabólitos) dos esfingolipídeos, lipídeos presentes no sangue das aves. Estes metabólitos são denominados esfingosina e esfingonina, sendo possível estabelecer relação entre ambos para determinar se o fígado foi afetado.

Avaliação post mortem na granja

A coloração do fígado logo após o abate pode mudar pela quantidade e distribuição do sangue dentro do órgão. Ao abater um frango de corte provocando um sangramento significativo (cortando a veia do pescoço), o fígado parecerá pálido porque esta técnica retira uma grande quantidade de sangre do corpo da ave. Se, pelo contrário, se abate a ave mediante o deslocamento do pescoço, não há um sangramento tão extenso e o fígado não parecerá tão pálido.

Se não se levar em consideração todos estes detalhes, será más difícil determinar se as mudanças na coloração ocorreram antes do abate (ante mortem) ou depois, além de considerar que muitas infecções virais ou bacterianas produzirão viremias ou bacteremias que podem produzir uma congestão hepática (acúmulo de sangue no fígado que o faz parecer de cor marrom mas intenso).

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