Nutrição de poedeiras criadas livres de gaiola
As exigências nutricionais recomendadas para poedeiras comerciais em sistema cage-free são realmente as mesmas de aves criadas em sistema convencional? Qual seria o melhor nível de proteína bruta em dietas de poedeiras comerciais criadas no sistema em questão?
O nicho de mercado de ovos oriundos de galinhas criadas livres de gaiola apresenta demanda significativa e em expansão, uma vez que os consumidores têm se tornado mais preocupados quanto ao bem-estar animal.
Embora mais explorado na Europa, no Brasil algumas grandes empresas anunciaram que somente utilizarão ovos provenientes de criações que considerem respeitar o bem-estar das aves a partir de 2025, de modo que as granjas já estão se estruturando a fim de atender tal modelo de criação.
Alternativo ao convencional, o sistema cage-free ou livre de gaiola permite que as aves tenham acesso a ninhos e experienciem comportamentos intrínsecos à espécie, como ciscar e empoleirar-se.
Por proporcionarem às aves a realização de comportamentos inatos, se deve salientar fatores que podem prejudicar a qualidade de vida e a produção de modo geral, tais como a possibilidade de ocorrência de fraturas e incidência de canibalismo.
Ademais, elevada atenção deve ser dada quanto às questões sanitárias, ambientais e econômicas. Embora seja uma tendência, ainda não há uma consolidação quanto às exigências nutricionais das aves nos modos alternativos de criação.
Entre os custos de produção no setor avícola, se sabe que a alimentação participa com, aproximadamente, 75% e que a energia e a proteína são as parcelas mais representativas desses custos.
Dessa forma, um dos principais desafios da nutrição de monogástricos é, de modo geral, fornecer aos animais alimentos capazes de atender as necessidades do organismo, garantindo o crescimento, a saúde e o bem-estar com máxima eficiência e mínimas perdas de nutrientes para o ambiente.
Com a liberdade de movimento facilitada pelos sistemas alternativos e a possibilidade de expressar seu comportamento inato, surgiram alguns questionamentos:
As exigências nutricionais recomendadas para poedeiras comerciais em sistema cage-free são realmente as mesmas de aves criadas em sistema convencional?
Ainda, qual seria o melhor nível de proteína bruta em dietas de poedeiras comerciais criadas no sistema em questão?
Diante destes questionamentos, um estudo foi desenvolvido na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP), em Pirassununga/SP, sob a coordenação da Prof. Dra. Cristiane Araújo do Departamento de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
Para tanto, 540 poedeiras comerciais (Hy-Line Brown) foram alojadas em boxes medindo 3,8m², contendo 6 aves/m², estando de acordo com Welfare Quality, além da presença de poleiros e ninhos como enriquecimento ambiental (Figura 1) e submetidas a diferentes níveis de proteína bruta na dieta (14 a 18%).
A fim de identificar qual nível proposto atendeu às necessidades das poedeiras, foram avaliados os dados de desempenho zootécnico dos animais (o percentual de produção de ovos, consumo de ração, peso e massa dos ovos e conversão alimentar por dúzia e massa de ovos).
Foi observado que o peso médio e a massa do ovo, bem como as conversões alimentares por dúzia e massa de ovo não foram afetados pelos níveis de proteína bruta (PB) estudados, mesmo com o consumo de ração apresentando comportamento linear positivo de acordo com o aumento dos níveis proteicos.
Entretanto, o percentual de produção de ovos e o consumo de ração diferiram significativamente (p<0,05).
Vale salientar que, com 14% de PB, o consumo de ração médio foi menor e, embora o maior percentual produtivo tenha sido obtido com 16% de PB, ambos não diferiram significativamente mediante os fatores avaliados.
Ainda, sabe-se que a redução da concentração dos níveis de proteína bruta na dieta é preferível quando se objetiva reduzir os custos dietéticos.
Ademais, a poluição por amônia é uma questão importante para a indústria avícola e pode ser diminuída pela estratégia citada.
A pesquisa encontra-se em andamento e, como próximos passos, serão desenvolvidos modelos matemáticos para o cálculo do custo de produção do ovo em sistema cage-free, a fim de se responder qual nível dietético de proteína bruta é o mais viável economicamente para o sistema.
Ainda, este modelo será capaz de estimar o custo para a adaptação de um galpão convencional de avicultura a fim de se produzir ovos em sistema alternativo.