
Para ler mais conteúdo de aviNews Brasil 3T 2022
O mundo tem vivido seguidas disrupções no fornecimento global de proteína animal. Em 2018, vimos à China experimentar os mais severos episódios de Peste Suína Africana (PSA), que dizimou aproximadamente 40% do rebanho chinês e gerou um devastador efeito na oferta de carne suína do país asiático. Responsável por metade da produção global desta proteína, a China foi às compras e incrementou nestes últimos anos suas importações de carne suína de todos os grandes produtores, entre eles o Brasil.
Anos depois, uma nova crise sanitária se alastrou pelo planeta – não falo, aqui, da triste pandemia de Covid-19. Refiro-me aos incontáveis focos de Influenza Aviária, causando estragos severos pela Ásia, Europa e América do Norte neste início de 2022.
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Estes fatos evidenciam nossa presença e nosso papel como fornecedores globais, para mais de 150 nações pelo planeta. Ressaltam nossas responsabilidades e o nosso protagonismo no tabuleiro do comércio mundial de alimentos, onde construímos uma reputação pautada em atributos como:
Neste escopo, as agroindústrias vêm buscando tornar cada vez mais claro e aberto os seus processos produtivos. Desde a integração de tecnologias que permitem ao consumidor a rastreabilidade do produto, até a adoção de estratégias de marketing avançadas que tragam uma experiência de consumo personalizada que supere expectativas, a partir de novas embalagens, cortes e produtos.
Obviamente – e invertendo o conhecido ditado – não basta parecer, é preciso ser, de fato, o que o consumidor espera. Neste sentido, as empresas têm atuado de forma bastante arrojada em todo o processo produtivo, focando a ampliação de técnicas que otimizem a produção de alimentos, com redução de perdas e manutenção da qualidade.
Os debates sobre a adoção de técnicas como a lavagem de carcaça, que reduz desperdícios e garante a qualidade dos produtos, é um exemplo disto. O manejo dos animais com atenção total ao uso racional de antimicrobianos é outro ponto, dentro da perspectiva dos conceitos de Saúde Única – com respeito à saúde humana, animal e ambiental em níveis local, regional e global -, um conceito que veio para ficar; e que encontrou em nosso setor produtivo um porto seguro.
STATUS SANITÁRIO
Neste momento, esta conquista tem feito à diferença. Vimos os níveis de exportações crescerem significativamente ao longo deste ano, com a média de exportações superando inéditos 400 mil toneladas de média mensal. Um novo recorde deve ser registrado pelos exportadores brasileiros em 2022.
Há mais de duas décadas a Influenza Aviária dita o comportamento do mercado internacional. No Hemisfério Norte – que abriga a maior parte dos grandes players produtores e exportadores avícolas -, enquanto crises de abastecimento se desenham, ocorre também o inflacionamento de produtos e o aumento da demanda por produtos externos.
Há uma tendência de retomada do confinamento de aves que seguiam modelo de produção livre. O ciclo de ocorrências nos períodos de frio do Norte tende a abrigar ocorrências futuras, demandando ao Brasil a manutenção dos níveis de produção e de capacidade de escoamento de produtos para as regiões consumidoras desabastecidas.
CUSTOMIZAÇÃO
Fonte: Mana Foods
No Japão, por exemplo, há demanda por um corte exclusivo, o kakugiri, que é um corte retangular a partir da sobrecoxa das aves, que cabe perfeitamente no tamanho padrão nos espetinhos japoneses, além da pele, bastante utilizada por lá.
No Oriente Médio, há cortes específicos para a produção do tradicional shawarma, que aqui conhecemos como “churrasco grego”; e, claro, deve atender às diretrizes do que é permitido ao islã, o halal.
Aqui fica clara uma característica própria do Brasil como exportador de carne de frango: a versatilidade e capacidade de atender a nichos de mercados. O Brasil, como estratégia, atua com o propósito de preencher lacunas, em complementaridade à produção local e atendendo e respeitando gostos e culturas locais. Assim ocorre nas 150 nações onde o país se faz presente. |
Entretanto, há obstáculos que ainda nos travam rumo a este futuro, como burocracias que travam o desenvolvimento de novos produtos. Nesse quesito, nossos concorrentes internacionais – como a Tailândia – caminham a passos largos na Pesquisa e Desenvolvimento de novos produtos, em atendimento à demanda dos mercados onde atuam.
SUSTENTABILIDADE
Aqui está um grande calcanhar de aquiles para o Brasil. Isto, não pelo que temos e fazemos e, sim, pelo que mostramos ao mundo. Nenhuma nação possui um código florestal com a rigidez da lei brasileira, ou possui patamares de preservação de mata nativa equivalentes aos nossos. Poucas nações contam com energia limpa e renovável nos padrões do Brasil. Empresas do nosso setor mantêm compromissos de Net Zero.
Entretanto, ainda sofremos com a ideia internacional de um Brasil que desmata para produzir. Não faltam iniciativas e esforços coordenados com o propósito de alterar esta percepção, como as ações encabeçadas pela ABPA junto a mercados estratégicos, e as iniciativas intersetoriais do PamAgro. Mas o protecionismo muitas vezes impulsiona atitudes pouco éticas que findam em ataques indevidos, injustos e, principalmente, difíceis de reverter.
Um dos casos mais emblemáticos é a campanha (ou cruzada) dos produtores de aves sul-africanos contra o Brasil, que findou na imposição de tarifas cujo único propósito foi proteger um pequeno e seleto grupo de grandes produtores locais de carne de frango.
Temos claro o nosso papel e nossa posição no comércio global, como protagonistas pela segurança alimentar e atuando complementarmente às produções locais. Temos sido constantemente convocados a apoiar as nações, e assim nos estabelecemos como líderes mundiais de exportações. Faz parte da nossa história, tem sido o nosso presente e faremos de tudo para que seja o nosso futuro. |