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Uma onda de calor, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), “ocorre quando, num intervalo de pelo menos 6 dias consecutivos, a temperatura máxima diária é superior em 5°C ao valor médio diário do período de referência.”
Como efeitos negativos diretos no desempenho de poedeiras comerciais, causados pelas altas temperaturas e umidade relativa estão:
Queda na produção,
Redução na qualidade dos ovos e, principalmente,
Aumento da taxa de mortalidade.
Se avaliarmos o que tem acontecido nos últimos meses, percebemos que as ocorrências de ondas de calor estão cada vez mais presentes em nossa realidade.
Neste contexto, pode-se dizer que o estresse térmico está relacionado com o resultado do balanço negativo entre:
a quantidade de calor produzida pelo próprio animal
Se considerarmos que a melhor condição seria a manutenção do equilíbrio térmico, o estresse é justamente o desequilíbrio que leva o organismo animal utilizar diferentes formas para manter-se.
As aves são animais homeotermos, ou seja, mantém sua temperatura corporal relativamente constante (aproximadamente 41ºC), mas possuem como característica a ausência de glândulas sudoríparas, o que dificulta as trocas de calor com o ambiente.
convecção,
condução,
radiação e
respiração.
Respeitar os limites da zona de termoneutralidade das galinhas poedeiras em “condições normais” já não é uma tarefa fácil e nem adotada por todos. E, em condições de ocorrência de ondas de calor as perdas ocasionadas são altamente significativas do ponto de vista econômico pelas altas taxas de mortalidade como tem acontecido no Brasil no período de primavera e verão.
Considerando as faixas ideais de temperatura para um sistema de criação, pode-se observar pela figura abaixo os limites recomendados para as diferentes fases: cria, recria e produção.
Numa simples análise direta é possível concluir que numa ocorrência de ondas de calor, as condições de produção estarão muito acima das temperaturas ideais recomendadas.
Além das condições relacionadas à temperatura, deve-se associar, na interpretação completa do ambiente físico, os valores da umidade relativa do ar. Não se avalia o ambiente de produção apenas com os valores de temperatura.
Os valores de temperatura e umidade relativa do ar, devem ser considerados conjuntamente na avaliação do microclima de um aviário.
Ainda assim, considerando:
fase da criação deve ser considerado na atualidade,
o sistema de produção, ou seja, se as galinhas poedeiras estão em sistemas convencionais (gaiolas) ou no sistema livres de gaiolas.
Este fato, que já não é simples, não pode ser tratado da mesma forma sob o ponto de vista da ambiência e do conforto das aves, pois são condições muito diferentes, apesar das aves terem a mesma zona termoneutra.
O desempenho térmico das instalações é muito diferente. Dessa forma, o olhar para ambiência deverá ser diferenciado, considerando que a ambiência de galinhas em gaiolas é totalmente diferente da ambiência de galinhas livres de gaiolas.
Ambiência: galinhas em gaiolas X galinhas livres de gaiolas
Além do calor que chega por meio da radiação solar direta, a instalação já conta com a produção de calor interna associada às próprias aves, suas excretas e da radiação solar indireta, refletida da área externa para interior da instalação, principalmente nos modelos californianos e similares que não dispõem de cortinas, ou outro anteparo para a radiação.
Retirar o CALOR interno das instalações é fundamental para manter o controle da ambiência para as galinhas poedeiras, nesse caso temos dois caminhos:
1. Evitar a entrada de calor – ISOLAMENTO (telhados, forros, cortinas, sistemas túneis, materiais com baixa condutividade térmica – bons isolantes).
2. Retirar o calor interno – VENTILAÇÃO (positiva, negativa, cruzada, que dependerá das dimensões dos galpões e do gradiente de temperatura entre o meio interno e externo, no qual definirá o fluxo de ar necessário para as galinhas).
As duas considerações acima citadas são cruciais para o bom desempenho de um projeto de controle do ambiente para galinhas poedeiras.
Mesmo assim, encontra-se no campo situações em que o controle não é eficaz. Não basta ter equipamentos de climatização se os mesmos atuam com máximo rendimento.
Na figura 2 abaixo verifica-se um galpão climatizado para poedeiras, porém, o fluxo de vento não é o suficiente para a remoção do calor interno da estrutura.
Nessas situações é importante que sejam considerados a quantidade de vapor d’água existente no ambiente de produção (umidade relativa) e o diferencial de temperatura entre a entrada (início) e a saída (final) do galpão.
Ainda deve-se atrelar ao controle das ondas de calor, a necessidade de um sistema de resfriamento eficiente. Esse manejo dependerá das condições externas onde está inserido o galpão.
Um protocolo didático, que deve ser considerado e aplicado como ponto de partida nos projetos de climatização, está associado às características psicrométricas do ar e pode ser observado na Figura 3.
A umidade relativa local é fundamental nas tomadas de decisão no manejo do sistema de resfriamento a ser adotado.
A Figura 3 deve ser utilizada como referência prática e conceitual, mostrando que em ambientes com umidade relativa acima de 80% não se deve acionar programas de nebulização ou acionamento de placas evaporativas. Infelizmente no campo é muito comum se ver o contrário.
O que reduz a temperatura interna do aviário é a capacidade que a massa de ar seco tem em evaporar. E nesse processo há um consumo de energia que reduz a temperatura. O potencial de resfriamento em função da variação de temperatura e umidade de um ambiente pode ser observado no trabalho clássico de Jin Donald (1999) na Tabela 1.
Como resolver?
Pintar o telhado de branco, independente do material de cobertura, ajuda muito a reduzir a temperatura dentro do galpão, já que esta cor facilita a refletividade solar.
Ventilação: em sistemas abertos, o manejo de cortina já dá um grande suporte para a ventilação natural. Mas em situações de calor extremo, a ventilação artificial é essencial. Ela não promove a redução da temperatura ambiente, mas ajuda a reduzir a temperatura sentida pelas aves (modifica a sensação térmica), já que atua renovando o ar próximo a elas, auxiliando o processo de convecção.
Ventilação associada à nebulização tem efeito ainda melhor, pois promove a redução da temperatura, conforme dito anteriormente inclusive tomando os devidos cuidados de acordo com a variabilidade da umidade local.
Manejo nutricional correto: pelo fornecimento de ração que permita uma menor produção de incremento calórico.
E quanto ao futuro?
Não há espaço para amadorismo quando se trata de ambiência animal. Não é mais vender equipamentos, ou climatizar uma instalação a qualquer custo, sem pensar inclusive no custo energético.
Planejamento estratégico da ambiência é o futuro na avicultura de postura e, nesse quesito, verifica-se protocolos de ambiência que vêm sendo implantados com a percepção de tratar cada galpão de forma individualizada dentro da organização avícola.
Não há espaços para o tratamento das condições de ambiência de um proprietário na forma de um pacote tecnológico que pode ser usado por todos. Cada aviário deve ser avaliado, adaptado e modificado de forma única, só assim teremos condições de enfrentar tecnicamente os problemas com as ondas de calor.
Considerações finais
Ondas de calor e calor extremo, principalmente no verão, são muito comuns em praticamente todas as regiões do Brasil. O manejo adequado da produção, principalmente no que diz respeito à instalação, deve ser sempre a primeira opção como barreira as ondas de calor.
O entendimento do manejo, de como conduzir as variáveis de temperatura, umidade relativa, velocidade do ar, e sistemas de resfriamento são fundamentais para melhorar a condição do ambiente das aves.