Proteção da progênie para salmonelas paratíficas: a influência da imunização de matrizes pesadas com vacina de subunidade via água de bebida
Biosseguridade
Para ler mais conteúdo de aviNews Brasil 2 TRI 2024
Proteção da progênie para salmonelas paratíficas: a influência da imunização de matrizes pesadas com vacina de subunidade via água de bebida
A preocupação com os diversos sorotipos de Salmonella spp. é constante em todos os elos da cadeia produtiva avícola. Atualmente, este gênero de bactéria é considerado um índice de qualidade para indústria de alimentos, países importadores para os maiores players de mercado do ramo alimentício, inclusive no segmento de carnes de aves (Queiroz et al., 2023).
Para atingir resultados satisfatórios com ausência deste patógeno no produto final, especificamente em carnes de frango de corte, exige um controle amplo desde as matrizes pesadas até as plantas frigoríficas. Desta forma, garantir procedimentos de biosseguridade já em granjas de matrizes pesadas focados em mitigar as bactérias gênero Salmonella contribuem na redução ou ausência deste patógeno (Baptista et al., 2023).
A imunização das aves através de vacinação é considerada um procedimento de biosseguridade (Mallioris et al., 2023) que atua estimulando o sistema imunológico a produzir células de defesa específicas e anticorpos (Lee et al., 2021). Dentre as tecnologias de vacinas mais utilizadas na avicultura para salmonelas paratíficas atualmente são: as inativadas intramusculares (bacterinas e autógenas) que estimulam a imunidade sistêmica, as vivas atenuadas via água de bebida e, a tecnologia mais recente, as vacinas de subunidade via água de bebida.
Apesar das vacinas inativadas apresentarem um excelente estímulo para produção de anticorpos, elas são ineficazes em estimular a resposta imune mediada por células (Babu et al., 2003). Deste modo, a ação da imunidade de mucosa através de barreiras (exemplo muco), modulação de células do sistema imune inato e imunoglobulina A proporcionam uma maior proteção, dificultando a invasão de patógenos (Muir et al., 1998).
No caso das vacinas de subunidade proteica, estas têm como mecanismo de ação em mucosas intestinais a entrada da subunidade proteica em células M ou por reconhecimento de células dendríticas na mucosa intestinal após estímulos prévios do sistema imunológico na lâmina própria intestinal (Sousa-Pereira e Woof, 2019).
Assim, a célula dendrítica tem a capacidade de apresentar a subunidade proteica como um antígeno dos linfócitos T e, em seguida, são apresentadas para linfócitos B, que se diferenciam em plasmócitos. Estes plasmócitos são responsáveis pela produção da IgA secretória, que é secretada da lâmina própria para o lúmen intestinal, neutralizando patógenos (Zmrhal et al., 2022).
Atualmente, é conhecido que a vacinação em reprodutoras de frangos de corte reduz a prevalência de salmonela na progênie (Dórea et al., 2010).
Estudos demonstraram que progênies de frangos de corte onde as matrizes pesadas foram imunizadas para Salmonella spp. apresentaram menores prevalências em caixas e forro de caixas de pintinhos, no suabe de arrasto, poeira do aviário e carcaças quando comparado a progênies de reprodutoras não vacinadas (Obe et al., 2023).
E como pode ocorrer esta transferência de imunoglobulina para progênie?
A transferência de imunoglobulinas Y (IgY) e imunoglobulinas A (IgA) para ovos está bem estabelecida, onde as IgY são transferidas pela gema do ovo e as IgA pelo albúmen e adentram a progênie a partir do dia 14 de incubação (Kaspers et al., 1996; Lee et al., 2021).
E, neste contexto, pelo fato de vacinas de subunidade estimularem principalmente a imunidade de mucosa onde a IgA é a imunoglobulina em questão, a progênie pode ser imunizada verticalmente.
Desta forma, um estudo realizado em reprodutoras de frango de corte vacinados com vacina de subunidade Biotech Vac® Salmonella via oral teve com o objetivo compreender o comportamento da formação de sIgA específico da vacina na fase de recria e produção. Além das reprodutoras (n=10), foram coletados materiais da progênie das aves vacinadas (n=10).
O protocolo vacinal com foco em prevenção de salmonela era composto de 3 doses de vacina de subunidade via água de bebida, associada a uma dose de vacina inativa intramuscular na fase de recria.
As coletas de materiais biológicos intestinais encaminhadas para análises laboratoriais imunológicas ocorreram com 10 semanas de idade (fase de recria), 30 e 45 semanas de idade na fase de produção, e as progênies com 1 dia de idade e 7 dias de idade coletadas eram provenientes das reprodutoras vacinadas.
Pode ser observado a produção da sIgA específica da vacina de subunidade em todas as fases das aves (Figura 1).
As progênies das aves com 45 semanas de 1 e 7 dias de idade também apresentaram produção de sIgA secretório (Figura 1) com limiar protetivo contra Salmonella spp. demonstrando a eficácia na prevenção desta bactéria a nível de matrizes pesadas e progênies.
Outro estudo utilizando apenas a vacina de subunidade Biotech Vac® Salmonella foi realizado para compreender o comportamento da formação de sIgA protetivo nas aves adultas e suas progênies. O protocolo vacinal utilização para o controle de salmonela foi de 3 doses de vacina de subunidade via água de bebida.
Neste estudo, as coletas de materiais biológicos intestinais foram realizadas na fase de produção com 45 semanas de idade (n=10) e nas progênies com 1 dia de idade (n=10).
Estas aves avaliadas apresentaram produção de sIgA específico da vacina (Figura 2). Além disso, as análises de isolamento de Salmonella spp. foram negativas para este patógeno.
Assim, pode-se concluir que a imunização com a vacina de subunidade Biotech Vac® Salmonella em matrizes de frango de corte induz a produção de IgA específica da subunidade como também imuniza as progênies a partir da passagem destes anticorpos a níveis protetivos.
Deste modo, a utilização de vacinas com tecnologia capaz de reduzir a carga de salmonelas paratíficas de maneira precoce nas matrizes pesadas e com potencial de produção de imunoglobulinas A ao nível de mucosa nas aves adultas e progênie associada a um bom programa de biosseguridade, garantindo segurança alimentar e um produto de qualidade para comercialização e consumo.
Referências bibliográficas sob consulta junto ao autor.