O maior impulsionador do mercado avícola mundial no segundo semestre de 2020 será a desaceleração econômica, segundo análise do Rabobank divulgada no último dia 6/7. Segundo o banco holandês, que prevê uma queda de 3,9% do PIB mundial em 2020, a desaceleração tornará os mercados globais mais voláteis e direcionados pelos preços.
“Tais condições são geralmente positivas para aves, como a proteína animal mais barata, com um ciclo de produção curto e flexível”, destaca o relatório. Segundo o documento, outro ponto que conta a favor do aumento da demanda por carne de aves no segundo semestre é a redução das medidas de isolamento social, aliada ao retorno da atividade do foodservice, que segundo o documento absorve de 15% a 60% do total de vendas de aves no mercado global.
No entanto, o documento aponta que a volatilidade pode ser acentuada nesse período devido ao que classifica como “caminho acidentado” para a recuperação. Os analistas do Rabobank consideram como fatores para isso:
- a busca dos governos para impedir que a COVID-19 se espalhe ainda mais, ou seja, reaberturas e retornos ao isolamento;
- os desafios em andamento para equilibrar a oferta e a demanda;
- além da volatilidade da taxa de câmbio.
“A demanda se recuperará à medida que as restrições nos mercados forem levantadas, mas os desequilíbrios entre demanda e oferta, volatilidade cambial e questões de acesso podem distorcer os fluxos comerciais”, destaca o relatório. “Uma tendência de compra local também pode desafiar os fluxos comerciais”, completa o documento.
Comércio Global
Os fatores destacados pelos analistas do Rabobank como possíveis obstáculos ao comércio global avícola são a relação comercial EUA-China, Brexit, e um movimento no Oriente Médio para melhorar ainda mais a segurança alimentar. Segundo o relatório, enquanto os EUA precisam recuperar seu entendimento das necessidades específicas do mercado chinês, a Rússia tem sido ativa e bem-sucedida na abertura de mercados para exportação de carne de aves.
Desde a abertura em 2019, a China assumiu o posto de mercado número um para as exportações russas de carne de frango, representando hoje 50% do comércio do país. A previsão do Rabobank é de que no próximo ano as exportações russas para a China devem aumentar ainda mais, principalmente porque a Rússia está tentando abrir uma rota ferroviária interior para a China central, o que deverá reduzir significativamente o tempo de viagem, em comparação com as rotas de navegação.
No primeiro trimestre de 2020, a carne de frango da Rússia também obteve acesso aos Emirados Árabes Unidos e ao Japão, abrindo ainda, mais recentemente, os mercados das Filipinas, Cingapura e Cuba. “Esse aumento do acesso ao mercado fez da Rússia um grande exportador mundial de aves em um curto período”, aponta o relatório.
Estados Unidos
As perspectivas dos analistas do banco holandês para o mercado avícola dos Estados Unidos são de:
- níveis historicamente altos de volatilidade no segundo trimestre de 2020;
- melhoria da demanda pelas carnes escuras (todas exceto o peito) com a redução do isolamento;
- redução da oferta de carne de frango no curto prazo; e
- previsão de crescimento de 1% na produção norte-americana de frangos em 2020.
Europa
O cenário desenhado pelos especialistas para o mercado de aves da Europa é de recuperação frágil, com:
- volta do crescimento dos preços após a volatilidade relacionada à COVID-19;
- redução das medidas de isolamento com consequente melhora da demanda; e
- redução no alojamento de pintinhos desde meados de abril.
China
Já para o gigante asiático, o cenário apontado no relatório do banco holandês é de:
- continuidade da volatilidade gerada pela Peste Suína Africana e pela COVID-19;
- ressurgimento de casos da doença provocada pelo novo coronavírus;
- baixa permanente no abastecimento de carne suína deviso à PSA; e
- alto impulsionamento da indústria avícola pelo foodservice.
Brasil
Para o mercado avícola do Brasil, a visão dos analistas do Rabobank é mais otimista. A perspectiva é de “recuperação precoce” do setor, com a melhora da demanda interna, redução nos alojamentos, tendência de queda nos custos de alimentação e valorização do produto brasileiro no mercado externo (especialmente China), ante a desvalorização do real.
A análise do banco holandês aponta que o setor brasileiro de foodservice registrou uma leve recuperação (1,5%) nas últimas duas semanas, à medida que as medidas de isolamento foram sendo afrouxadas em algumas regiões. Porém, o caminho ainda é longo ante o cenário de queda de 61% no consumo acumulado do ano no foodservice e a elevação de 16% no setor de varejo, entre 1º de março e 6 de junho.
O equilíbrio entre a oferta e a demanda ajudaram a subir, no final do mês de maio, os preços do frango congelado, que em abril haviam apresentada uma queda acentuada de 13%. Em 9 de junho, os preços foram 2% superiores ao mês anterior. Quanto aos preços do frango vivo, que também registraram forte queda mensal de 10% em abril, os preços foram recuperados em 3% em maio e a média parcial do mês de junho foi 15% superior à do mês anterior.
A produção brasileira, que no primeiro trimestre de 2020 aumentou 3% em relação ao ano anterior, segundo dados parciais, teve ritmo reduzido nos meses seguintes, devido à queda no consumo doméstico. A expectativa, segundo os especialistas do Rabobakn, é de aumento da produção no meio do terceiro trimestre.
Os preços futuros do milho indicam quedas no curto prazo, com a colheita da segunda safra se aproximando, o que representa 70% a 75% da produção. Esse aumento na oferta pressionará os preços dos alimentos, que foram, em média, 31% mais caros em maio do ano anterior.
Fonte: Rabobank