Neste artigo, os pesquisadores da Universidade Anhembi Morumbi apresentam uma revisão bibliográfica sobre a presença de Salmonella Enteritidis em carcaças de frango. Confira!
O Brasil encontra-se em posição de destaque na cadeia produtiva de carne de frango, ocupando não só o topo da cadeia exportadora, mas também é o segundo colocado na produção mundial, refletindo positivamente na ascensão de seu consumo (ABPA, 2018).
O Programa Nacional de Sanidade Avícola – PNSA realiza o monitoramento e vigilância epidemiológica de doenças avícolas, em que a Salmonelose ocupa posição de destaque.
Sendo os produtos à base de carne de frango a principal causa de surtos de enterite humana, quando associada a Salmonella spp. (CARVALHO et al., 2002 apud SOUZA et al., 2014).
Considerada um dos agentes mais frequentes de infecções alimentares a humanos, a S. Enteritidis, é uma doença de notificação imediata de qualquer caso confirmado (Ítem 3), conforme a lista de doenças de notificação obrigatória ao serviço veterinário oficial da Instrução normativa 50, de 24 de
setembro de 2013.
E quando não controlado no setor produtivo, representa em descarte de carcaças no abatedouro, denotando em significativo prejuízo econômico.
MORFOLOGIA DA SALMONELLA SPP
SALMONELLA ENTÉRICA
Salmonella entérica subespécie entérica
Salmonella entérica subespéciesalamae
Salmonella entérica subespéciearizonae
Salmonella entérica subespécie diarizonae
Salmonella entérica subespécie houtenae
Salmonella entérica subespécie indica
Quadro 1. Subespécies da Salmonella entérica. Fonte: OIE (2016).
Principalmente a S. Typhimurium e S. Enteritidis, este último, é o principal agente causador de infecções alimentares em humanos (PENHA et al., 2008).
Os microrganismos do gênero Salmonella spp. são morfologicamente, bastonetes gram negativos, não produtores de esporos, podendo ser móveis, as S. paratifoides, ou imóveis, S. Gallinarum e S. Pullorum.
Transmissão
Via vertical
Via horizontal
Meio produtivo
A contaminação ocorre no processamento da carne, através do ambiente, manipulador e contato com outras carcaças com potencial patogênico (TESSARI et al., 2008).
PREVALÊNCIA DE S. ENTERITIDIS EM CARCAÇA DE FRANGO
Rezende et al. (2005) realizou uma análise de 96 amostras de carcaças de frangos de diferentes abatedouros de aves, com e sem supervisão da inspeção federal do estado de Goiás-Brasil.
As carcaças foram colhidas dentro dos abatedouros, logo após o processo de gotejamento, sendo embaladas individualmente em sacos plásticos esterilizados, lacrados, identificados e transportador ao laboratório em caixas térmicas com gelo.
As amostras foram mantidas em suas embalagens originais e enviadas a laboratório para análise microbiológica.
Resultados
Pré-resfriamento
O pré-resfriamento pode funcionar como controle para o crescimento de microrganismos deteriorantes e patogênicos, mas corrobora também para uma possível contaminação cruzada entre as carcaças.
Chiller
O chiller é um processo dentro do abate, em que a carcaça é resfriada por aspersão de ar frio, imersão em água gelada ou com ar frio, a fim de manter a temperatura da carne baixa para se obter qualidade microbiológica e oferecer um produto seguro ao consumidor final.
Temperatura
A temperatura de carcaça está próxima a 40°C, e é reduzida a 4°C quando exposta a esses tanques de aço inoxidável, com fluxo de água clorada fria, constantemente renovada, a cada 8h.
Mas sabe-se que existe pontos de risco para a disseminação do patógeno, em que a água de pré resfriamento não atinja a temperatura adequada, não seja renovada constantemente, ou que não haja teor adequado de cloro na água, favorecendo para o crescimento da Salmonella spp. e realizar a contaminação cruzada entre carcaças (EBLING; ROSSMANN, 2016).
Assim como os níveis de cloro da água que aumentaram gradativamente durante a coleta das amostras, não havendo um padrão, e o fluxo de água estava abaixo dos níveis exigidos pela legislação, ações estas que justificam a ocorrência de 2 amostras positivas para Salmonella spp., sendo uma coletada no pré-chiller e outra no chiller.
Em um abatedouro de aves sob inspeção federal em Teresina – PI, Monção et al. (2012) realizaram uma pesquisa sobre a incidência de Salmonella spp. em carcaças de frango, que foram coletadas no período de julho à novembro de 2011.
A análise apresentou um resultado negativo à presença de Salmonella spp. nas 20 amostras coletadas.
Os autores justificam a ocorrência negativa para Salmonella spp. devido à presença e atuação rigorosa do SIF no abatedouro, assim como a adoção de medidas eficientes de evisceração, controle eficaz de temperatura e adição de cloro na água do chiller.
IMPACTOS ECONÔMICOS
Com base no estudo de Ebling e Basurco, através da utilização de dados do SIF em inspeções de post mortem em abatedouros frigoríficos de frangos de corte nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo no ano de 2011, foi possível realizar uma análise econômica dessas condenações.
Para tal, considerou-se as aves descartadas com peso médio de 2,5 kg, com valor pago de R$2,67 o kilo da carcaça fria.
Sendo que, do total das condenações, as condenações parciais representam uma prevalência de 87,71% e as condenações totais 12,29% de prejuízo.
E realizando o cálculo de conversão de perdas, as condenações totais geram um prejuízo total de R$33.986.528,79 só ano de 2011 nos frigoríficos abatedouros dos estados analisados pelos autores.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABPA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL (Org.). Relatório anual 2018.
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BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n° 50 de 24 de setembro de 2013. Lista De Doenças De Notificação Obrigatória Ao Serviço Veterinário
Oficial. Diário Oficial da União, n. 186, 25 de set. de 2013, Seção 1, p. 47.
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