Sem integração entre setores, sistema global contra influenza aviária segue vulnerável
11 set 2025
Sem integração entre setores, sistema global contra influenza aviária segue vulnerável
A aviNews Brasil é o único veículo de comunicação a realizar a cobertura presencial do Fórum Internacional, trazendo informações sobe os discursos e debates diretamente de Foz do Iguaçu. A cobertura, viabilizada a partir do apoio da MSD Saúde Animal, pode ser acompanhada no site, redes sociais e no Canal agriNews Play Brasil no youtube.
A sessão que abriu a manhã do último dia do Fórum Internacional da FAO em Foz do Iguaçu demonstrou que a influenza aviária não será controlada se os diferentes setores agirem de forma isolada. A chamada “abordagem sistêmica” para conter a enfermidade, tema central da Sessão 4, ganhou força nas apresentações de especialistas que mostraram, com exemplos concretos, os limites da biosseguridade quando não há confiança e coordenação entre saúde animal, humana e ambiental.
Oriana Beemer, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, detalhou como o NPIP (National Poultry Improvement Plan) – com 99 laboratórios autorizados em 43 estados e a participação de agências estaduais e da indústria – cria uma rede permanente de vigilância contra enfermidades. O modelo, segundo ela, tem permitido identificar fatores de risco recorrentes, como a introdução do vírus por aves aquáticas migratórias, a movimentação de funcionários sem protocolos adequados e o descarte incorreto de carcaças.
- Para reduzir vulnerabilidades, medidas práticas como planos de gestão de aves silvestres, barreiras sanitárias no transporte e auditorias periódicas vêm sendo aplicadas. “Investir em biosseguridade não é apenas um detalhe técnico: é garantir que produtores possam se manter ativos após um surto”, reforçou.
Na sequência, Robin Alders, da Universidade Nacional da Austrália, trouxe uma realidade oposta, a dos pequenos produtores. Ela lembrou que em comunidades de baixa renda, onde aves de subsistência são parte do cotidiano, doenças como Newcastle e cólera aviária (pasteurelose aviária) já causam mortalidade alta e frequente.
Sem compensação, muitos produtores sequer notificam novos casos, segundo ela. E quando as aves morrem ou adoecem, acabam sendo consumidas ou vendidas rapidamente.
“É preciso alinhar genética e sistema produtivo. Se queremos crianças bem nutridas, precisamos começar pelo básico, que é garantir saúde das galinhas que produzem os ovos que chegam à mesa”, afirmou.
O painel que se seguiu ampliou a discussão. Manuel Sanchez, da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), relatou episódios em que equipes de saúde humana e animal chegaram ao mesmo foco com protocolos diferentes de coleta de dados, o que atrasou investigações e duplicou esforços.
Charles Bebay, da FAO na África, lembrou que apenas quando a vigilância comunitária foi formalmente integrada aos mecanismos nacionais em países como Uganda, os sinais precoces começaram a ser detectados com mais eficiência.
Do sul da Ásia, Mona Lisa, do Instituto de Epidemiologia de Bangladesh, apresentou o One Health Dashboard, que conecta em tempo real dados de saúde animal e humana. Em surtos de influenza, raiva e antraz, a ferramenta já reduziu o tempo de resposta ao integrar laboratórios, veterinários de campo e hospitais, segundo ele.
“É essa interoperabilidade que transforma informação em ação”, afirmou.
A representante britânica, Klara Saville, chamou atenção para a transparência internacional. Segundo ela, o compartilhamento de sequências genômicas em plataformas como o GISAID só tem valor quando há confiança entre países e setores.
“O dado cru pode ser mal interpretado. Por isso, epidemiologistas veterinários precisam estar à frente da análise antes de qualquer publicação. Transparência, sim, mas com responsabilidade”, pontuou.
Meio Ambiente
A dimensão ambiental veio com Marcela Uhart, da Universidade da Califórnia – Davis, que criticou a falta de espaço para a fauna silvestre nas estratégias oficiais. “A primeira reação diante de mortalidade em aves selvagens ainda é negar ou esconder, quando o correto seria agir em conjunto”, disse.
Papa Seck, da iniciativa PREZODE, reforçou que sem orçamento específico, o elo ambiental continuará fora dos planos nacionais. As intervenções do público confirmaram as preocupações.
Representantes do Brasil, Caribe e Chile questionaram como manter confiança em dados que atravessam fronteiras, como traduzir consensos técnicos em políticas públicas e como incluir de fato órgãos ambientais nos planos nacionais.
A manhã terminou com a constatação de que sem integração real entre setores e sem transparência no fluxo de informações, a influenza aviária continuará cruzando fronteiras e ameaçando a produção e a saúde pública. A chamada “abordagem sistêmica” é menos uma opção e mais uma condição para enfrentar a doença.
A aviNews Brasil é o único veículo de comunicação a realizar a cobertura presencial do Fórum Internacional, trazendo informações sobe os discursos e debates diretamente de Foz do Iguaçu. A cobertura, viabilizada a partir do apoio da MSD Saúde Animal, pode ser acompanhada no site, redes sociais e no Canal agriNews Play Brasil no youtube.
Sem integração entre setores, sistema global contra influenza aviária segue vulnerável