Síndromes respiratórias na avicultura industrial: fatores ambientais, etiologia e medidas de controle
Síndromes respiratórias na avicultura industrial: fatores ambientais, etiologia e medidas de controle
Antes de iniciar a leitura deste texto, convido à reflexão com base nas informações extraídas do livro Diseases of Poultry (14ª edição, 2020, Capítulo 18 – Colibacillosis, página 783). No subitem Patobiologia e Epidemiologia – Incidência e Distribuição, encontram-se as seguintes observações:
Após refletir sobre as informações apresentadas acima, sugerimos também a visualização de um breve vídeo (1min54s), produzido por pesquisadores da Universidade de Harvard: CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR.
O vídeo demonstra, de forma impressionante, o desenvolvimento da resistência de uma cepa de E. coli a um antimicrobiano (AMC), alcançando até 1.000 vezes a dose terapêutica em apenas 11 dias.
O crescimento de E. coli em uma mega placa de Petri (Kishony Lab):
Este é um agente que merece ser estudado, em maior profundidade, por todos aqueles que trabalham na cadeia de produção de carnes e ovos.
Além de ser um patógeno de animais de produção, há muitos estudos visando correlacionar E. coli patogênicas aviárias (APECs) como uma zoonose.
Estudos mostram que algumas cepas de APEC compartilham genes de virulência com cepas humanas de E. coli extraintestinal patogênica (ExPEC), que causam infecções como:
Isso sugere que pode existir um potencial zoonótico. No entanto, ainda não há consenso científico pleno de que APEC cause infecções humanas com frequência relevante. A maioria dos casos humanos decorre de outras fontes.
Infelizmente, o uso frequente de antimicrobianos (AMC) de forma preventiva ou como melhoradores de desempenho (AMD) na produção animal contribui significativamente para o surgimento de cepas resistentes de E. coli e Salmonella spp., limitando as opções terapêuticas disponíveis.
Felizmente, a indústria avícola, cada vez mais, utiliza vacinas de linha e autovacinas para esses agentes, bem como os probióticos de múltiplas cepas, com grande êxito, para reduzir a transmissão de APECs, através da pirâmide de produção, sem riscos de desenvolvimento de resistência desses patógenos.
Com essas informações, já é possível compreender a responsabilidade do Médico Veterinário, inclusive com a Saúde Pública, ao prescrever um AMC para combater infecções por APECs que participam das Síndromes Respiratórias.
Síndromes respiratórias na avicultura industrial: fatores ambientais, etiologia e medidas de control
As doenças respiratórias representam um desafio significativo para a avicultura industrial, especialmente durante o inverno. O frio, aliado a práticas comuns de manejo nesta estação, desencadeia uma série de eventos que comprometem a saúde respiratória das aves e afetam a produtividade.
Este artigo aborda os principais fatores ambientais envolvidos, os agentes etiológicos predominantes e as estratégias de diagnóstico, prevenção e controle mais eficazes.
Durante o inverno, galpões são frequentemente mantidos mais fechados para conservar calor, não raro resultando em:
Síndromes respiratórias na avicultura industrial: fatores ambientais, etiologia e medidas de control
O MP atua como um dos principais estressores ambientais, favorecendo doenças respiratórias por:
A patogenicidade do MP é complexa e envolve três vias principais:
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Principais vírus com tropismo respiratório:
Vírus secundários: Adenovírus e Reovírus (Respiratory and Enteric Orphan Virus).
Disseminação no organismo: Além do trato respiratório, alguns vírus afetam rins, sistema reprodutivo, sistema gastrointestinal, sistema nervoso além de articulações.
Vacinação contra esses agentes: Vacinas vivas e inativadas são amplamente utilizadas contra esses agentes. As vacinas vivas podem causar reações pós-vacinais, agravadas por infecções secundárias e fatores ambientais desfavoráveis.
Síndromes respiratórias na avicultura industrial: fatores ambientais, etiologia e medidas de control
Comentários:
Atualmente, com o suporte do diagnóstico molecular, é possível identificar com precisão a(s) amostra(s) viral(ais) em circulação em um plantel ou região.
Muitas falhas vacinais não estão relacionadas ao método de aplicação ou à associação com outros agentes (como os probióticos), mas sim à tentativa de imunização com cepas virais distintas daquelas efetivamente presentes no campo. Um exemplo clássico é o caso do vírus da Bronquite Infecciosa das Aves (IBV).
Na realidade, dados científicos recentes demonstram que os probióticos podem atuar positivamente na modulação da resposta imune das aves, inclusive contribuindo para o aumento da imunidade contra cepas nefropatogênicas do IBV (referência: s40168-022-01348-2 (3).pdf).
Autovacinas também estão disponíveis para atender aves de vida longa. Novamente aqui, o isolamento correto da amostra e sua identificação molecular, aumentam as chances de se obter um produto mais eficiente.
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Comentários
Esse cuidado é reforçado pela legislação vigente e pela atuação dos órgãos oficiais de fiscalização, que contribuem significativamente para a manutenção de elevados padrões sanitários ao longo de toda a cadeia produtiva.
As vacinas para os agentes, anteriormente mencionados, estão disponíveis de forma comercial, sejam vivas ou inativadas.
No Brasil, as vacinas contra Mycoplasma gallisepticum (MG) estão disponíveis apenas para aves de postura comercial.
Devido às características do sistema de produção — com lotes de diferentes idades e, muitas vezes, de múltiplas origens —, o MG pode se perpetuar nas granjas de postura. Isso ocorre porque, diferentemente da produção de frangos de corte, é mais difícil realizar a despovoação total das granjas, dificultando o controle efetivo do agente.
Exemplos de vacinas contra Mycoplasma gallisepticum, bem como sua eficácia, são apresentados no estudo de Ferguson et al. (Avian Diseases, 56: 272–275, 2012), conforme ilustrado na figura a seguir.
Escore de lesões nos sacos aéreos, prevalência de regressão ovariana (atresia folicular), espessamento da mucosa traqueal e isolamento de Mycoplasma gallisepticum (MG) em aves vacinadas e não vacinadas, avaliadas 16,3 semanas após a vacinação e 10 dias após o desafio com a cepa R.
Conforme demonstrado no presente experimento, a vacina viva contendo a cepa F, assim como as vacinas inativadas, apresentaram os melhores resultados frente ao desafio com uma amostra de campo de Mycoplasma gallisepticum (MG).
A principal vantagem da imunização contra MG é a redução da necessidade de uso recorrente de antimicrobianos antimicoplásmicos, cuja aplicação frequente está associada a diversos efeitos indesejáveis, como:
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As doenças respiratórias em aves são, na maioria das vezes, de natureza multifatorial, sendo incomum que um único agente etiológico seja o responsável pelo quadro clínico.
A interação entre fatores ambientais, falhas de manejo e coinfecções torna o diagnóstico frequentemente desafiador.
Para o sucesso na prevenção e controle dessas enfermidades, é fundamental compreender a fisiopatologia envolvida e adotar uma abordagem integrada, que inclua o uso racional de vacinas, a aplicação de eubióticos, o aprimoramento das práticas de manejo e o rigor nas medidas de biosseguridade.
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