Vacinação em frangos de corte: o que os novos sistemas de produção precisam?
Vacinação em frangos de corte: o que os novos sistemas de produção precisam?
O Brasil possui uma indústria avícola cada vez mais dinâmica, exigente e em crescimento. Segundo a ABPA, nos últimos 10 anos, registrou-se um crescimento de 20% na produção de carne de frango, enquanto o PIB do país cresceu apenas 6,5% no mesmo período.
Esta maior exigência da indústria avícola vem levando a adequações no sistema de produção de frango de corte, as quais vêm dificultando o controle efetivo dos patógenos e o manejo da ambiência nos aviários, resultando em desafios sanitários e queda da produtividade.
Entre as principais mudanças e suas consequências negativas se destacam:
Vacinação em frangos de corte: o que os novos sistemas de produção precisam?
Desta forma, um lote de frangos pode se infectar com patógenos que ingressam na granja durante o ciclo produtivo, mas também poderão se infectar com patógenos que infectaram o lote anterior e sobreviveram no aviário após vazio sanitário curto e processos de limpeza e desinfecção deficientes.
“Em um estudo recente comprovamos que além da E. coli e Salmonela spp., patógenos virais como o vírus da doença de Gumboro e o vírus variante da Bronquite infecciosa (BI) podem manter-se viáveis após processo de vazio sanitário e procedimentos rotineiros de tratamento de cama”
Nesta situação, os pintinhos estão sendo expostos aos patógenos desde o primeiro dia de vida.
Vacinação em frangos de corte: o que os novos sistemas de produção precisam?
Muitas vezes, as infecções precoces originadas por patógenos presentes desde o alojamento das aves não serão controladas pelas vacinas aplicadas no incubatório, principalmente por aquelas que levam várias semanas para estabelecer imunidade competente.
A consequência de uma infeção dependerá de vários fatores, destacando o nível de virulência do agente infeccioso o que pode resultar em sinais leves (espirros), moderadas (aerossaculite) até severas (morte). No caso da aerossaculite, o mais comum é ter coexistência de várias causas (Gráfico 1).
Gráfico 1. Principais causas de aerossaculite em aves comerciais
As vacinas são importantes ferramentas imunoprofiláticas destinadas a criar resistência precoce e duradoura nos indivíduos imunizados. Porém, o estímulo do sistema imune das aves deve acontecer causando o mínimo prejuízo sanitário e produtivo no lote.
As vacinas, principalmente as vivas desenvolvidas por processos de atenuação insuficientes, podem causar problemas futuros no lote imunizado, sendo os mais comuns:
Este tipo de replicação persistente não apenas danifica desnecessariamente os tecidos respiratórios, mas também os predispõe a lesões e infecções adicionais. Este efeito fica mais evidente quando lotes imunizados com vacinas reativas sofrem também de problemas de qualidade de ar (principalmente no inverno), resultando em um problema respiratório agravado.
Vacinação em frangos de corte: o que os novos sistemas de produção precisam?
Um exemplo de esta situação se teve com o uso da cepa vacinal La Sota da Doença de Newcastle, a qual aplicada nos frangos levava a sérios distúrbios respiratórios. As reações pós-vacinais levam a problemas adicionais como:
No caso das vacinas contra Doença de Newcastle (DN) e Laringotraqueíte infeciosa (LTI) as vacinas vivas vêm sendo substituídas rapidamente pelas vacinas vetorizadas, as quais, por não conter vírus vivos da DN e LTI, não causam nenhuma reação nem problema de segurança.
No caso da Bronquite infecciosa, a reatividade das vacinas está relacionada ao nível de atenuação da semente viral, com isto se espera diferentes níveis de segurança entre as diferentes opções disponíveis no mercado. Assim, prefere-se as vacinas mais seguras, sustentadas por trabalhos conduzidos de forma controlada e validadas no campo.
Um estudo conduzido em isoladoras com frango de corte imunizados com diferentes cepas vacinais da Bronquite infecciosa disponíveis no Brasil, avaliou a segurança de programas vacinais mesurando aos 7 e 11 dias pós vacinação a reação clínica (sinais respiratórios), lesões macroscópicas (aerossaculite) e atividade ciliar (nível de ciliostase). Os resultados mostram diferentes graus de agressividade causados pelos programas vacinais no trato respiratório das aves (Gráfico 2).
Gráfico 2. Segurança de programas vacinais contra a Bronquite infecciosa em frango de corte criados em isoladoras. (Adaptado de Chacón et al., AAAP 2025)
Estes resultados explicam as diferentes observações obtidas a nível de campo.
“O vírus da Bronquite infecciosa, contém material genético instável, o que leva a instabilidade biológica. Assim, o desenvolvimento de vacinas a partir de vírus de campo deve ser realizado com os mais altos padrões de segurança e suportado com metodologias inovadores e validados para não gerar problemas no campo”.
Vacinação em frangos de corte: o que os novos sistemas de produção precisam?
As vacinas vivas para a doença da Laringotraqueíte infecciosa são um exemplo de vacinas reconhecidas pela sua capacidade de recuperar sua patogenicidade devido à instabilidade biológica do agente atenuado.
“Para estimular o sistema imune das aves, é necessário replicação limitada nas células alvo por um curto período e com uma taxa de replicação controlada”.
A rolagem viral traz prejuízos produtivos e distúrbios clínicos respiratórios. O fator de reprodução R define a capacidade de transmissão dos microrganismos em hospedeiros específicos. O gráfico 3 mostra o índice de Reprodução R do vírus da Bronquite infecciosa vacinal e de campo.
Gráfico 3. Fator de Reprodução de vírus da Bronquite infecciosa
Enquanto a cepa vacinal H120 tem um valor inferior a 1 (são necessárias duas aves vacinadas para contaminar uma ave não vacinada), o valor R de um vírus não atenuado é próximo a 20 (ou seja, uma única ave infectada contaminará 20 aves).
Similarmente, um vírus vacinal insuficientemente atenuado terá instabilidade biológica e molecular podendo infectar mais de uma ave, e dessa forma, o vírus “rolará” indefinidamente dentro e depois fora do aviário.
Embora as reações pós-vacinais e rolagem viral estão relacionadas à estabilidade genética e biológica das vacinas, elas também podem acontecer caso o processo de vacinação seja deficiente.
Vacinação em frangos de corte: o que os novos sistemas de produção precisam?
No caso do alojamento de lotes de pintinhos em aviários previamente contaminados (herança do lote anterior), é fundamental iniciar a resistência ativa no menor tempo possível, com o uso de vacinas bem aplicadas e que estimulem rapidamente o sistema imune.
Práticas para estimular resposta imunológica precoce:
As diferenças durante a construção do vírus vetor, influenciará diretamente na taxa de replicação do vírus vetor, o que a sua vez definirá o início da proteção clínica. Isto explica as diferenças entre o início de proteção conferida por exemplo entre as diferentes vacinas mono e duplo inserto HVT contra a Doença de Newcastle (Gráfico 4 & 5).
Gráfico 4. Início de proteção contra o desafio de vírus velogênico da Doença de Newcastle em aves SPF.
Gráfico 5. Início de proteção contra o desafio de vírus velogênico da Doença de Newcastle em frangos de corte.
No campo, é possível verificar a precocidade do agente vacinal através de:
Para algumas vacinas vetorizadas existem kits de ELISA específicos que permitem detectar e quantificar os anticorpos induzidos por vacinas vetorizadas por cada fabricante.
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