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O papel do Vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas nas Síndromes Respiratórias

Escrito por: Eva Hunka - Gerente de Produtos e Serviços Técnicos para América do Sul da Phibro Saúde Animal.
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vírus da bronquite infecciosa nas síndromes

Problemas respiratórios sempre foram uma causa comum de prejuízos econômicos e representam, talvez, o maior desafio sanitário da indústria avícola. A sazonalidade é bem comum, apesar de eles persistirem no frio ou no calor, no período de seca ou de chuvas, com matéria prima de boa qualidade e até mesmo quando tudo parece normal.

Mas como pode um agente infecioso se adaptar a tantas condições e ser resistente a tantos fatores?

Costumamos resumir tudo em um único termo “Problemas Respiratórios”, porém este problema tem causas variadas, infecciosas ou não, e muitas vezes ocorrem simultaneamente.

O que tratamos como doença na verdade se trata de uma síndrome, por isso a complexidade em determinar o comportamento, as causas e até mesmo tratamento.
Dentre os agentes infecciosos envolvidos no conjunto de sintomas respiratórios, temos alguns críticos, de notificação obrigatória, e que devem ser monitorados bem de perto, como é o caso do vírus da Doença de Newcastle, da Influenza Aviária e a Laringotraqueíte, e outros que já fazem parte do nosso cotidiano, mas que ainda assim costumam ocorrer com bastante frequência como é o caso do Vírus da Bronquite Infecciosa. Este último talvez seja o integrante comum da maioria dos quadros respiratórios.

Este Vírus é um membro da família gama-coronavírus, está entre os patógenos de aves mais importantes, causando, além de doenças respiratórias, quadros de nefrite em galinhas, resultando em:

Redução do ganho de peso,

Redução da produção de ovos,

Deformidades da casca do ovo e aumento das taxas de mortalidade,

Levando a perdas econômicas significativas.

O Vírus da Bronquite Infecciosa de galinha é espécie-específico caracterizado por alta variabilidade genética, sorotípica e patotípica e, ocorre de forma endêmica no Brasil.

Tem um grande potencial mutagênico e diferentes cepas ao redor do mundo. Estas cepas podem ser cosmopolitas, como é o caso da Massachussetts, ou ocorrem em locais isolados como acontece com a Cepa Brasileira BR.

Estas características dificultam o diagnóstico da Bronquite como uma causa primaria, onde os sintomas são agravados por outros componentes da Síndrome respiratória.

O cenário se torna ainda mais desafiador quando da ocorrência de uma nova variante, nos casos de surtos com a VAR2, ficou claro que cepas de vacinas não homólogas como 4/91, CR88, Massachusetts eram incapazes de fornecer proteção razoável e a variante continuou a se espalhar, independentemente do programa de vacinação ou das vacinas usadas.

Alguns estudos relatam a possível proteção cruzada das vacinas Massachussetts, QX e 793B mostraram baixa imunidade cruzada entre essas vacinas e a cepa de campo VAR2 confirmando os achados epidemiológicos em Israel e na Turquia.

Outros estudos de eficácia combinando diferentes tipos de vacinas como Massachusetts, D274 e QX-like contra esta mesma variante por meio de desafio, mostraram uma proteção parcial de até 85%, quando utilizadas às cepas Massachusetts + QX, e bem inferior a isto quando utilizadas outras combinações.

Lisowska et al. (19) testaram a eficácia de uma única ou combinações de vacinas baseadas em Massachusetts, 793B, QX e IBVAR206 em aves SPF contra o desafio com o isolado polonês VAR2 gammaCoV/Ck/Polônia/G052/2016.

Este estudo demonstra que uma única dose coma vacina homóloga foi capaz de induzir uma proteção de 100% frente ao desafio.

O surgimento de uma nova variante, ou mesmo a ocorrência de uma variante exótica exige um trabalho árduo de acompanhamento clínico e sanitário das aves, aplicando técnicas de diagnóstico com o objetivo de encontrar causas, muitas vezes inesperadas. Mas o que fazer até achar a causa principal? Além disso, muitas vezes a causa principal não é encontrada.

Neste momento devemos focar em eliminar prováveis causas ou agravantes, isto inclui:

Revisitar técnicas de manejo,

Processos e programas de vacinação,

Doenças intercorrentes, principalmente as imunossupressoras como a Reovirose, Anemia Infecciosa ou mesmo a Doença de Gumboro que costuma atuar como “gatilho” em muitos casos de Síndromes.

Atualmente, a forma subclínica desta doença, causada pela cepa G15, está disseminada em todo país, sendo frequentemente isolada, inclusive em aves jovens a partir dos 18 dias de idade (DIAS, et al, 2021).

Esta variante, consegue se manter por longos períodos na cama do aviário, muitas vezes resistindo ao tratamento de cama e passando de um lote para o outro. Esta cepa tem um alto poder de colonizar a Bursa de Fabricius e se aproveita do período de Janela imunológica para infectar os lotes.

As infecções secundarias, principalmente por E. coli, são a principal causa do uso de antimicrobianos nestes casos, mas o uso indiscriminado fez surgir uma população de bactérias multirresistentes o que interfere na eficácia dos tratamentos. Desta forma, os tratamentos devem ser feitos criteriosamente, com base no perfil de resistência da bactéria isolada na granja, sempre com moderação e atendendo a recomendação de dose, tempo de tratamento e via de administração de cada medicamento.

Nos casos de Síndromes, tão importante quanto achar a causa principal, é se certificar que outros agravantes sejam eliminados. Garantir que faremos o melhor possível com as condições que temos, pois muitas intercorrências comuns, que isoladamente não causariam problemas, se tornam gigantes quando ocorrem simultaneamente.

Todo quadro de Síndrome Respiratória, independente da causa primária, costuma estar associado a fatores imunossupressores (Doença de Gumboro e Micotoxinas) e infecção secundária, muitas vezes com isolamento de E. coli patogênica multirresistente.

É certo que a vacina homóloga oferece a melhor proteção nos casos de Bronquite Infecciosa, porém nem sempre é possível lançar mão dela.

Cuidados de manejo, maior atenção aos processos de vacinação e o combate aos agentes imunossupressores, são as armas disponíveis para enfrentas as Síndromes Respiratórias durante o período de inverno.

REFERÊNCIAS

1. de Wit et al. Infectious bronchitis virus variants: A review of the history, current situation, and control measures. Avian Pathol. 2011, 40, 223–235
2.Dias et al., INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA DA VACINA CONTRA A DOENÇA DE GUMBORO NA TAXA DE RECUPERAÇÃO DA ESTIRPE VACINAL, Conferência Facta, 2020
3. Lisowska e al. Virulence Properties of GI-23 Infectious Bronchitis Virus Isolated in Poland and Efficacy of Different Vaccination strategies. Pathogens 2021, 10, 522.
4.Perlman et al. Vaccines and vaccination programs used to control IS/1494/06 (IB Var2) A spreading and dominant IB strain Poster at the WVPA 2019 Bangkok, Thailand
5. Duration of immunity study Phibro files SR-Var2-E-418

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