
Os casos de infecções alimentares em seres humanos geralmente estão associados ao paratifo aviário por não possuir um hospedeiro-específico e estar relacionado ao consumo de alimentos de origem avícola (OIE, 2018; NETO; FILHO; JÚNIOR, 2020).
Alphitobius diaperinus como vetor de Salmonella Enteritidis
A salmonelose é uma doença infecciosa que afeta humanos e animais. Ela é causada pela bactéria do gênero Salmonella, agente etiológico de diarreias e infecções sistêmicas. Essas bactérias também causam infecções subclínicas, podendo contaminar o ambiente por meio de fezes de animais contaminados.
Os casos de infecções alimentares em seres humanos geralmente estão associados ao paratifo aviário por não possuir um hospedeiro-específico e estar relacionado ao consumo de alimentos de origem avícola (OIE, 2018; NETO; FILHO; JÚNIOR, 2020).
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabeleceu ações para o monitoramento e controle da salmonela em granjas aviárias, em estabelecimentos de abates pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) e critérios mínimos de biosseguridade nas granjas para registro no Serviço Veterinário Oficial com o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), visando diminuir a contaminação de alimentos e humanos por Salmonella (GOVERNO FEDERAL, 2021).
Os cascudinhos coletados em cama de aviários já foram descritos como carreadores de Salmonella (GOODWIN E WALTMFAN, 1996). Na superfície externa do inseto houve isolamento de Salmonella, demonstrando ser capaz de se contaminar com o substrato da cama do aviário (AGABOU E ALLOUI, 2010; SEGABINAZI et al, 2005).
Adultos e larvas de cascudinhos já apresentaram capacidade de serem vetores de Salmonella Typhimurium (ROCHE et al, 2009; CASAS, POMEROY E HAREIN, 1968) e a Salmonella enterica já foi isolada em larvas de cascudinhos, incluindo os sorotipos S. Linvingstone e S. Infantis, e demonstraram ser bactérias multirresistentes aos antimicrobianos (DONOSO, PAREDES E RETAMAL, 2020).
A coleta de cascudinhos adultos foi realizada em um aviário comercial. As larvas foram obtidas em laboratório e os bioensaios realizados no laboratório de ornitopatologia da Universidade de São Paulo – USP.
Após a coleta, os adultos e larvas de cascudinhos ficaram armazenados em caixas plásticas cobertas com telas, recebendo ração umedecida em água destilada sob condições abióticas ambientais.
No bioensaio I, as larvas e adultos de cascudinhos foram infectados com S. Enteritidis através de ração contaminada experimentalmente.
A avaliação foi conduzida com 120 larvas e 120 adultos, separados em grupos de 20 indivíduos. Cada grupo recebeu 5 g de ração contaminada com 5 ml de S. Enteritidis nas concentrações de 10⁷ e 10⁹ bactérias por mL por 24 horas. O grupo testemunha, de 20 larvas e 20 adultos, recebeu ração umedecida com 5 mL de caldo nutriente estéril para cultivo de Salmonella.
O bioensaio II foi realizado para determinar a capacidade de adultos e larvas de cascudinhos infectados com S. Enteritidis, contaminar o alimento.
O desenho experimental contou com 20 cascudinhos adultos e 20 larvas contaminadas por S. Enteritidis, expostos a 5g de ração estéril para poedeiras.
O grupo controle recebeu ração com caldo nutriente estéril. As larvas foram retiradas da ração após 24 horas e os adultos após sete dias. Amostras de 1g de ração foram semeadas em tetrationato e, após, passadas para ágar XLT4, reisoladas em ágar MacConkey e, desta forma, foi confirmada a presença de S. Enteritidis.
O bioensaio III teve como objetivo demonstrar a capacidade das larvas e adultos de cascudinhos contaminados com S. Enteritidis de infectar pintinhos Specific Pathogen Free (SPF).
Os adultos e larvas contaminados foram oferecidos vivos como alimento a pintinhos SPF de um dia de vida. Foram utilizados 160 pintinhos divididos em quatro tratamentos e 40 repetições, cada ave representando uma repetição.
As aves foram avaliadas durante uma semana quanto à mortalidade. As aves que morreram antes de uma semana foram necropsiadas e os órgãos (ceco, fígado e baço) foram semeados para isolamento de Salmonella spp.
Aos sete dias de vida, os pintinhos foram eutanasiados e necropsiados para retirada de fígado, baço e cecos e as tonsilas cecais, e, desta forma, foi confirmada a presença de S. Enteritidis após semeadura.
Os adultos e larvas de cascudinhos do bioensaio I que receberam ração com S. Enteritidis (concentrações entre 10⁷ e 10⁹ bactérias/ml) estavam contaminados 24 horas e sete dias após a ingestão. Nas 24 horas após a ingestão não houve diferença de contaminação entre larvas e adultos, ambos estavam 100% contaminados. Todavia, após 7 dias de ingestão da S. Enteritidis os adultos estavam mais contaminados do que as larvas.
A ração estéril exposta a adultos e larvas de cascudinhos do bioensaio II que estavam contaminados com S. Enteritidis apresentaram positividade, exceto em uma das repetições. Entre as cinco amostras de rações estéreis, 80% foram contaminadas pela presença de Alphitobius diaperinus anteriormente contaminados com S. Enteritidis.
O bioensaio III apresentou mortalidade de sete pintinhos antes do 7º dia, os quais foram necropsiados, sendo confirmada a presença de S. Enteritidis nas amostras de fígado, baço e ceco, exceto dois do grupo controle que estavam negativos para S. Enteritidis.
Os pintinhos que ingeriram larvas estavam mais contaminados do que os que ingeriram adultos.
Os valores médios de UFC/g de fígado e baço foram de 322,47 UFC/g em pintinhos que ingeriram adultos e de 849,08 UFC/g para aqueles que ingeriram larvas. As amostras de ceco obtiveram cerca 44,74% negativas em pintinhos que ingeriram larvas e 78,38% em pintinhos que ingeriram adultos. Os valores médios de UFC/g de ceco foram de 200,17 em pintinhos que ingeriram adultos e 428,11 UFC/g em pintinhos que receberam larvas de A. diaperinus.
Crippen et al (2009) apresentaram resultados de contaminação interna do A. diaperinus com a S. Enteritidis, adquirindo a bactéria no trato gastrointestinal após 30 minutos de exposição a 10⁴ UFC/mL. Hazeleger et al (2008) forneceram a pintinhos de sete dias, adultos e larvas de cascudinhos contaminados com Salmonella enterica.
Todos os grupos de aves do estudo isolaram Salmonella, indicando que o Alphitobius diaperinus pode ser um vetor dessa bactéria e uma única exposição aos insetos contaminados pode ser suficiente para contaminar a ave.
O controle de cascudinhos é essencial por ser fonte de disseminação de doenças para as aves e para a cama do aviário (LEFFER et al, 2002).
Referências: sob consulta dos autores
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