22 jun 2018

Brasil se manterá como maior exportador mundial de frango, diz Santin

O diretor-executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, garante que em 2018 o Brasil não perderá o […]

O diretor-executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, garante que em 2018 o Brasil não perderá o posto de maior exportador mundial de frango. A afirmação foi feita à aviNews Brasil, em entrevista exclusiva, concedida em Belo Horizonte (MG), durante a realização do evento “Avicultor”, organizado pela AVIMIG (Associação dos Avicultores de Minas Gerais).

maior exportador mundial de frango Ricardo Santin AvicultorSantin também confirmou que o abate halal sem insensibilizaçãoestá em prática no Brasil e impactando os preços e a quantidade do produto que é enviado à Arábia Saudita. Sobre os impasses comerciais criados pela China devido a uma acusação de prática de dumping pelo Brasil, o diretor-executivo da ABPA afirmou que uma missão do país asiático chega em terra brasileira na primeira semana de julho.

Na entrevista a seguir, você também poderá conferir quais as estratégias adotadas pelo setor para enfrentar as dificuldades relacionadas aos altos custos dos grãos, assim como o programa de compliance desenvolvido pela ABPA junto a seus associados. Confira!

 

 

aviNews - O custo dos grãos é um dos problemas da avicultura brasileira em 2018, assim como já vem sendo de anos anteriores. O setor tem uma estratégia para se blindar em relação a essa questão?

Ricardo Santin - O setor tem um grupo de trabalho específico na ABPA, que é o GT de milho, farelo de soja, soja e todas as proteínas que compõem a alimentação animal. Nós estamos buscando alternativas, como melhores linhas de financiamento, compras antecipadas, parcerias com produtores e grandes produtores, evitando uma oscilação tão grande.

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Esse problema dos grãos não é de 2018. Ele continua acentuado, está se acentuando devido à greve. De 2017 até agora nós tivemos 61% de aumento no preço do milho e 63% no preço do farelo. São custos que estão impactando hoje e não irão embora. Mais do que isso. Nós temos uma tabela de frete que aumenta muito mais que 25% o custo de transporte, que impacta muito o custo do grão, que é transportado por caminhões.

Então, nós estamos buscando desenvolver alternativas e uma delas é justamente o financiamento para que se possa armazenar mais perto da indústria e ter mais estabilidade nesse processo, que é regulamentado pelas commodities mundiais. A gente quer dar mais estabilidade para o produtor.

AN - Em que fase está o trabalho desse GT?

RS - Temos parcerias com algumas universidades, que estão fazendo o mapeamento dos modais, levantando as alternativas, quais os impactos tributários, como se pode melhorar isso, diminuindo um pouco o tributo, organizando essa cadeia tributária. Para que se possa ter uma harmonização e não ficar mais barato exportar grão do que levar para a nossa produção de animais.

AN - O que ainda precisar ser feito para curar as feridas da Operação Carne Fraca?

RS - Não há feridas de Carne Fraca porque se tratou de um erro de divulgação. As feridas são na imagem. O que havia de equívoco naquelas indústrias envolvidas, que foram apenas três, já foi corrigido. Então, não há nada de qualidade, nem de sanidade nos produtos. Agora, precisamos resgatar a imagem. Há um comitê multidisciplinar na ABPA, composto por várias pessoas, inclusive de fora da Associação, para fazer um trabalho de resgate da imagem do setor, do frango brasileiro como tal.

Volto a dizer, não houve problemas efetivos. Aqueles que erraram já corrigiram e devemos evitar outros problemas. Já implementamos um programa de compliance imenso na ABPA para evitar qualquer novo deslize.

AN - Esse programa está em sintonia com o programa de compliance do Ministério da Agricultura?

RS - Sem dúvida, o Agro+. Mas esse é um programa de compliance do setor, que foi desenvolvido somente para a ABPA e já está com todos os trabalhadores e empresas integrados. Ele envolve revisão dos contratos, assinatura de compromissos de compliance.

Enfim, trata-se de um programa bem complexo. Muitas coisas que a gente já faz na prática, só que agora isso está sendo regulamentado. Por exemplo, no meu caso, não divulgar os dados individualizados das empresas. Eu assinei um documento com esse compromisso. São práticas que dão mais garantia para o associado e para a sociedade.

Ou seja, nós, com o papel da ABPA, que está ficando cada vez mais importante nas relações com o governo, também acabamos protegendo os nossos associados com um compliance mais definido, mais transparente e mais efetivo.

AN - Qual a estratégia do setor para superar as dificuldades com os mercados internacionais?

RS - A primeira ação é conversar. Não há outra coisa. É importante lembrar que no ano passado, depois da Carne da Fraca, quando a gente fez o balanço em 2017, o volume de exportações caiu apenas 1,2%. Entre os 160 países, 70 fecharam, 70 reabriram e todos continuam. Ou seja, não há nenhum problema de qualidade do produto.

Então, a estratégia é conversar, fazer campanhas e, mais do que tudo, levar esclarecimento e ser cada vez mais transparente do que já somos. Mostrar como a gente produz, a qualidade que temos e a segurança do nosso produto.

Ano passado, nós recebemos mais de 1 mil visitas de inspeções oficiais e privadas. É isso: receber as pessoas, abrir a casa, como nós fizemos no SIAVS, quando 50 jornalistas do mundo inteiro vieram aqui, conheceram as nossas plantas e o que a gente faz aqui.

AN - E em relação a esses casos mais recentes: União Europeia, China, Arábia Saudita e Emirados Árabes?

RS - É a mesma estratégia: conversar e mostrar que a gente faz certo. Principalmente nesse caso da Arábia Saudita que é religião, o que não se discute, se respeita. O que a gente fez? Mostramos para a Arábia Saudita que o abate que a gente faz no Brasil, mesmo que usando a insensibilização elétrica, no momento do abate a ave está viva. E é isso o que espera a religião, que o abate seja feito com a ave viva. E é assim que a gente procede, sempre procedeu nos últimos 40 anos, respeitando a religião.

No caso da China, estamos mostrando com dados, que estão no processo, que nós não praticamos dumping e, por isso, não tem que fazer nada.

E a Europa é uma questão de protecionismo puro. Estamos preparando um painel na OMC (Organização Mundial do Comércio) para discutir os critérios no campo apropriado. Com relação aos demais, estamos trabalhando e vendendo para a Europa porque algumas plantas estão bloqueadas, mas outras não. Ela diminuiu sim os seus volumes, mas continua sendo um dos grandes compradores do Brasil.

AN - Então, a possibilidade de se abrir um painel na OMC é algo mais concreto hoje? Porque chegou-se a dizer que o painel seria evitado.

RS - Não da nossa parte. A ABPA sempre trabalhou pelo painel, que não vem por conta da Operação Carne Fraca. Já é um estudo que começou a ser feito muito antes, porque o que se discute aí é o critério. Salmonella sp não é critério para barrar carne. Tanto é verdade, que se eu não colocar o sal, a carne entra, é consumida e ninguém fica doente.

Nos últimos dez anos, nós exportamos 16 mil contêineres de carne, todo ano, para a Europa. Ela foi consumida e nunca houve nenhum problema para as pessoas. Então, esse é o ponto. Não há nada.

Agora, a ABPA chegou a dizer e continua a dizer que nós vamos discutir no painel na OMC, porque lá é o ringue apropriado para fazer isso tecnicamente. Ao mesmo tempo, nós estamos pedindo discussões do governo, diplomáticas, técnicas, para que consigamos evoluir nesse tema.

AN - Qual a expectativa de vocês em relação a prazo para que esse painel seja aberto na OMC?

RS - Não tem um prazo ainda porque depende do governo e da negociação. O painel está respeitando os prazos de negociação do acordo União Europeia – Mercosul. Está caminhando. Esperamos que termine logo.

AN - O setor já tem um levantamento sobre qual será o impacto das dificuldades que vêm sendo enfrentadas com o Oriente Médio? Particularmente nesse caso, o abate sem a insensibilização gera aumento de custo e redução de produtividade.

RS - Sem dúvida. O aumento de custo é efetivo, é grande. A gente diminui a produtividade, em média, em 30%, 35% e, em algumas plantas são mais antigas chega a diminuir 40% o seu ritmo e quantidade de produção. E, no caso, ainda há uma perda efetiva. Eu perco de 8% a 15% (por condenação de carcaça) dependendo da planta, do perfil do animal e do mercado para o qual se está produzindo. Então, quando eu migro para isso (abate sem a insensibilização), esse custo, se eu tenho perda de 15%, ele vai entrar no custo fixo.

Se eu tenho uma diminuição do volume, da capacidade, da escala de produção, também vai pra dentro do custo fixo. Essa é a regra. Nós estamos falando isso para os nossos consumidores, até porque o Brasil já está fazendo uma produção sem choque. Mas quem está recebendo (esse produto) sabe que vai ter que pagar bem mais caro e ter menos disponibilidade de carne. A longo prazo, você trabalha com segurança alimentar diminuída para os países que têm interesse nisso.

AN - Em relação à China, as tarifas impostas já estão sendo praticadas?

RS - Já estão sendo praticadas, infelizmente. Tudo aquilo que passou a chegar em Yuan a partir de sexta-feira passada (15/6) já tem imposição de tarifa de dumping. Essa é uma tarifa que é de responsabilidade do importador e não do nosso exportador. Ela terá consequências comerciais, a gente sabe disso, mas o Brasil não reconhece o dumping.

Agora, a guerra comercial entre Estados Unidos e China está se acirrando. A China acabou de botar uma tarifa no frango americano, que nem era exportado para o país asiático. Os Estados Unidos estavam proibidos de exportar para a China por conta de Influenza Aviária, mas mesmo assim foi sobretaxado agora. Foi aumentada a tarifa para o frango americano. Então, diminui as alternativas para a China. Por isso, a gente tem a esperança de que, com humildade, a China refaça os cálculos, reveja os dados.

Eles estão vindo aqui no Brasil, vão verificar in loco na primeira semana de julho, as empresas investigadas. E tenho certeza de que, com isso, eles vão refazer a sua ideia no sentido de não aplicar dumping ao Brasil.

AN - Dificuldades com União Europeia, Oriente Médio, China, que são as principais regiões importadoras do frango brasileiro. O setor já recalculou a perspectiva de produção e exportação em 2018?

RS - Não. Nós estamos fazendo isso: calculando, coletando os dados de alojamento, verificando os efeitos. Houve uma diminuição de 70 milhões de aves no campo, por conta da greve. Diminuição de peso da produção, aumento de custo de insumos. Todos esses elementos vão cumular numa diminuição de produção, de exportação, que no acumulado já é 8,5% no caso (do volume) de frango, comparativamente ao ano passado, e 12% em receita. Então, isso vai acontecer. A gente só está calculando o percentual e pretendemos apresentar esses dados em uma entrevista coletiva em julho.

AN - E vocês avaliam a possibilidade de o Brasil perder o posto de maior exportador mundial e segundo maior produtor de carne de frango?

Não. Todos os cálculos apontam uma diminuição. Mas não para perder a posição de segundo maior produtor do mundo e maior exportador mundial.

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