Cálcio e Fósforo Digestível para Nutrição de Aves
Um sistema de recomendações dietéticas baseado em valores digestíveis de Ca, em vez de totais, pode melhorar a eficiência alimentar e reduzir o impacto ambiental negativo causado pelo seu excesso. Veja o que dizem os especialistas da AB Vista!
O Fósforo (P) e o Cálcio (Ca) são elementos de alta relevância para a alimentação dos monogástricos.
Desta forma, para atender os requerimentos destes macro minerais quanto a performance e mineralização óssea dos animais, além do estudo das fontes alimentares (seja de origem animal ou vegetal), devemos abordar o entendimento das fontes complementares (ingredientes de origem minerais), além de sua interação com uso de
enzimas exógenas (como é o caso das fitases).
Embora Ca e P sejam interdependentes e interajam em sua absorção e utilização, historicamente, o Ca não gerou tanto interesse em pesquisas quanto o P.
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Isso ocorre porque o P é um dos componentes mais caros na dieta dos monogástricos devido à baixa digestibilidade deste mineral nos ingredientes vegetais e a consequente necessidade de adicionar suplementos de P de mais alto custo.
Por outro lado, a suplementação de Ca inorgânico é barata, amplamente acessível e a excreção excessiva de Ca não causa explicitamente qualquer preocupação ambiental.
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No entanto, vários autores enfatizaram a importância de compreender a absorção, utilização e excreção de Ca não apenas para melhorar suas estimativas atuais, mas também para otimizar a utilização de P (Misura et al., 2018).
A ingestão excessiva destes nutrientes, pode contribuir para problemas ambientais em áreas com alta densidade de criação animal, além de reduzir a performance, caso tenhamos participações em desequilíbrio.
Tradicionalmente trabalhamos com dietas ajustadas a atender relações de Ca total x P disponível, variando de 2:1 (em dietas para frangos de corte), até 11:1 (em alimentos de poedeiras em produção).
Estas relações tradicionais têm sido utilizada devido a uma dificuldade na determinação precisa das necessidades de Ca e, em certa medida, da utilização de P. Como resultado, as diretrizes atuais das principais tabelas de requerimentos nutricionais (UFV, NRC, CVB, etc...), associam o conteúdo de Ca em dietas dos monogástricos em base ao seu conteúdo total, que ignora as perdas endógenas e o processo de digestão.
Este fato frequentemente leva à super suplementação de Ca inorgânico, que promove a formação de complexos indigestíveis de Ca-fitato-P (PP) no intestino dos animais, interferindo na digestibilidade do P (Selle et al., 2009).
Consequentemente, um sistema de recomendações dietéticas baseado em valores digestíveis de Ca, em vez de totais, pode melhorar a eficiência alimentar e reduzir o impacto ambiental negativo causado pelo seu excesso.
Este cenário corresponde a um dos principais temas envolvendo as investigações científicas destes macro ingredientes nos centros de pesquisas mundiais na atualidade.
Rodehutscord et al. (2017) descrevem uma provável metodologia para avaliação da digestibilidade de P e Ca de um ingrediente em aves (ensaio proposto pela World’s Poultry Science Association).
De acordo com os autores, este ensaio deve seguir o procedimento de avaliação pré-cecal quanto ao desaparecimento destes nutrientes (pcdP e pcdCa). Para isso, a quantidade Ca e P (g/kg MS) digestível deve ser calculada usando dietas contendo:
400 (A), 525 (B) e 650 (C) g/kg de ingrediente alvo, diluídos em uma dieta tradicional (para completar 100%);
Sendo as dietas coletadas na fração distal do íleo das aves e analisadas quanto ao conteúdo de Ca, P e do marcador a base de dióxido de titânio.
Estes autores encontram, com esta metodologia, resultados interessantes, embora ainda mereça certa atenção quando à execução - como iremos demonstrar mais à frente na continuação da discussão destes resultados no final deste artigo.
ENZIMAS EXÓGENAS
Outro tema importante que se deve considerar quando falamos no tema de digestibilidade de Ca e P para monogástricos, refere-se ao uso de enzimas exógenas (em especial fitase).
Como o fitato pode se ligar Ca do carbonato de cálcio da dieta e com o Ca intrínseco em ingredientes vegetais,
a ruptura do anel de fitato não interfere apenas na otimização do aproveitamento do P.
De acordo com González-Veja etal. (2015), o fitato natural dos alimentos gera uma formação de complexos fitato-Ca. Os autores observaram que:
De igual maneira, os autores comentam que o volume de fibra dietética pode gerar uma ação nestes dados de ATTD de Ca e P, pois já se sabe seus efeitos variáveis na digestibilidade do AA e no aproveitamento energético das dietas.
Isso abre espaço para discussões envolvendo o uso de xilanase frente ao incremento de digestibilidade destas fontes minerais.
FITASE E XILANASE
Um bom exemplo deste tema na nutrição de aves, pode ser observado na publicação de um grupo de pesquisadores britânicos (Olukosi et al., 2019), que avaliaram os aspectos comparativos dos efeitos da fitase e da xilanase no desempenho, digestibilidade mineral e degradação do fitato ileal em frangos e perus.
Os investigadores realizaram dois experimentos, usando frangos de corte ou perus, cada um utilizando um arrajo fatorial 3 x 2, para comparar sua resposta à suplementação de fitase e xilanase com o desempenho das aves, digestibilidade de nutrientes e degradação ileal de fitato como critérios de resposta.
Para ambos os experimentos, utilizaram 960 frangos Ross 308 ou 960 perus BUT 10. As aves foram alocadas em 6 tratamentos, sendo:
Dieta controle, contendo uma E.coli fitase a 500 FTU/kg;
Dieta controle com xilanase (16.000 BXU/kg);
Dieta controle suplementada com fitase (1.500FTU/kg);
Dietas suplementadas com 1.500FTU/kg de fitase e xilanase (16.000 BXU/kg);
Dieta controle suplementada com fitase (3.000 FTU/kg); e
dieta suplementada com 3.000 FTU/kg de fitase e xilanase (16.000 BXU/kg).
Cada tratamento teve 8 repetições de 20 aves cada. Os dados de desempenho foram medidos de 0 a 28 dias de idade (Tabela 01), já a digestibilidade da matéria seca e dos minerais (Gráfico 01), além dos níveis de ésteres de fosfato de inositol (InsP6-3) e myo-inositol, foram analisados no dia 7 e 28.
Tabela 01. Desempenho (ganho de peso, GP; consumo de ração, CR; conversão alimentar, CA), a diferentes idades, de frangos de corte e perus que receberam níveis diferentes de fitase e de xilanase nas dietas.
A suplementação com xilanase melhorou a conversão alimentar (CA) no dia 28 em frangos de corte e perus.
Doses crescentes de fitase reduziram o consumo de ração (CR) e melhoraram a CA apenas em frangos de corte.
Em frangos de corte, houve uma interação entre a idade x níveis de fitase para a digestibilidade do fósforo, mostrando que doses mais elevadas de fitase interferem na digestibilidade destes macro minerais (Gráfico 01).
A digestibilidade mineral foi menor no peru de 28 dias em comparação com o de 7 dias de idade.
O desaparecimento de InsP6 aumentou com a elevação dos níveis de fitase em ambas as espécies, com níveis mais baixos analisados em perus.
O desaparecimento da InsP6 foi maior em perus mais jovens (dia 7 em comparação com o dia 28).
Gráfico 01. Resumo dos efeitos da fitase e xilanase e sua combinação, na digestibilidade ileal de nutrientes (%) em diferentes idades de frangos de corte, levando-se em consideração a comparação da idade (A),idade x níveis de fitase
(B),uso de xilanase (C).
Realizando uma análise dos dados descritos no Gráfico 01 com outros valores publicados no primeiro trabalho que discutimos (Rodehutscord et al., 2017), fica claro que existem dados conflitantes que ainda merece maior atenção quanto a metodologia atual de determinação destes coeficientes de digestibilidade de Ca e P para aves; diferentemente do que já podemos ver para suínos.
Digo isso, pois Rodehutscord et al. (2017) realizaram um Ring Test entre diferentes centros de pesquisa mundiais para investigar a digestibilidade do fósforo pré-cecal (P) do farelo de soja (FS) em frangos de corte usando o protocolo de ensaio proposto pela World’s Poultry Science Association (já discutido neste artigo).
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A hipótese seria que a digestibilidade do P pré-cecal de FS determinada nas estações colaboradoras seriam semelhantes entre sí, justificando, assim a metodologia.
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Para isso, três dietas com diferentes níveis de inclusão de SBM foram produzidas e transportadas para 17 estações
colaboradoras, sendo administradas às aves por um mínimo de 5 dias antes que o conteúdo da metade posterior do íleo fosse coletado.
Um mínimo de 6 repetições experimentais por dieta foi usado em cada estação. Todas as dietas e amostras de digesta foram analisadas no mesmo laboratório.
Como resultados, os autores avaliaram uma diferença entre os dados de digestibilidade do P pré-cecal de FS na ordem de 19 a 51%, com diferenças significativas entre as estações (Gráfico 02).
Gráfico 02. Gráfico de dispersão de dados de digestibilidade pré-cecal de 16 ensaios de frangos de corte conduzidos em 16 estações e usando dietas contendo 400 (A), 525 (B) ou 650 (C) g/kg de farelo de soja (cada ponto mostra a média de uma estação para o respectiva dieta).
Esses fatores provavelmente estavam relacionados às condições de alimentação e alojamento (baias ou gaiolas) das aves na fase pré-experimental.
Portanto, o uso nas formulações destes dados, embora sejam fundamentais para estratégias nutricionais para estes macro minerais no futuro, ainda carecem de mais investimentos e avaliações por parte de comunidade científica, sobretudo para nutrição de aves, já que estes dados para suínos estão mais avançados.