Os micro-organismos encontrados nos ovos para incubação podem ser facilmente distribuídos por todo o ambiente do incubatório pelo movimento do ar e assim contaminar os outros pintainhos. Em geral, a contaminação aumenta à medida que a incubação se completa.
Uso do Cobre antimicrobiano em bandejas de eclosão de incubatórios
Uma solução viável para auxiliar o controle microbiológico nos incubatórios é a introdução do cobre como superfície de contato antimicrobiana.
A presença e disseminação de micro-organismos patogênicos nas dependências dos incubatórios acarreta um incremento no número de ovos e aves contaminados, provocando redução na taxa de eclosão, aumento no percentual de descarte, baixa qualidade dos pintainhos de um dia, elevando a mortalidade inicial além de provocar doenças como aspergilose, onfalite e salmonelose nas granjas, que causam grandes perdas econômicas em toda a cadeia produtiva.
A limpeza dos equipamentos e das salas do incubatório deve ser realizada com muita atenção. Para isso, são utilizadas grandes quantidades de produtos desinfetantes. Os mais utilizados atualmente são a amônia quaternária, glutaraldeído, formaldeído, ácido acético, derivados do cloro e iodo, porém grande parte deles possuem restrições de uso como o formaldeído, devido à sua ação carcinogênica, além do iodo e os ácidos que possuem ação corrosiva. A alternativa mais empregada é o formol líquido, através da evaporação contínua. No entanto, tem-se buscado alternativas para a sua substituição, já que seu uso é submetido a restrições governamentais e é proibido em diversos países. Além disso, uma das principais causas de ovos “bicados e não nascidos” e de pintainhos descartados por debilidade é a fumigação excessiva com formol durante a incubação e/ou o nascimento.
Pesquisadores identificaram as áreas de lavagem das bandejas e de depósito de resíduos como as de maior probabilidade de contaminação nos incubatórios. Outros autores também demonstraram que as etapas de lavagem e sanitização das bandejas reduziram, mas não eliminaram completamente a contaminação bacteriana das suas superfícies.
A alternativa atualmente disponível no mercado para auxílio no controle microbiológico dessas superfícies é um produto antimicrobiano à base de triclosan. Entretanto, já há relatos de cepas de Salmonella enterica isoladas de humanos e animais com baixa sensibilidade ao triclosan e sua correlação com a seleção de bactérias multirresistentes a antibióticos é questionada (Copitch et al. 2010). Além disso, há uma forte pressão da sociedade para o banimento do seu uso uma vez que estudos vêm correlacionando o triclosan e o triclocarban a uma série de efeitos adversos à saúde pública e ao meio-ambiente como irritações na pele, problemas endócrinos, resistência a antibióticos, além de contaminação da água e consequente impacto aos ecossistemas aquáticos (Beyond Pesticides, 2017).
Uma solução viável para auxiliar o controle microbiológico nos incubatórios é a introdução do cobre como superfície de contato antimicrobiana.
O cobre é um elemento necessário na nutrição das aves e amplamente utilizado na avicultura, geralmente na forma de sulfato. A exigência nutricional dos frangos de corte é de 8ppm na ração, no entanto, a concentração comumente utilizada fica em torno de 150-200ppm. Tal concentração é empregada a fim de que atue como melhorador de desempenho, tendo aproveitado o seu efeito antibacteriano, melhorando a conversão alimentar e aumentando o ganho de peso das aves (Silveira et al. 2017). No entanto, seu uso como superfície de contato é recente.
Os estudos das propriedades antimicrobianas das superfícies metálicas de cobre ganharam destaque quando a agência norte-americana Environmental Protection Agency (EPA) registrou quase 300 ligas de cobre como antimicrobianas em 2008.
O registro permite a sua comercialização informando que o cobre “elimina 99,9% das bactérias dentro de duas horas”.
Sua utilização foi autorizada para a fabricação de produtos para ambientes comerciais, residenciais e de saúde. A agência esclarece que as ligas de cobre devem ser utilizadas como um complemento e não para a substituição das práticas padrão de limpeza e desinfecção das superfícies e acrescenta que tais produtos não representam nenhum risco à saúde pública.
A eficácia do cobre e suas ligas (como o bronze e o latão) como superfície de contato antimicrobiana e sua importante ação contra bactérias, vírus e fungos de interesse na medicina veterinária já foram demonstradas e a avicultura poderá se beneficiar com a aplicação dessas superfícies, a começar pelos incubatórios, onde a limpeza dos equipamentos e das salas é fundamental para a sanidade dos animais.
Bactérias expostas a superfícies metálicas de cobre não entram em estado fisiológico de viável mas não cultivável, no qual eles são viáveis, mas não se multiplicam, pois elas são completamente inativadas. Em contraste com os micro-organismos altamente resistentes a antibióticos que evoluíram em menos de 50 anos de uso, os micro-organismos tolerantes ao cobre são extremamente raros, embora o cobre seja parte da terra há milhões de anos.
Pesquisadores demonstraram que o número médio de bactérias recuperadas das superfícies de cobre foi 90-100% menor quando comparadas com as superfícies controle o que está de acordo com os resultados obtidos por nossas pesquisas envolvendo micro-organismos isolados de incubatórios comerciais de frangos de corte de dois estados brasileiros (RS e SC).
A Tabela 01 apresenta o número de micro-organismos recuperados, após um dia, das placas de cobre e das de aço inox (superfície controle) após a inoculação dos micro-organismos (105 células por mL) isolados de dois incubatórios comerciais*.
O resultado dessa pesquisa foi que as placas de cobre eliminaram praticamente toda a contaminação da sua superfície em apenas um dia, enquanto que o aço inox foi inerte frente aos micro-organismos pesquisados.
O cobre, como superfície de contato, provou ter importante ação antimicrobiana nas bactérias, fungos e leveduras comuns aos incubatórios. Dessa forma, sua aplicação como superfície de contato em bandejas de incubação e de eclosão poderá reduzir os níveis de contaminação nos incubatórios, melhorando a produtividade e o desempenho dos pintainhos.
Atualmente estão sendo desenvolvidos, por nosso grupo de pesquisa em parceria com o PROCOBRE - Instituto Brasileiro do Cobre, protótipos de bandejas de eclosão em cobre antimicrobiano para encaixe interno nas bandejas de plástico convencionais.
Os primeiros testes já foram realizados e os protótipos produzidos foram adequados, pois se encaixaram perfeitamente às bandejas de plástico e resistiram à higienização, além de não causarem problemas para a locomoção dos pintainhos. O cobre também não provocou nenhum efeito adverso às aves, demonstrando ser seguro como superfície de contato.
*Artigo publicado na revista Brazilian Journal of Poultry Science em 2016. As demais referências podem ser solicitadas à autora.
Depner R.F.R., Pontin K.P., Depner R.A., Flores Neto A., Lucca V., Lovato M. 2016. Action of antimicrobial copper on bacteria and fungi isolated from commercial poultry hatcheries. Brazilian Journal of Poultry Science. 18(spe2):95-97.