Estratégias nutricionais para redução do estresse térmico em codornas japonesas

O estresse térmico é um dos principais desafios na criação de codornas japonesas, comprometendo o consumo alimentar, a conversão alimentar e a produção de ovos. Nos últimos anos, o aumento das temperaturas globais tem intensificado esse problema, tornando o controle ambiental nas granjas ainda mais essencial. No entanto, muitos codornicultores ainda não adotam medidas eficazes para mitigar os efeitos do calor excessivo. 

A ventilação adequada é um fator determinante para reduzir o estresse térmico, melhorando o desempenho produtivo, acelerando o crescimento, reduzindo a taxa de mortalidade e minimizando problemas na qualidade dos ovos.

Além do manejo ambiental, estratégias nutricionais vêm sendo amplamente estudadas como ferramentas eficazes para atenuar os impactos do calor e promover a saúde e produtividade das aves. Ajustes na formulação das dietas, como o equilíbrio de eletrólitos, a inclusão de antioxidantes e a suplementação com aminoácidos específicos, têm demonstrado efeitos positivos na tolerância térmica das codornas.

 Essas abordagens nutricionais são fundamentais para manter o desempenho produtivo em condições adversas, contribuindo para um sistema de produção mais sustentável e eficiente. Este artigo abordará as principais estratégias dietéticas aplicadas na mitigação do estresse térmico e seus benefícios na criação de codornas japonesas.

IMPACTOS FISIOLÓGICOS E PRODUTIVOS

O estresse térmico é um dos principais desafios enfrentados na produção de codornas japonesas, pois afeta diretamente a homeostase fisiológica e o desempenho produtivo das aves. As codornas são aves homeotérmicas, ou seja, dependem de mecanismos fisiológicos e comportamentais para manter a temperatura corporal dentro de uma faixa ideal. Quando expostas a temperaturas elevadas, sua capacidade de dissipação de calor torna-se limitada, levando à ativação de respostas adaptativas, como a redução do consumo alimentar, o aumento da frequência respiratória (ofegação) e mudanças comportamentais para minimizar a produção endógena de calor. Entretanto, essas respostas podem resultar em prejuízos significativos, tanto em nível fisiológico quanto produtivo 1,2.

Em estudos sobre o impacto do ambiente em indicadores fisiológicos na criação de frangos de corte, Costa et al. (2012)3 observaram uma frequência respiratória de 58,96 movimentos por minuto, indicando que as condições ambientais causaram desconforto às aves. Por outro lado, Furtado et al. (2013)4, ao estudarem codornas japonesas na fase de produção, registraram frequências respiratórias entre 22,8 e 27,9 movimentos por minuto, valores que não caracterizaram um ambiente adverso, uma vez que a temperatura variou entre 24 e 25 °C e a umidade média foi de 75%.

Em codornas de corte, a redução do consumo alimentar, aliada ao aumento do gasto energético para a termorregulação, compromete o ganho de peso e piora a conversão alimentar, reduzindo a eficiência produtiva. Já em matrizes poedeiras, o estresse térmico impacta negativamente a produção e a qualidade dos ovos, diminuindo a taxa de postura, o peso dos ovos e a espessura da casca. Esse efeito ocorre, sobretudo, devido à menor absorção e retenção de cálcio no intestino, uma vez que a alcalose respiratória, resultante da hiperventilação, altera o equilíbrio ácido-base e prejudica a deposição do mineral na casca dos ovos.

Além disso, o estresse térmico intensifica o estresse oxidativo, caracterizado pelo aumento da produção de radicais livres e pela redução da capacidade antioxidante do organismo. O acúmulo de espécies reativas de oxigênio (EROs) pode levar a danos celulares, comprometendo tecidos e funções metabólicas essenciais. Paralelamente, há uma disfunção no sistema imunológico, tornando as aves mais suscetíveis a infecções e doenças oportunistas, o que pode elevar a taxa de mortalidade e comprometer a viabilidade da criação.

Vitamina A na nutrição de codornas

Diante desses impactos, torna-se fundamental a adoção de estratégias eficazes para mitigar os efeitos do estresse térmico, combinando ajustes no manejo ambiental e abordagens nutricionais específicas. A formulação de dietas balanceadas, aliada a um ambiente termicamente confortável, pode contribuir significativamente para a manutenção do desempenho produtivo e do bem-estar das codornas expostas a altas temperaturas.

A NUTRIÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE MITIGAÇÃO

O estresse térmico representa um grande desafio na criação de codornas japonesas, afetando negativamente o consumo alimentar, o metabolismo e a produtividade das aves. Nesse contexto, ajustes na formulação das dietas tornam-se ferramentas essenciais para mitigar seus efeitos, promovendo a regulação do metabolismo, a manutenção do equilíbrio eletrolítico, a redução do estresse oxidativo e o fortalecimento da imunidade. Entre as principais estratégias nutricionais para minimizar os impactos do estresse térmico, destacam-se:

  • Ajuste dos Níveis de Energia e Proteína

A elevação da temperatura ambiente reduz o consumo alimentar das codornas, resultando em menor ingestão de nutrientes essenciais para a manutenção da produtividade. Para contornar esse problema, recomenda-se:

    • Aumento da densidade energética da dieta, com a inclusão de fontes lipídicas de alta digestibilidade, como óleo de soja, óleo de girassol e óleo de peixe, que possuem menor efeito térmico comparado a carboidratos e proteínas;
    • Formulação proteica equilibrada, priorizando fontes de proteína de alta biodisponibilidade, como farelo de soja, farinha de peixe e proteína isolada de ervilha, além da suplementação de aminoácidos essenciais (lisina, metionina e treonina) para evitar excessos proteicos e reduzir a produção de calor metabólico.
  • Uso de Eletrólitos para Manutenção do Equilíbrio Ácido-Base

O estresse térmico intensifica a ofegação das aves, levando à alcalose respiratória e ao desequilíbrio eletrolítico. A suplementação estratégica de eletrólitos contribui para restaurar a homeostase corporal. A inclusão de bicarbonato de sódio, cloreto de potássio e cloreto de amônio na dieta auxilia na Regulação do equilíbrio ácido-base, prevenindo a alcalose respiratória, Melhoria da hidratação e do consumo de água, essencial para a dissipação do calor corporal, Otimização da absorção de nutrientes, reduzindo os impactos negativos do calor sobre o desempenho produtivo.

  • Suplementação de Aditivos Funcionais

O estresse térmico gera um aumento na produção de radicais livres, promovendo o estresse oxidativo e comprometendo a integridade celular. A inclusão de aditivos funcionais na dieta pode atuar como estratégia de mitigação, incluindo:Vitaminas antioxidantes: A vitamina C melhora a resistência ao calor e reduz a peroxidação lipídica, enquanto a vitamina E protege as membranas celulares contra danos oxidativos;

Minerais essenciais: O selênio, presente na forma de selenometionina ou selênio orgânico, auxilia na regulação do sistema antioxidante, reduzindo o impacto do estresse térmico sobre as células;

Fitogênicos e extratos vegetais: Compostos naturais, como flavonoides e polifenóis extraídos do orégano, alecrim e cúrcuma, possuem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, ajudando a reduzir a resposta ao estresse térmico.

  • Incorporação de Aminoácidos Funcionais

Alguns aminoácidos específicos desempenham um papel crucial na adaptação das aves ao estresse térmico. Entre eles:

Glutamina: Fundamental para a integridade da mucosa intestinal, reduzindo a permeabilidade e prevenindo infecções secundárias;

Arginina: Participa na síntese de óxido nítrico, promovendo vasodilatação e melhorando a dissipação do calor corporal;

  • Fontes Alternativas de Nutrição

Além dos ingredientes convencionais, fontes alternativas de nutrição podem contribuir para a melhoria da tolerância ao calor, reduzindo custos e promovendo a sustentabilidade da produção. Algumas opções incluem:

Leveduras e derivados: A levedura de Saccharomyces cerevisiae fornece nucleotídeos e β-glucanas, auxiliando na imunidade e na resistência ao estresse térmico;

Microalgas (como Spirulina e Chlorella): Ricas em antioxidantes, ácidos graxos essenciais e proteínas de alta digestibilidade, as microalgas são uma alternativa promissora para reduzir o impacto do calor sobre o metabolismo das aves;

Resíduos agroindustriais nutritivos: Subprodutos como farelo de girassol, polpa cítrica e farinha de insetos podem ser utilizados como fontes proteicas e energéticas, contribuindo para a diversificação da dieta e para a sustentabilidade da produção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A adoção de estratégias nutricionais específicas, aliada a um manejo ambiental adequado, é fundamental para minimizar os impactos do estresse térmico em codornas japonesas. O ajuste da formulação das dietas, incluindo fontes alternativas e suplementação estratégica de eletrólitos, antioxidantes e aminoácidos, contribui para a manutenção do desempenho produtivo e do bem-estar das aves, garantindo maior eficiência e sustentabilidade na criação.

Referências sob consulta junto ao autor

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