Impactos do manejo pré-abate, carregamento e transporte sobre a qualidade de carcaças de aves
Processamento e Qualidade
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Impactos do manejo pré-abate, carregamento e transporte sobre a qualidade de carcaças de aves
A qualidade é um pré-requisito básico para a apresentação de um produto ao consumidor, e na produção de frango, isso não é diferente. O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de carne de frango, e para a consolidação desse lugar de destaque, o constante aperfeiçoamento de boas práticas de criação e processamento das aves é fator importante que agrega valor ao produto acabado entregue ao consumidor.
O emprego de processos padronizados em todas as fases de produção, do campo à mesa do consumidor, revela a busca pela melhoria contínua, que traz como benefícios a obtenção de um produto de qualidade, obtido a partir de práticas controladas e sustentáveis. |
Nesse sentido, a etapa final de criação das aves e o transporte para o frigorífico têm aspectos relevantes na garantia do produto final. Não basta produzir uma ave que atenda aos requisitos de ganho de peso e conversão alimentar, se ela não for adequadamente coletada e transportada, gerando perdas relacionadas a condenações e depreciação do produto acabado.
De fundamental importância também é a garantia de que o processo atenda aos requisitos de bem estar animal, pelos quais estejam garantidas as cinco liberdades, quais sejam, que o animal esteja livre de fome e sede, desconforto, dor, ferimentos e doenças, que tenha liberdade para expressar comportamento normal, e finalmente, que esteja livre de medo e angústia.
A etapa de coleta e transporte das aves requer o atendimento de determinados requisitos para que o impacto em condenações e perda de qualidade de carcaça sejam os mínimos possíveis. |
É necessário que a frota de veículos esteja em boas condições. De acordo com o Conselho Nacional de Trânsito (Contran), através da Resolução nº 791, de 18 de junho de 2020, em seu Artigo 3º, o veículo de transporte de animais vivos (Figura 1), deve ser construído ou adaptado e mantido de forma a evitar sofrimento desnecessário e ferimentos, bem como minimizar a agitação dos animais, a fim de garantir a manutenção da vida e bem-estar animal. Para tanto, deve ser dotado de mecanismos para proteção da radiação solar (tela sombrite) e também proteção frontal com lona, para condições de transporte em baixas temperaturas.
A construção da carroceria deve permitir ampla ventilação e fácil acesso para higienização. Todas as manutenções preventivas devem estar em ordem, para que se evite interrupções durante o frete. Qualquer parada imprevista pode gerar sérios impactos na viabilidade das aves embarcadas, haja vista as condições de temperaturas elevadas que em algumas regiões do Brasil, em determinados horários do dia, facilmente superam os 38 ºC.
Dessa maneira, o frete deve ocorrer de maneira planejada iniciando-se dias antes do carregamento. Deve-se prever antecipadamente:
Os horários,
O trajeto e
Tempo necessário de ida e volta entre os aviários e o frigorífico.
Avaliar antecipadamente rotas alternativas é de fundamental importância para o plano de viagem. A Figura 2 demonstra no veículo as áreas com maior risco de desconforto térmico.
Outra etapa a ser observada é a elaboração dos documentos de transporte, que deve ser feita antecipadamente, a partir da definição dos lotes e volume de animais a serem transportados. A Guia de Trânsito Animal (GTA), associada à nota fiscal emitida pelo produtor ou pela empresa de destino, são documentos obrigatórios de transporte e devem seguir junto à carga, devendo ser apresentadas às autoridades durante às fiscalizações volantes. |
Capacitação e disposição física são pré- requisitos àqueles que se dispõem ao ofício do apanhe de aves. O processo é dinâmico, pois depende de uma articulação entre todos os membros da equipe para descer as gaiolas dos veículos, preenchê-las com as as aves e carregar o veículo novamente.
Esta é uma atividade crítica, pois constantemente as pessoas se movimentam dentro dos galpões até o caminhão de transporte, sendo necessário bastante esforço e agilidade por parte dos colaboradores.
Durante o carregamento em período noturno ou em instalações dotadas de tecnologia dark house, recomenda-se que o apanhe seja realizado com as luzes apagadas, com o auxílio de lâmpadas azuis, que reduzem a capacidade visual das aves, imobilizando-as.
A pega dos frangos para colocação nas gaiolas deve ser feita ave por ave, sempre pelo dorso, mantendo as asas retidas. Devem ser colocadas nas gaiolas de forma ágil, embora cuidadosa, antecipando-se às reações de fuga. Sob hipótese alguma deve-se jogar os frangos nas gaiolas.
De maneira geral, recomenda-se que o número de aves transportadas por gaiola não exceda 25 kg por caixa, considerando modelo de caixa comercial – CN100, com até 0,5 m² de área disponível. A Tabela 1 dispõe das recomendações da legislação europeia para a lotação das gaiolas. |
Importante observar que somente as aves viáveis, aptas ao transporte, devem ser coletadas. Aves refugos ou que apresentem problemas locomotores devem ser eutanasiadas previamente.
Igualmente importante é a garantia mínima de jejum. De maneira geral, períodos inferiores a seis horas podem causar transtornos, devido a presença de conteudo alimentar residual no trato gastro intestinal, gerando condenações por contaminação das carcaças durante as operações de abate.
Os cuidados que devem ser observados na fase final da criação, no apanhe e transporte das aves até o frigorífico representam etapas críticas para a obtenção de um produto final de qualidade.
Sob o ponto de vista do consumidor, saber que o frango foi criado através de práticas sustentáveis, atendendo a requisitos próprios de bem estar, agrega confiança na marca. Manter os processos aderentes à essas boas práticas é um desafio constante para as empresas produtoras de alimento. Embora esses controles representem custos, executá-los adequadamente direcionam para a obtenção de produtos com melhor qualidade, sabor e apresentação, fatores que constroem a reputação das melhores marcas produtoras do mercado.