Breve história dos inseticidas
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Os preparados botânicos parecem ter sido as primeiras substâncias utilizadas como inseticidas desde a antiguidade. Como exemplo, as flores de Tanacetum cinerariifolium contém até 1,5% de substância ativa inseticida, as piretrinas.
Estas flores foram usadas como inseticida na China antiga e, posteriormente, introduzida pelos persas na Europa em forma de folha desidratada e seca, sendo vendida pelos comerciantes armênios como “pó persa” ou “pó de inseto”.
Desde o ano 1000 a.C. as pessoas usam produtos químicos como forma de combater as pragas de insetos. Homero, em “Ilíada e Odisseia”, falava sobre a “limpeza divina” nos rituais, em que a que o enxofre eliminava os piolhos. Porém, foi em 1874 que o químico austríaco Othmar Zeidler sintetizou o inseticida provavelmente mais conhecido, o DDT.
Posteriormente se constatou que o DDT não só era eficaz no uso contra pragas como também contra outros grupos como mamíferos, aves e répteis.
Em 1949 a chegada da aletrina atuou como a base para a aparição da geração de piretroides muito usados graças a sua baixa toxicidade e rápido efeito de choque. Nos anos 70 apareceram a permetrina, cipermetrina e deltametrina, de ação muito mais rápida, porém com muito pouca persistência ao entrar em contato com a luz ultravioleta.
Definição de inseticida, biocida ou praguicida não agrícola
Inseticidas
São substâncias ou mix de substâncias destinadas a prevenir ou controlar toda espécie de insetos e outros artrópodos considerados nocivos para o ser humano, animais e plantas.
Biocidas
São as substâncias ativas e preparados que contenham uma ou mais substâncias ativas, apresentadas na forma em que são oferecidas ao usuário, destinados a destruir, contrapor, neutralizar, impedir a ação ou exercer controle de outro tipo sobre qualquer organismo nocivo por meios químicos ou biológicos. Por exclusão, os biocidas são os denominados praguicidas não agrícolas (os praguicidas agrícolas são os Fitossanitários)
A Diretiva 98/8/CE, chamada comumente Lei dos Biocidas, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de fevereiro, relativa à comercialização de biocidas, harmoniza em nível europeu a legislação sobre estes produtos, anteriormente conhecidos como pesticidas não agrícolas
Biosseguridade & o uso de inseticidas. Por quê?
Produtores e integradoras gastam muitos milhares de euros cada ano combatendo surtos de enfermidades que surgem no interior das explorações. Não só provocam perdas em termos de custos – quando há uma praga a ser tratada, como também porque parte da produção se perde com cada surto.
A vantagem de um bom programa de biosseguridade está precisamente em ajudar a reduzir a propagação de enfermidades com uma redução de patógenos microbianos como Salmonella spp., Listeria spp., E. coli e Campylobacter spp.
No passado, quando não existia uma produção intensiva de animais para produção de alimentos, as pragas ainda que existissem, eram combatidas em grande medida com a forte genética dos animais.
No entanto, isto mudou, considerando que a genética dos mesmos, unida à alta densidade a que se veem submetidos, assim como a diminuição em seu sistema imunológico – ao não desenvolverem-se em seu ambiente natural -, fazem destes animais muito mais vulneráveis a infecções por patógenos oportunistas ou a serem parasitados por insetos que se servem de seu organismo já enfraquecido.
A debilitação do sistema imunológico é considerada o principal motivo pelo qual todo programa de biosseguridade deve vir acompanhado por um sistema de controle de insetos e/ou ácaros, para evitar a transmissão, através destes, de diferentes tipos de microrganismo nocivos e de fácil propagação dentro das granjas.
Como funciona um inseticida?
No mercado existe uma grande variedade de substâncias ativas, assim como apresentações, como por exemplo, cipermetrina em pó para polvilhar em emulsão concentrada. Apesar de óbvio, não deixa de ser importante dizer que para que um inseto morra, ele deve entrar em contato com o inseticida e o mesmo deve penetrar em seu interior por ingestão (mediante conduta de tratamento) ou por contato através do exoesqueleto (asas, patas etc.). Dependendo do grupo químico ao qual pertence a substância ativa em questão, terá um mecanismo de ação ou outro.
Piretroides
Os piretroides se fixam à membrana dos neurônios
Organofosforados & carbamatos
Os organofosforados e carbamatos impedem a comunicação entre os neurônios – sinapse – porém, em ambos os casos o resultado final é o mesmo; os impulsos nervosos não fluem corretamente, o que gera uma descoordenação nos movimentos dos insetos – ataxia -, sobreexcitação dos mesmos e, finalmente, a morte por paralisia.
É fundamental conhecer a biologia do inseto que queremos controlar porque saberemos que tipo de inseticida será o mais apropriado usar, uma vez que não depende só do grupo químico ao qual pertence a substância ativa e da formulação. Conhecendo a biologia poderemos reconhecer se devemos que usar ou não larvicida, desde que a biologia do inseto assim o exija.
Por exemplo, o uso de larvicidas para o controle de moscas em suíno, assim como para o controle de larvas de Alphitobius diaperinus em frangos está mais que demonstrado.
É primordial que os rótulos dos produtos sejam bastante claros sobre os insetos que são capazes de controlar, doses de aplicação, local, assim como método e frequência.
Formulações inseticidas Apresentações & Dose
Para que um inseticida seja eficaz no controle de insetos, primeiro deve ser preparado para um método de aplicação específico. Esta preparação se denomina formulação e implica a adição de vários elementos.
Substância ativa
A substância ativa dota o inseticida da atividade propriamente dita
Coformulantes
No grupo dos coformulantes estão incluídos solventes ou diluentes químicos que melhoram a eficácia, assim como a estabilidade do inseticida, uma vez preparado o caldo – se é diluído em água ou no solvente indicado.
Já dizia Paracelso no S. XVI e quanta razão tinha. Não é verdade? É fundamental o uso da dose correta para o controle de uma praga. O excesso da dose, a sobredosagem, não gera uma maior mortalidade e, portanto, mais eficácia no uso de um inseticida. Promove sim maior gasto do produto, o que torna o tratamento mais custoso sem nenhuma vantagem agregada ao seu uso, além de expor o usuário final a maior concentração do produto, o que poderia provocar uma série de sintomas próprios da exposição a doses superiores à indicada.
Hoje em dia podemos encontrar formulações comerciais que se apresentam em diferentes formas, de acordo com sua forma de aplicação e propriedades particulares e específicas, sendo estas as apresentações mais frequentemente encontradas no mercado.
Por outro lado, se dosificada abaixo da dose recomendada, podem gerar resistências a médio prazo pela não eliminação dos insetos, o que gerará descendentes mais adaptados a esse tipo específico de inseticida.
A dose de aplicação deve estar bem definida no rótulo do produto comercial, podendo vir expressa em % (p/p, p/v o V/V) ou g/L. Geralmente se indica a quantidade do produto que se deve dissolver na quantidade de água para produzir o caldo que será destinado a tratar a superfície sobre a qual se encontram ou estejam os insetos da praga.
O que é a resistência aos inseticidas?
Mas deixando as definições de lado, o que nos interessa verdadeiramente é saber por que se chega a esta situação.
As resistências a inseticidas podem ser causadas pelo uso excessivo – e às vezes abusivo – consciente, ou pelo mal uso por desconhecimento devido à falta de informação, ou de formação sobre o uso de um inseticida ou acaricida para o controle de uma praga
Classificação dos inseticidas
É realizada com base em diferentes critérios:
Via pela qual exerce sua ação tóxica
Por ingestão
São substâncias que necessitam ser ingeridas para exercer sua ação letal. Por exemplo, iscas em gel inseticida para o controle de baratas
Por contato
Quando os insetos entram em contato com a formulação, esta penetra no organismo e é absorvida pelo sistema circulatório, passando posteriormente ao Sistema Nervoso Central do inseto, gerando normalmente uma sobreexcitação no mesmo, que conduz à paralisia e, finalmente, à morte. O tempo até a morte dependerá d toxicidade da substância (DL50), dose utilizada e exposição do inseto à mesma. São os mais amplamente utilizados na atualidade.
Por inalação
São aqueles nos quais a substância ativa penetra no organismo do inseto pela via respiratória, por exemplo, inseticidas aplicados em forma de fumaça de fumo para eliminar aracnídeos.
Sistêmicos
Se trata dos inseticidas ingeridos pelo animal ou planta hospedeira sobre o qual vivem os insetos provocando a morte destes, sem prejudicar o primeiro. Por exemplo, os insecticidas usados para o controle do “piolho roxo”, Rhynchophorus ferrugineus
Grupo químico ao qual pertence a substância ativa
Futuro dos inseticidas
A evolução dos inseticidas continuará e novas formulações irão surgindo no mercado. A população mundial continuará crescendo durante os próximos 50 anos, podendo ultrapassar a cifra de 9 bilhões de pessoas em 2050.
Que consequências isso terá? Uma maior demanda por alimentos, sendo a criação intensiva de frangos a mais rentável e econômica para todos os estratos da sociedade em nível mundial. Esta produção intensiva segue paralela ao uso de biocidas, incluídos os inseticidas.
O aumento do uso de biocidas, incluídos os inseticidas, será 2,7 vezes maior que ao início do ano 2000, o que por sua vez exporá tanto as pessoas como o meio ambiente a um maior perigo se não se controlar seu uso e não se garantir formação para seu uso correto.
Órgãos públicos, empresas formuladoras e fabricantes, integradoras e produtores gerarão mais interação entre si para garantir inseticidas mais seguros, acessíveis e eficazes. Ao mesmo tempo oferecer soluções específicas para problemas muito concretos, mediante protocolos para o controle específico de determinados insetos-praga que hoje em dia, são um problema diário nas granjas de animais de todo o mundo.