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Qualidade da água e seus efeitos na avicultura

Escrito por: Gisele Ravagnani - Médica Veterinária, Mestre e Doutora em Ciência Animal (FMVZ - USP)
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qualidade da água na avicultura

A água é o elemento essencial para a manutenção da vida exercendo papel fundamental nos sistemas vivos, na manutenção da homeostase, ou seja, a capacidade de manter as condições do ambiente dentro de limites toleráveis. Correspondendo a mais de 70% do peso de muitos organismos, está presente em todas as células do organismo e devido as suas características, desempenha importantes funções como:

Manutenção do pH e da concentração de eletrólitos;

Veículo de excreção de metabólitos;

Meio no qual ocorrem o transporte de nutrientes, as reações enzimáticas de síntese e catabolismo das reações metabólicas e a transferência de energia química;

Digestão dos alimentos;

Absorção e o transporte dos nutrientes;

Translocação de compostos químicos, da respiração, da manutenção da temperatura corporal;

Hidrólise das proteínas, gorduras e carboidratos;

Secreção e transporte de hormônios, sendo fundamental no equilíbrio ácido base do organismo.

A disponibilidade de água em diferentes regiões do mundo é o fator mais limitante para a produção de frangos de corte. Entretanto, em muitas regiões, mesmo a água sendo disponível, a sua qualidade limita a produção. Preservar a quantidade de água e a sua qualidade é fundamental. De uma maneira geral, águas de superfície são mais difíceis de manter a qualidade quando comparadas às águas de poços artesianos.

De nada adianta a água estar à disposição se não há consciência da importância da manutenção de sua qualidade. O fornecimento de água de qualidade é fundamental.

Em algumas situações a fonte de água é bastante boa e a qualidade é perdida pelo mau armazenamento, onde são utilizados reservatórios sujos, não cobertos, passíveis de contato por pássaros, ratos e outros animais ou, mais facilmente, contaminados pelo ar.

Também se pode perder a qualidade da água devido a problemas no sistema de distribuição, onde os resíduos de minerais e microrganismos estão presentes. Proteger os reservatórios e os encanamentos é um procedimento indispensável.

Diversos impactos negativos podem ser observados na avicultura devido a uma má qualidade da água, por exemplo:

Diminuição do consumo de ração,

Contaminação por bactérias patogênicas,

Aumento dos problemas sanitários, resultando em uma piora no desempenho zootécnico das aves.

Embora seja o nutriente mais importante, a água também é veículo para a transmissão de agentes causadores de doenças (vírus, bactérias, fungos e protozoários) e também compostos tóxicos; permite o desenvolvimento de fungos produtores de micotoxinas quando em contato com as rações, o crescimento de larvas de mosca no esterco, além de bactérias. A água dos reservatórios pode causar intoxicações por ingestão de algas ou algum contaminante como metais pesados, sais, inseticidas e herbicidas.

As aves ingerem entre duas a três vezes o volume de água do que de ração o que evidencia a importância do controle da qualidade da água de consumo.

O uso rotineiro das instalações pode levar ao acúmulo de material orgânico e contaminação do sistema de fornecimento de água, com o crescimento de algas e a criação de um ambiente favorável para o desenvolvimento ou a manutenção da viabilidade de diversos microrganismos.

Na água, além da Escherichia coli, também podem ser encontrados Salmonella spp, vibrio cholerae, Leptospira spp, protozoários e parasitos. As perdas econômicas causadas pela colibacilose em aves se devem principalmente aos surtos de doença e condenação de carcaças durante o seu processamento.

A importância para saúde pública se deve ao fato de que as galinhas são susceptíveis à colonização por Escherichia coli O157:H7, um importante patógeno para seres humanos por ser muito virulento e com maior taxa de letalidade.

A dimensão dos problemas causados pelas salmoneloses aviárias aumentou consideravelmente nas duas últimas décadas. Anteriormente, o objetivo do controle da infecção era focado na redução das perdas econômicas, hoje a prioridade é impedir a contaminação dos produtos avícolas por Salmonella sp, para evitar a transmissão da mesma aos seres humanos, em vista da sua participação nos surtos de toxinfecção alimentar.

Além da contaminação por microrganismos, outros pontos também são importantes de serem avaliados: pH; dureza, quantidade de matéria orgânica e formação de biofilme.

Estão disponíveis algumas ferramentas para o controle de contaminação por microrganismos patogênicos que o produtor pode utilizar na água como:

Cloração,

Acidificação e

Desinfecção da água.

A Cloração é um método de desinfecção muito conhecido na avicultura, ele combate o crescimento de microrganismos, bactérias e algas. A ação do cloro sobre os microrganismos ocorre basicamente pelo seu potencial de oxidar as membranas das células destes microrganismos, ou seja, atrair os elétrons destas membranas, culminando na sua morte.

O problema encontrado neste tipo de tratamento é relacionado ao pH da água, ele não pode ser muito alcalino ou com excesso de matéria orgânica, se isto acontecer o seu efeito fica comprometido, sendo necessário um aumento da dose do cloro, o que pode inibir o consumo de água pelos animais, tendo um efeito negativo sobre o desempenho.

A cloração da água serve como procedimento para a sua desinfecção, eliminando enterobactérias. Entretanto, protozoários e enterovírus são menos afetados pelo cloro. Também é importante lembrar que substâncias como nitrito, ferro, hidrogênio, amônia e matéria orgânica diminuem a ação do cloro. A matéria orgânica transforma cloro em cloramina, que tem menos ação desinfetante. Quanto maior o nível do pH da água, maior a necessidade de cloro como desinfetante.

Quando utilizados os aditivos acidificantes na água de bebida, produtos geralmente à base de ácidos orgânicos e inorgânicos que podem ser encontrados na forma líquida ou em pó. Os ácidos orgânicos, também conhecidos como ácidos fracos de cadeia curta, ao serem adicionados à água favorecem a redução do pH do papo da ave, com isso a colonização de patógenos no trato digestivo tende a diminuir, transformando o papo numa primeira barreira bacteriana.

Além do mais, os ácidos orgânicos quando acidificam o meio contribuem para a diminuição da capacidade de aderência da bactéria com fímbria à parede intestinal, tendo ainda forte capacidade de desnaturação sobre as proteínas. Além disso, os ácidos também têm uma ação de acidificar o estômago, fazendo com que aumente a secreção do suco pancreático e, desta maneira equilibra a flora bacteriana no intestino fazendo com que diminua o crescimento de patógenos que possam ainda estar presentes.

Ainda esses acidificantes tendem a estimular o consumo de água e consequentemente o da ração. Os principais ácidos orgânicos utilizados são: ácidos fórmico, lático, acético, propiônico, sórbico e cítrico.

Em relação à desinfecção contínua da água de bebida, esta pode ser realizada por meio da utilização de um produto desinfetante com o intuito de diminuir a carga patogênica da água de consumo, evitando assim, casos agudos como surtos de doenças ou até mesmo casos subclínicos. Esta prática vem se tornando ainda mais importante diante do presente cenário, o de redução uso de antimicrobianos.

Outro ponto de atenção é em relação à dureza da água se refere principalmente à concentração de íons de cálcio e magnésio em solução, formando precipitados de carbonato de cálcio e magnésio, sendo expressa como mg/L de CaCO3.

Em determinados níveis a dureza causa sabor desagradável à água, incrustações nas tubulações, efeito laxativo e interferência na eficiência de alguns medicamentos e desinfetantes, como por exemplo, a amônia quaternária que tem sua efetividade diminuída. A dureza da água influencia na capacidade de sabões e detergentes em formar espuma, característica que também deve ser observada na água utilizada em granjas, interferindo no manejo de limpeza e desinfecção das instalações.

A limpeza e desinfecção dos sistemas de fornecimento de água são importantes. Os bebedouros devem ser limpos diariamente utilizando uma escova. A água antiga ou residual deve ser removida, podendo ser adicionado à escova um desinfetante para facilitar a remoção de sujidades e microrganismos e prevenir o desenvolvimento de fungos.

A adoção de programas regulares de monitoria, limpeza e sanitização das linhas de distribuição de água é medida fundamental. Esses programas devem contemplar a proteção dos pontos de captação de água com ações que evitem a contaminação das reservas subterrâneas e superficiais, a promoção e a manutenção da qualidade da água utilizada para as várias finalidades na granja. Assim sendo, se recomenda que seja realizada.

Toda água utilizada nos aviários, independente do aspecto julgado a olho nu, deve receber pelo menos dois tratamentos básicos antes de chegar para o consumo das aves:

Filtração: processo de separação no qual se remove contaminantes em suspensão (ex. partículas, fibras, microrganismos) de uma corrente fluida através da passagem do fluido por um meio filtrante poroso;

Desinfecção: consiste na destruição seletiva dos organismos causadores de enfermidade pela adição de um produto desinfetante. O desinfetante não torna a água estéril, mas elimina os microrganismos capazes de causarem doença.

O desinfetante químico ideal para água deve reunir as seguintes características:

Amplo espectro de atividade tóxica em altas concentrações de microrganismos.

Solúvel em água ou tecido celular.

Possuir estabilidade da ação germicida e, em repouso, a perda deverá ser pequena.

Não deve ser tóxico para os seres humanos e animais.

A solução deve ter uma composição uniforme.

Não deverá ser absorvido pela matéria orgânica.

Deverá ser eficaz em intervalos de temperatura ambiente.

Deverá ter a capacidade de agir através das superfícies.

Desodorizar enquanto desinfeta.

Amplamente disponível no mercado.

Ser de aplicação econômica.

Ser reconhecido através de ensaios simples quando presente na água em quantidade mínima.

Portanto, independente do aspecto visual e origem é fundamental que toda água utilizada na avicultura passe por rotineiras avaliações laboratoriais e, caso seja necessário, deve-se utilizar as ferramentas disponíveis para controlar a contaminação da mesma diante da extrema importância e impacto direto na saúde e desempenho das aves.

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