Sem plano de depopulação, não há como conter um surto de influenza aviária, alerta Bruno Pessamilio
Sem plano de depopulação, não há como conter um surto de influenza aviária, alerta Bruno Pessamilio
Segundo Pessamilio, a depopulação, ou seja, o sacrifício sanitário dos animais, é parte de uma tríade fundamental para eliminar a doença de uma granja: depopulação, destruição das carcaças e desinfecção do local.
A principal medida para conter um surto de influenza aviária é o sacrifício imediato dos animais infectados ou expostos. Mas, para o médico-veterinário Bruno Pessamilio, a maior parte das empresas brasileiras ainda não está preparada para executar essa tarefa — e isso pode comprometer toda a cadeia produtiva.
Sem plano de depopulação, não há como conter um surto de influenza aviária, alerta Bruno Pessamilio
A declaração foi feita durante a palestra de abertura do último dia do XXII Congresso APA de Produção e Comercialização de Ovos, realizada nesta quarta-feira (27/3). Consultor e ex-auditor fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura, Pessamilio foi um dos responsáveis pela construção do PNSA (Plano Nacional de Sanidade Avícola) e explicou que a erradicação de surtos só é possível com planejamento e execução coordenada entre governo e empresas.
“Se você não consegue sacrificar os animais, a gente nem consegue dar seguimento ao restante do saneamento do foco”, afirmou.
Tríade do saneamento do foco
Segundo Pessamilio, a depopulação, ou seja, o sacrifício sanitário dos animais, é parte de uma tríade fundamental para eliminar a doença de uma granja: depopulação, destruição das carcaças e desinfecção do local. Ele destacou que essa ação deve ocorrer de forma rápida e segura, evitando a disseminação do vírus e o comprometimento das exportações.
“Erradicar é diferente de controlar. Quando falamos em erradicação, estamos falando de eliminar completamente a doença do território. E, para isso, a principal estratégia é a eliminação imediata dos animais infectados ou expostos”, explicou Pessamilio.
Métodos
O médico veterinário detalhou diversos métodos de sacrifício sanitário, destacando a aplicação de espuma como uma das alternativas mais viáveis para aviários no Brasil, especialmente os de piso. O método consiste na formação de uma camada espessa de espuma que impede a respiração das aves, levando à morte rápida por hipóxia.
“A espuma precisa ter a bolha do tamanho certo. Se for pequena demais, a ave morre afogada, o que não é aceitável. Se for grande demais, permite a respiração. Existe uma química adequada para essa espuma, geralmente usada pelo Corpo de Bombeiros”, explicou.
Segundo ele, já existem equipamentos sendo fabricados no Brasil com capacidade para espumar aviários inteiros em cerca de 15 minutos. Mas o preparo exige cálculos detalhados.
“Quantos litros de água, quantos litros de aditivo de espuma, qual a altura das aves, qual a expansão do equipamento — tudo isso precisa estar pronto antes que um foco apareça”, salientou.
Planos específicos
Outro ponto central da palestra foi a crítica à prática de copiar e colar o plano de contingência do Ministério da Agricultura como se fosse aplicável às empresas.
“O plano do MAPA tem ações que só o serviço veterinário oficial pode executar. A empresa precisa ter o seu próprio plano, com base na sua estrutura, seus recursos e suas limitações”, destacou.
Pessamilio também alertou que é comum a percepção equivocada de que a eliminação dos animais seria uma punição ao produtor, quando, na verdade, trata-se da principal medida sanitária para conter o avanço do vírus. Na conclusão, o consultor reforçou a importância da atitude proativa das empresas.
“Qual o método ideal para sua granja? Você já sabe? Já fez os cálculos? Já tem os fornecedores dos insumos? Já treinou sua equipe? Se a resposta for não, então você ainda não tem um plano de depopulação. E sem plano, não tem como conter o surto”, alertou.