Grãos: setor de proteína animal quer regras para evitar escassez no mercado interno
Enquanto o presidente da ACAV, José Antônio Ribas, defende a fixação de cotas de exportação de grãos, o presidente da ABPA, Ricardo Santin, é a favor de que se abra informação ao mercado sobre as vendas antecipadas. Saiba mais aqui!
O setor de produção de proteína animal está em contato permanente com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), com o objetivo de criar maneiras para evitar a especulação e a falta de grãos no mercado interno. Enquanto o presidente da ACAV (Associação Catarinense de Avicultura), José Antônio Ribas, defende a fixação de cotas de exportação, o presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin, é a favor de que se abra informação ao mercado sobre as vendas antecipadas do setor de grãos.
Em artigo divulgado à imprensa, o presidente da ACAV afirma não haver oferta de milho e soja no Brasil, mesmo com aumentos nos preços que variam de 100% a 300% no período de janeiro a outubro. Ele ressalta que essa situação afeta diretamente setores sensíveis como as indústrias de óleos vegetais, laticínios e as agroindústrias de processamento de carne.
A saca de milho (60 kg) que em janeiro era comercializada a R$ 35,00, agora está em R$ 80,00, segundo o presidente da ACAV. Por sua vez, a saca da soja, que estava cotada a R$ 75,00 no início do ano, agora está acima de R$ 160,00, enquanto a tonelada do farelo de soja passou de R$ 900,00 em janeiro para R$ 2.700,00 em outubro.
Milho e farelo de soja são insumos essenciais para a nutrição animal e representam 75% dos custos de produção de carne de aves e suína. Segundo os representantes do setor, o aumento nos custos dos grãos deverá refletir sobre o encarecimento das carnes e de todos os seus derivados.
"A gravidade dessa questão é perturbadora", salientou José Ribas. "A situação se repete de tempos em tempos no mercado de milho e soja: os ótimos preços internacionais e a taxa cambial estimulam vendas maciças para o mercado internacional e a matéria-prima acaba faltando no mercado doméstico", completou.
Especulação
Para o presidente da ABPA, não falta milho no mercado interno. Em entrevista ao site suínoBrasil no dia 29/10, Santin apresentou alguns dados referentes ao milho como exportações menores que em 2019 (cerca de 4 milhões de toneladas), safra de 100 milhões de toneladas, com possibilidade de quebra apenas no Rio Grande do Sul (1 milhão de toneladas).
"O fato é que tem milho e ele está dentro do Brasil', declarou o presidente da ABPA. "Não há motivos para uma corrida desenfreada, onde você tem uma espiral inflacionária no preço do insumo, sem nenhuma conexão com as coisas, apenas com base na expectativa", completou.
Perguntado sobre a proposta de cotas defendida pelo presidente da ACAV, Ricardo Santin afirmou que Ribas está correto quando defende que o setor e o governo precisam discutir o problema e buscar construir ideias de forma conjunta.
"A ideia que o Ribas coloca é para a gente pensar no futuro", salientou Santin. A proposta do presidente da ACAV é de que sejam fixadas cotas de exportação de grãos, acima das quais se aplicaria taxação corretiva para evitar desabastecimento interno.
Esse papel ficaria a cargo, segundo Ribas, de uma agência de inteligência agrícola, de composição híbrida governo/indústria, capaz de implementar estratégias comerciais para o sucesso do agronegócio, beneficiando produtores, indústrias, governo e consumidores.
"Não é racional exportar toda a produção e deixar o mercado interno fragilizado, ameaçado de ver o gigantesco parque agroindustrial da carne paralisado por falta de grão, com milhões de cabeças alojadas e sem alimentação em milhares de estabelecimentos rurais", pondera o presidente da ACAV. "Cenários como esse são potencialmente inflamáveis e podem dizimar milhões de empregos e incinerar bilhões de reais em prejuízos", completa.
A ideia defendida pelo presidente da ABPA é que se uma trading vender antecipadamente a safra de 2022, a informação sobre quantidade vendida deve ser oficializada junto à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Isso permitiria à agroindústria acompanhar o mercado, se antecipando para evitar problemas de escassez, ou especulação.
Perguntado sobre quais medidas podem ser adotadas pelo governo federal, Santin destacou que já foi retirada a TEC (Tarifa de Exportação Comum) sobre as importações de milho e soja dos países de fora do Mercosul. Segundo o presidente da ABPA, a retirada da TEC pode representar um impacto de 8% a 10%, dependendo do país.
Santin informou ainda que o Ministério da Economia está analisando a possibilidade de redução do PIS/COFINS sobre a importação dos referidos grãos, com o objetivo de neutralizar a desvalorização do real frente ao dólar. Por fim, o presidente da ABPA afirmou que também está em estudo a diminuição do adicional de frete da Marinha Mercante, que é 25% do valor do frete.
A ABPA solicitou aos estados que são produtores e compradores de milho a isenção temporária do ICMS sobre o frete do grão. Para longo prazo, a ABPA apresentou um projeto ao Mapa de criação da Ferrovia da Integração, para levar milho da região Centro-Oeste para o Sul do país, via lado oeste do Brasil, ou seja, pelo interior do país.
"Talvez esse seja um ano para a gente crescer na melhoria da ligação entre o produtor de milho e soja e o produtor de proteína animal", ponderou Santin. "Para que a gente tenha mais contratos antecipados, mais verbas de armazenagem, mais verbas para carregar o estoque", concluiu.