Patologia e Saúde Animal

AGENTES VIRAIS IMUNOSSUPRESSORES

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Os vírus que causam enfermidades imunodepressoras lesionam os tecidos e órgãos do sistema imunocompetente, diminuindo os mecanismos de defesa em relação a outros patógenos.

Vírus aviários mais conhecidos

Estes são os vírus aviários mais conhecidos e importantes por seu efeito imunossupressor:

  • O vírus da doença infecciosa da bursa (Gumboro)
  • O vírus da anemia infecciosa das galinhas
  • O vírus da doença de Marek

Estes vírus podem ser considerados agentes cujo efeito primário é exercido principalmente sobre as células do sistema imunológico.

Os vírus que fazem parte do complexo leucótico aviário também têm efeito sobre o sistema imune, ainda que, com o vírus da doença de Marek, sejam frequentemente considerados como agentes causadores de tumores em diversos tecidos.

Há outros vírus que, embora de início não afetem diretamente o sistema imunológico, podem causar, como resultado secundário, uma diminuição da resposta imunológica, possivelmente devida ao estresse apresentado nesse tipo de infecção. Os reovírus e adenovírus podem ser classificados nesse grupo, ainda que se reconheça que alguns adenovírus que infectam perus têm efeito direto sobre o sistema imunológico, como é o caso dos vírus da enterite hemorrágica, causada por um adenovírus do grupo 2.

Imunossupressão

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Dohms e Saif definem imunossupressão como “um estado temporário ou permanente de disfunção da resposta imune, que resulta do dano ao sistema imunológico e que conduz a um aumento na suscetibilidade a doenças”. O dano do sistema imunológico leva a uma resposta diminuída nos níveis de anticorpos contra outros microrganismos, o mesmo ocorrendo com a aparição de infecções de tipo secundário que – nos casos de aerosaculite, peri-hepatite ou pericardite resultantes de infecção por agentes coliformes que não são considerados agentes imunossupressores – são a causa final de morte das aves.

Efeitos principais dos estados de imunodepressão

  1. Aumento na suscetibilidade a outras enfermidades infecciosas, como nos casos de problemas respiratórios frequentemente observados em ninhadas de aves (frangos principalmente), em que, devido à imunossupressão, os vírus de tipo respiratório (vacinal e de campo) têm maior facilidade para se multiplicar e causar lesões, resultando em quadros classificados como enfermidade respiratória crônica.
  2. Redução da resposta às vacinas aplicadas, como o vírus vacinal de Newcastle, que diminui sua capacidade de proteção quando as aves estão imunodeprimidas. As respostas contra a bronquite e outros vírus também diminuem.
  3. Redução dos parâmetros de rendimento, notando-se aumento nas conversões alimentares, confisco e mortalidade.

Papel do Gumboro & da Anemia Infecciosa das Galinhas

A bursa de Fabricius é o órgão onde “amadurecem” ou se diferenciam as células ou linfócitos B. As células precursoras dos linfócitos migram de outros tecidos em direção à bursa durante a embriogênese. A diferenciação entre linfócitos B e células plasmáticas, que são produtoras de anticorpos como resposta à presença de antígenos, ocorre na bursa de Fabricius.

Quando este órgão é infectado com agentes como o vírus de Gumboro, que causa perda de linfócitos na bursa (depleção linfoide), produz-se a imunossupressão, principalmente quando a ave é infectada durante as primeiras 2-3 semanas de idade.

A imunossupressão causada pelo vírus de Gumboro resulta na incapacidade de responder adequadamente a outros antígenos, sendo o vírus de Newcastle o antígeno mais extensamente utilizado para avaliar o efeito do vírus de Gumboro no sistema imunológico.

enfermedades inmunosupresorasExistem numerosas hipóteses, entre as quais uma das mais aceitas é a diminuição dos planos de vacinação nos frangos de corte, somada a fatores de manejo como o reuso das camas e o pouco tempo de descanso das aves, o que favorece a sobrevivência dos vírus de Gumboro nas exportações.

O modo como a enfermidade de Gumboro se apresenta tem sofrido evolução considerável: nas décadas de 1960 e 1970, a forma clássica da enfermidade predominou no mundo, caracterizando-se pela presença de uma bursa de Fabricius edematosa no início, com a presença de fibrina em sua parte externa, exsudato caseoso e hemorragia ou necrose da bursa.

Essa forma típica da enfermidade praticamente desapareceu na década de 1980 e nos primeiros anos de 1990. Surgiram, então, as chamadas cepas “variantes” do vírus, caracterizadas pela atrofia da bursa sem presença de hemorragia/necrose. Apesar do termo “variante”, descobriu-se que essas novas cepas virais pertencem ao mesmo sorotipo das cepas clássicas, sendo classificadas no sorotipo I do vírus de Gumboro.

Durante os últimos 10-15 anos, a forma clássica da enfermidade, caracterizada por induzir alta mortalidade nas aves afetadas, reapareceu em alguns países europeus, na África, no médio e extremo Oriente e no continente Americano, com surtos reportados em vários países. As cepas responsáveis por esses surtos se caracterizam por sua alta virulência e, até o momento, não se conhecem exatamente as razões de seu ressurgimento.

Controle da enfermidade de Gumboro

avesO controle da enfermidade de Gumboro se baseia na correta seleção e aplicação de vacinas.

Geralmente, as vacinas classificadas como intermediárias são efetivas na grande maioria dos casos, mesmo que em alguns casos possa ser necessário empregar vacinas preparadas com cepas de maior capacidade invasora e, portanto, com maior patogenicidade, a fim de controlar cepas de campo muito virulentas.

Em países onde há cepas de campo muito virulentas, geralmente são empregadas cepas intermediárias após um curto período de tempo.

Em alguns casos, as cepas muito virulentas podem ser controladas com cepas intermediárias, sem necessidade de recorrer a cepas mais “agressivas”

 

 

Planos de vacinação

Os planos de vacinação contra a enfermidade de Gumboro aplicados nas matrizes geralmente contemplam:

O método de vacinação das matrizes com vacina inativada durante a produção, utilizado amplamente em anos anteriores com o objetivo de aumentar os níveis de anticorpos transmitidos à prole, é uma prática utilizada com pouquíssima frequência pela indústria avícola de matrizes de corte.

Em poedeiras comerciais e matrizes leves, os planos de vacinação geralmente incluem a aplicação de 2 ou 3 vacinas de vírus vivo durante a criação. Em frangos de corte, os planos de vacinação são variados, contemplando a vacinação in ovo ou no primeiro dia de vida, até a aplicação de vacinas por diferentes métodos (água potável, aspersão, ocular/nasal). Existem numerosas vacinas comerciais contra a enfermidade de Gumboro:

Anemia infecciosa das galinhas

A anemia infecciosa das galinhas se caracteriza principalmente por sua capacidade de afetar as células da medula óssea e o timo. A diminuição temporária dos timócitos do córtex tímico pode ocorrer por conta da morte celular causada pelo vírus da anemia infecciosa. O dano causado pela infecção é mais grave quando as aves são afetadas na primeira semana de vida, sugerindo que há uma resistência adquirida com a idade, devida possivelmente à eliminação do vírus pelos anticorpos produzidos, uma vez que a ave é imunocompetente. A destruição de células linfoides e hematopoiéticas causa imunossupressão de todas as respostas celulares e humorais. A atividade fagocitária também parece ser afetada.

Controle da anemia infecciosa

Pode-se controlar a anemia infecciosa mediante dois sistemas:

  1. A vacinação das mães durante a criação, com o objetivo de que, ao serem infectadas com o vírus vacinal, induzam a produção de anticorpos que se transmitem à prole para protegê-la durante o período crítico da infecção (primeira semana de vida).
  2. A infecção “natural” das mães, resultando na mesma situação anterior

Não há dúvida de que a vacinação resulta em uma imunidade mais uniforme e ajuda a evitar que as mães se infectem durante a produção, transmitindo o vírus à prole, causando um surto clínico da enfermidade

No entanto, algumas empresas realizam análises sorológicas das mães (avós, matrizes) entre 10 e 14 semanas de idade com o objetivo de identificar se as aves possuem anticorpos contra anemia infecciosa, decidindo, assim, se as aves devem ser vacinadas com vacina comercial.

enfermedades inmunosupresorasPapel dos vírus que causam neoplasias

Foi demonstrado que os vírus da doença de Marek, Leucose e Reticuloendoteliose têm efeito imunossupressor. O vírus de Marek induz uma fase citolítica nos linfócitos B, com a destruição do tecido linfoide causando uma imunossupressão temporária. Pelo fato de a infecção ocorrer nos primeiros dias de vida, o efeito do vírus pode trazer graves consequências na vida futura da ave.

Quando os tumores se desenvolvem, aumenta o efeito imunossupressor.

Felizmente, a doença de Marek pode ser controlada com produtos biológicos que contêm diferentes cepas virais adaptadas especialmente para a prevenção da enfermidade. Essas vacinas mostraram alto grau de efetividade no controle da doença

Os vírus da leucose induzem tolerância imunológica quando transmitidos congenitamente. Os vírus dos subgrupos A e B afetaram principalmente aves de linhagens leves (poedeiras comerciais), ainda que, durante a última década, a maioria das linhagens de poedeiras tenham erradicado esses vírus.

Possivelmente, o efeito imunossupressor dos subgrupos A e B radica em sua capacidade de se multiplicar em células da bursa de Fabricius, onde macroscopicamente é possível observar a presença de tumores. Os vírus do subgrupo J da Leucose foram eliminados de todas as linhagens genéticas comerciais. Esses vírus afetaram principalmente as linhagens de aves de corte, causando tumores e imunodepressão nas proles.

Reovírus

Nas aves de linhagem pesada, a presença de reovírus está associada a problemas articulares que resultam em lesões nas membranas sinoviais articulares, causando, em alguns casos, artrite viral. Devido ao rápido ganho de peso tanto dos frangos de corte quanto das matrizes pesadas, as aves se infetam com organismos presentes no meio ambiente, Estafilococos principalmente.

Igualmente, nas aves de linhagem pesada, os reovírus têm um papel importante quando se multiplicam no trato intestinal, causando lesões no epitélio da mucosa e resultando em problemas de má absorção ou má digestão, associados aos problemas de “trânsito rápido” em alguns países.

Nas aves de linhagem leve, cujo ganho de peso é menor, a situação é diferente. Nelas, os problemas articulares causados pelos reovírus em aves de linhagem pesada praticamente não existem, pois o fator desencadeante dos problemas articulares (“maior peso”) está ausente.

Os problemas de má absorção nas aves leves são menores devido aos níveis de consumo consideravelmente mais baixos em comparação às linhagens pesadas, de modo que o efeito do reovírus sobre as articulações e o trato intestinal é mínimo nas aves de linhagem leve. O efeito dos reovírus sobre o sistema imunológico foi observado em aves de corte vacinadas simultaneamente com vacinas contra Marek e Reovírus no primeiro dia de vida.

Posteriormente, descobriu-se que alguns reovírus podem interferir na vacina contra Marek e, por esse motivo, tal prática é pouco usada no mundo. Os reovírus podem inibir a resposta imune de tipo celular devido à destruição de células fagocitárias, o que explicaria os problemas de infecções secundárias (Estafilococos) em casos de infecções causadas por cepas patógenas de reovírus.

A presença de níveis moderados de anticorpos contra reovírus em aves leves pode ser interpretado como um fator normal, pois muitas cepas de reovírus infetam o trato intestinal das aves sem exercer um efeito patógeno

  1. Os agentes virais que causam imunossupressão como efeito primário se concentram nos vírus de Gumboro e na anemia infecciosa das galinhas. O efeito do vírus de Gumboro pode ser combatido com a elaboração de programas de vacinação que selecionem cepas vacinais apropriadas, aplicadas por vias selecionadas para o vírus de Gumboro, em idades determinadas de acordo com os níveis de anticorpos presentes nas aves e com base no tipo de desafio de campo.
  2. As análises sorológicas são fundamentais para o controle e acompanhamento dos níveis de anticorpos nos lotes de aves.
  3. O efeito do vírus da anemia infecciosa é controlado mediante a vacinação das mães, transmitindo anticorpos (imunidade maternal) às proles.
  4. A vacinação contra a doença de Marek constitui um sistema efetivo para controlar os efeitos dessa enfermidade.
  5. A situação de controle da Leucose não depende de vacinações, mas sim de contar com aves livres da enfermidade desde o primeiro dia de idade, situação alcançada pela erradicação dos vírus de leucose aviária das linhagens genéticas.

 

O controle de todas as enfermidades aviárias não depende apenas de vacinas: é necessário adicionar ou considerar fatores como acompanhamento sorológico constante e biossegurança. Desse modo, é possível diminuir consideravelmente os vírus patógenos de campo. As vacinas, por si só, são apenas meios de ajuda; a biossegurança completa o plano de controle das enfermidades aviárias.

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