Imunossupressão
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Os vírus que causam enfermidades imunodepressoras lesionam os tecidos e órgãos do sistema imunocompetente, diminuindo os mecanismos de defesa em relação a outros patógenos.
Vírus aviários mais conhecidos
Estes são os vírus aviários mais conhecidos e importantes por seu efeito imunossupressor:
Estes vírus podem ser considerados agentes cujo efeito primário é exercido principalmente sobre as células do sistema imunológico.
Os vírus que fazem parte do complexo leucótico aviário também têm efeito sobre o sistema imune, ainda que, com o vírus da doença de Marek, sejam frequentemente considerados como agentes causadores de tumores em diversos tecidos.
Há outros vírus que, embora de início não afetem diretamente o sistema imunológico, podem causar, como resultado secundário, uma diminuição da resposta imunológica, possivelmente devida ao estresse apresentado nesse tipo de infecção. Os reovírus e adenovírus podem ser classificados nesse grupo, ainda que se reconheça que alguns adenovírus que infectam perus têm efeito direto sobre o sistema imunológico, como é o caso dos vírus da enterite hemorrágica, causada por um adenovírus do grupo 2.
Imunossupressão
Dohms e Saif definem imunossupressão como “um estado temporário ou permanente de disfunção da resposta imune, que resulta do dano ao sistema imunológico e que conduz a um aumento na suscetibilidade a doenças”. O dano do sistema imunológico leva a uma resposta diminuída nos níveis de anticorpos contra outros microrganismos, o mesmo ocorrendo com a aparição de infecções de tipo secundário que – nos casos de aerosaculite, peri-hepatite ou pericardite resultantes de infecção por agentes coliformes que não são considerados agentes imunossupressores – são a causa final de morte das aves.
Efeitos principais dos estados de imunodepressão
Papel do Gumboro & da Anemia Infecciosa das Galinhas
A bursa de Fabricius é o órgão onde “amadurecem” ou se diferenciam as células ou linfócitos B. As células precursoras dos linfócitos migram de outros tecidos em direção à bursa durante a embriogênese. A diferenciação entre linfócitos B e células plasmáticas, que são produtoras de anticorpos como resposta à presença de antígenos, ocorre na bursa de Fabricius.
Quando este órgão é infectado com agentes como o vírus de Gumboro, que causa perda de linfócitos na bursa (depleção linfoide), produz-se a imunossupressão, principalmente quando a ave é infectada durante as primeiras 2-3 semanas de idade.
A imunossupressão causada pelo vírus de Gumboro resulta na incapacidade de responder adequadamente a outros antígenos, sendo o vírus de Newcastle o antígeno mais extensamente utilizado para avaliar o efeito do vírus de Gumboro no sistema imunológico.
O modo como a enfermidade de Gumboro se apresenta tem sofrido evolução considerável: nas décadas de 1960 e 1970, a forma clássica da enfermidade predominou no mundo, caracterizando-se pela presença de uma bursa de Fabricius edematosa no início, com a presença de fibrina em sua parte externa, exsudato caseoso e hemorragia ou necrose da bursa.
Essa forma típica da enfermidade praticamente desapareceu na década de 1980 e nos primeiros anos de 1990. Surgiram, então, as chamadas cepas “variantes” do vírus, caracterizadas pela atrofia da bursa sem presença de hemorragia/necrose. Apesar do termo “variante”, descobriu-se que essas novas cepas virais pertencem ao mesmo sorotipo das cepas clássicas, sendo classificadas no sorotipo I do vírus de Gumboro.
Durante os últimos 10-15 anos, a forma clássica da enfermidade, caracterizada por induzir alta mortalidade nas aves afetadas, reapareceu em alguns países europeus, na África, no médio e extremo Oriente e no continente Americano, com surtos reportados em vários países. As cepas responsáveis por esses surtos se caracterizam por sua alta virulência e, até o momento, não se conhecem exatamente as razões de seu ressurgimento.
Controle da enfermidade de Gumboro
O controle da enfermidade de Gumboro se baseia na correta seleção e aplicação de vacinas.
Geralmente, as vacinas classificadas como intermediárias são efetivas na grande maioria dos casos, mesmo que em alguns casos possa ser necessário empregar vacinas preparadas com cepas de maior capacidade invasora e, portanto, com maior patogenicidade, a fim de controlar cepas de campo muito virulentas.
Em países onde há cepas de campo muito virulentas, geralmente são empregadas cepas intermediárias após um curto período de tempo.
Em alguns casos, as cepas muito virulentas podem ser controladas com cepas intermediárias, sem necessidade de recorrer a cepas mais “agressivas”
Planos de vacinação
Os planos de vacinação contra a enfermidade de Gumboro aplicados nas matrizes geralmente contemplam:
O método de vacinação das matrizes com vacina inativada durante a produção, utilizado amplamente em anos anteriores com o objetivo de aumentar os níveis de anticorpos transmitidos à prole, é uma prática utilizada com pouquíssima frequência pela indústria avícola de matrizes de corte.
Em poedeiras comerciais e matrizes leves, os planos de vacinação geralmente incluem a aplicação de 2 ou 3 vacinas de vírus vivo durante a criação. Em frangos de corte, os planos de vacinação são variados, contemplando a vacinação in ovo ou no primeiro dia de vida, até a aplicação de vacinas por diferentes métodos (água potável, aspersão, ocular/nasal). Existem numerosas vacinas comerciais contra a enfermidade de Gumboro:
Anemia infecciosa das galinhas
A anemia infecciosa das galinhas se caracteriza principalmente por sua capacidade de afetar as células da medula óssea e o timo. A diminuição temporária dos timócitos do córtex tímico pode ocorrer por conta da morte celular causada pelo vírus da anemia infecciosa. O dano causado pela infecção é mais grave quando as aves são afetadas na primeira semana de vida, sugerindo que há uma resistência adquirida com a idade, devida possivelmente à eliminação do vírus pelos anticorpos produzidos, uma vez que a ave é imunocompetente. A destruição de células linfoides e hematopoiéticas causa imunossupressão de todas as respostas celulares e humorais. A atividade fagocitária também parece ser afetada.
Controle da anemia infecciosa
Pode-se controlar a anemia infecciosa mediante dois sistemas:
Não há dúvida de que a vacinação resulta em uma imunidade mais uniforme e ajuda a evitar que as mães se infectem durante a produção, transmitindo o vírus à prole, causando um surto clínico da enfermidade
No entanto, algumas empresas realizam análises sorológicas das mães (avós, matrizes) entre 10 e 14 semanas de idade com o objetivo de identificar se as aves possuem anticorpos contra anemia infecciosa, decidindo, assim, se as aves devem ser vacinadas com vacina comercial.
Papel dos vírus que causam neoplasias
Foi demonstrado que os vírus da doença de Marek, Leucose e Reticuloendoteliose têm efeito imunossupressor. O vírus de Marek induz uma fase citolítica nos linfócitos B, com a destruição do tecido linfoide causando uma imunossupressão temporária. Pelo fato de a infecção ocorrer nos primeiros dias de vida, o efeito do vírus pode trazer graves consequências na vida futura da ave.
Quando os tumores se desenvolvem, aumenta o efeito imunossupressor.
Felizmente, a doença de Marek pode ser controlada com produtos biológicos que contêm diferentes cepas virais adaptadas especialmente para a prevenção da enfermidade. Essas vacinas mostraram alto grau de efetividade no controle da doença
Os vírus da leucose induzem tolerância imunológica quando transmitidos congenitamente. Os vírus dos subgrupos A e B afetaram principalmente aves de linhagens leves (poedeiras comerciais), ainda que, durante a última década, a maioria das linhagens de poedeiras tenham erradicado esses vírus.
Possivelmente, o efeito imunossupressor dos subgrupos A e B radica em sua capacidade de se multiplicar em células da bursa de Fabricius, onde macroscopicamente é possível observar a presença de tumores. Os vírus do subgrupo J da Leucose foram eliminados de todas as linhagens genéticas comerciais. Esses vírus afetaram principalmente as linhagens de aves de corte, causando tumores e imunodepressão nas proles.
Reovírus
Nas aves de linhagem pesada, a presença de reovírus está associada a problemas articulares que resultam em lesões nas membranas sinoviais articulares, causando, em alguns casos, artrite viral. Devido ao rápido ganho de peso tanto dos frangos de corte quanto das matrizes pesadas, as aves se infetam com organismos presentes no meio ambiente, Estafilococos principalmente.
Igualmente, nas aves de linhagem pesada, os reovírus têm um papel importante quando se multiplicam no trato intestinal, causando lesões no epitélio da mucosa e resultando em problemas de má absorção ou má digestão, associados aos problemas de “trânsito rápido” em alguns países.
Nas aves de linhagem leve, cujo ganho de peso é menor, a situação é diferente. Nelas, os problemas articulares causados pelos reovírus em aves de linhagem pesada praticamente não existem, pois o fator desencadeante dos problemas articulares (“maior peso”) está ausente.
Os problemas de má absorção nas aves leves são menores devido aos níveis de consumo consideravelmente mais baixos em comparação às linhagens pesadas, de modo que o efeito do reovírus sobre as articulações e o trato intestinal é mínimo nas aves de linhagem leve. O efeito dos reovírus sobre o sistema imunológico foi observado em aves de corte vacinadas simultaneamente com vacinas contra Marek e Reovírus no primeiro dia de vida.
Posteriormente, descobriu-se que alguns reovírus podem interferir na vacina contra Marek e, por esse motivo, tal prática é pouco usada no mundo. Os reovírus podem inibir a resposta imune de tipo celular devido à destruição de células fagocitárias, o que explicaria os problemas de infecções secundárias (Estafilococos) em casos de infecções causadas por cepas patógenas de reovírus.
A presença de níveis moderados de anticorpos contra reovírus em aves leves pode ser interpretado como um fator normal, pois muitas cepas de reovírus infetam o trato intestinal das aves sem exercer um efeito patógeno
O controle de todas as enfermidades aviárias não depende apenas de vacinas: é necessário adicionar ou considerar fatores como acompanhamento sorológico constante e biossegurança. Desse modo, é possível diminuir consideravelmente os vírus patógenos de campo. As vacinas, por si só, são apenas meios de ajuda; a biossegurança completa o plano de controle das enfermidades aviárias.