06 ago 2025
Bronquite Infecciosa GI-23 avança no Brasil e provoca lesões reprodutivas em poedeiras
“Muitas das vezes, observamos nas granjas as doenças secundárias, infecções bacterianas e até mesmo a queda na produtividade das aves e quando vamos investigar, o causador primário é a bronquite infecciosa.”
A linhagem GI-23 do vírus da Bronquite Infecciosa Aviária já está presente no Brasil e tem provocado impactos significativos, especialmente no sistema reprodutivo das aves.
A informação foi apresentada pelo Dr. José Emilio de Menezes Dias, Gerente de Produto e Serviços Técnicos para América do Sul – Vacinas, da Phibro Animal Health, durante sua palestra no II Seminário Hy-Line White América Latina.
“A linhagem GI-23 apareceu pela primeira vez em Israel, em 1996. Depois, reapareceu em 2006 e se espalhou para mais de 40 países. Em 2022, saiu a publicação da presença do vírus no Brasil, e em 2023 ele chegou ao México e Uruguai”, relatou. Segundo ele, embora a introdução do vírus no Brasil seja provavelmente em 2017 e 2020, como dizem os estudos, “os problemas a campo, principalmente com frangos de corte, começaram a aparecer em 2021”.
Segundo Emílio, ao contrário de outras variantes da Bronquite Infecciosa, a GI-23 não se manifesta prioritariamente por sinais respiratórios nas poedeiras, o que dificulta o diagnóstico clínico. “O que a gente mais tem observado são alterações do sistema reprodutivo. Antes mesmo de piorar a produção, já se vê uma piora da qualidade dos ovos, da casca, ovos pele e albúmen alterado. E aparecem também lesões nos rins e órgãos reprodutivos”, afirmou.
Além das fêmeas, os machos também são afetados. “A gente tem observado muitas lesões reprodutivas em machos, lesões testiculares e epididimárias.”
O especialista explicou que a GI-23 exige baixa carga viral para causar infecção e apresenta comportamento de rápida disseminação. “Era muito comum após o intervalo, mesmo fazendo toda a limpeza e desinfecção, troca de cama, as aves eram alojadas e com sete dias a ave já tinha aerossaculite. Por isso, essa linhagem tem essa característica de persistência e disseminação rápida.”
Mesmo os melhores programas de biossegurança não foram suficientes para conter a disseminação da cepa. “Os procedimentos de biosseguridade é algo indiscutível e são a base para a avicultura moderna. Mas pudemos observar que controle com biosseguridade falhou em algumas ocasiões. É um vírus que se espalha com muita facilidade”, reconheceu.
A Phibro recomenda que o diagnóstico combine biologia molecular e histopatologia, especialmente porque os testes tradicionais podem não indicar a presença da GI-23. “A PCR vai dizer se o vírus está lá ou não, mas só a histopatologia vai dizer se ele está causando um problema. A sorologia sozinha não é suficiente.”
Com relação às ferramentas de controle, José Emilio destacou que os programas vacinais precisam ser revisados diante dessa nova realidade. “A gente observou uma maior efetividade com o uso da vacina homóloga. É uma boa ferramenta para controlar a GI-23 e mitigar seus efeitos.”
A Phibro também mapeou diferentes perfis de impacto produtivo conforme o momento da infecção. “A gente vê desde curvas que não atingem o pico até aquelas que atingem e depois caem bruscamente, ou ainda aquelas que recuperam parcialmente, mas não voltam ao desempenho esperado.”
Além do impacto produtivo, a cepa tem provocado aumento no uso de antibióticos, tanto pela maior suscetibilidade a infecções secundárias como pela dificuldade de diagnóstico inicial. “Muitas das vezes, observamos nas granjas as doenças secundárias, infecções bacterianas e até mesmo a queda na produtividade das aves e quando vamos investigar, o causador primário é a bronquite infecciosa.”
O impacto econômico também é expressivo, segundo José Emilio. De acordo com dados apresentados por ele, apenas considerando condenações por complicações associadas à bronquite infecciosa, os prejuízos chegam a US$17 milhões por ano, segundo estimativas baseadas na realidade brasileira.
A presença da GI-23 na América Latina, segundo ele, já foi confirmada também no México, Uruguai e na Bolívia. “Essa é uma realidade da nossa região. E exige, do campo, das empresas e dos técnicos, um olhar mais atento. Não adianta esperar sinais clínicos clássicos para agir.”
O II Seminário Hy-Line White para América Latina ocorre pela primeira vez no Brasil, reunindo mais de 300 participantes do Brasil e América Latina, com foco técnico em genética, nutrição, manejo, sanidade e inteligência de mercado.