Colonização precoce: ponto de partida para uma produção avícola segura
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Colonização precoce: ponto de partida para uma produção avícola segura
ANTES DE COMEÇAR…
A evolução das aves é um tópico fascinante na biologia. De acordo com as evidências fósseis, as aves evoluíram a partir de um grupo de dinossauros, no período Jurássico, entre 150 a 200 milhões de anos.
Mesmo após a extinção dos dinossauros, as aves continuaram a evoluir. Sua capacidade de adaptação, nos mais diversos ambientes ecológicos, possibilitou que hoje, as aves constituam um grupo diversificado e bem-sucedido de vertebrados, com mais de 10.000 espécies reconhecidas em todo o planeta.
Entretanto, na moderna indústria avícola, onde bilhões de aves e ovos são produzidos anualmente para o consumo humano, as aves não somente nascem, mas também são criadas totalmente isoladas de suas mães, por diversas razões, dentre elas, motivos técnico-econômicos e sanitários.
O conceito de “Saúde Única” consiste numa abordagem interdisciplinar – desenvolvida por uma aliança quadripartite de organismos internacionais: FAO, OMS, OMSA, ONU – que reconhece a interconexão entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde do ecossistema.
Sem dúvida, a colonização precoce do trato gastrointestinal das aves é uma das estratégias que apresentam melhor retorno econômico do seu investimento.
Isso o torna um alvo mais fácil para as infecções por microrganismos oportunistas ou patogênicos, sobretudo pelas vias umbilical, digestiva e respiratória.
Exatamente por esse motivo, nos últimos 60 anos, a indústria avícola se valeu dos antimicrobianos (AMC), utilizados largamente de forma preventiva e curativa, para contornar e controlar este e outros desafios e enfermidades.
Desenvolvido pelo cientista finlandês Olli Nurmi, é fundamentado na premissa de que a microbiota benéfica que habita o trato gastrointestinal (TG) das aves adultas pode competir com as salmonelas patogênicas, desempenhando um papel crucial na prevenção da colonização e das infecções. Este conceito foi pioneiramente explorado por Nurmi e Rantala em 1973, ao descreverem o mecanismo conhecido como “exclusão competitiva” (EC) como uma ferramenta eficaz no controle da salmonela.
Suas pesquisas evidenciaram que a colonização inicial do TG das aves jovens, com bactérias provenientes de aves adultas, poderia protegê-las contra a colonização subsequente por salmonela.
Por este motivo, essas bactérias podem representar uma ameaça à saúde humana quando produtos avícolas contaminados, como carne e ovos, são consumidos.
Existem várias estratégias comuns para implementar o Princípio de Nurmi, incluindo:
Cada vez mais, as pesquisas e provas de campo mostram que microbiota do TG exerce uma função fundamental, não somente neste sistema, mas também no sistema imune, respiratório, nervoso e tegumentar, o que resulta em benefícios significativos em termos de nutrição, metabolismo, fisiologia, imunidade, saúde e bem-estar.
Esta complexa comunidade de microrganismos, predominantemente compostos por bactérias, evolui, se desenvolve, se adapta e coloniza o intestino das aves, desempenhando um papel fundamental na manutenção da integridade intestinal. Seus efeitos, no TG, se traduzem em:
A microbiota, entretanto, não permanece estática. Antes mesmo do nascimento do pintinho, ela já está presente, mas se encontra ainda em uma fase rudimentar, e, ao longo de todo o ciclo de vida das aves, fatores ambientais diversos influenciam sua composição e equilíbrio.
As bactérias benéficas estão constantemente em competição com aquelas que podem representar uma ameaça à integridade intestinal. O termo chave aqui é “equilíbrio”, ou eubiose.
Bactérias potencialmente patogênicas podem estar associadas às aves reprodutoras, ao processo de incubação dos ovos, à cama das aves, às instalações de criação, à ração e água.
Esses fatores, combinados com uma microbiota intestinal rudimentar ao nascimento, tornam os pintinhos extremamente vulneráveis à infecção por bactérias patogênicas, durante os primeiros dias de vida.
A aplicação de probióticos com múltiplas cepas láticas ou de exclusão competitiva, ao nascimento, contribui para a formação de uma microbiota benéfica e reforça a proteção contra bactérias patogênicas. No entanto, para garantir a eficácia do produto, é essencial aplicá-lo corretamente.
Atualmente, existem duas maneiras de realizar a colonização precoce das aves: através da aplicação do probiótico dentro do ovo entre o 18o e 19o dia de incubação ou por meio de pulverização (spray) imediatamente após o nascimento.
O processo de vacinação in ovo geralmente ocorre durante a transferência dos ovos da incubadora para o nascedouro. No mercado, há diversos tipos e modelos de equipamentos para realizar a vacinação in ovo.
De uma maneira prática, todos eles perfuram a casca dos ovos para introduzir a solução vacinal, e, em alguns casos, é possível adicionar nutrientes e probióticos.
Um ponto crítico a ser observado é o momento da aplicação. Como a colonização pelo probiótico é um processo entérico, o pintinho deve ingerir o produto através do líquido amniótico e/ou albúmen, e em quantidade suficiente. Isso só ocorre quando a aplicação é realizada entre 18 dias e 12 horas e 18 dias e 22 horas. Vale ressaltar que o tempo cronológico nem sempre coincide com o tempo biológico e fisiológico das aves, e cada ave pode ter seu próprio ritmo. Portanto, a janela de aplicação é curta e requer atenção constante.
Esse processo é relativamente simples e fácil de executar, mas demanda cuidados especiais para garantir a colonização precoce eficaz. Para cada caixa contendo 100 pintinhos, o volume aplicado deve variar entre 15 e 21 mL da solução vacinal/probiótica.
Aplicar a solução via spray gota grossa (cerca de 200 micras) observando que a distribuição seja uniforme e contemple toda a superfície da caixa.
A adição de corantes também desperta o interesse das aves, promovendo o consumo das gotas com probióticos, e facilita a avaliação da qualidade da aplicação.
Aproximadamente 95% dos pintinhos devem apresentar a língua corada, indicando que ingeriram a solução aplicada. Portanto, a aplicação mais eficaz do probiótico em spray, no incubatório, é aquela que permita equilibrar os seguintes pontos:
A produção avícola é um dos setores com um dos melhores índices de eficiência na conversão de grãos em alimentos de alto valor biológico, de menor pegada de carbono e de água.
Se a microbiota intestinal é crucial para a saúde das aves, por sua vez a colonização precoce torna-se um dos principais pontos de partida para uma produção avícola sustentável.