Patologia e Saúde Animal

Duodenite focal em poedeiras comerciais

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Ana María Villegas Gutiérrez

Monique Silva de França

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A DFN também é conhecida como intestino grosso, duodenite ulcerativa multifocal e duodenite focal necrosante.

Esta terminologia pode não ser apropriada considerando que as lesões usualmente são de tipo multifocal e podem também estar presentes no jejuno proximal.

Tem-se que a DFN é uma enfermidade de origem clostridial e esteja associada a infecções por Clostridium perfringens e Clostridium colinum.

A enfermidade foi diagnosticada pela primeira vez na Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1997 e atualmente está presente em pelo menos 17 estados norte-americana.

É considerada um dos cinco principais problemas sanitários que afetam a indústria de produção de ovo nos Estados Unidos

A DFN também foi reportada nos Países Baixos e no Canadá.

Nos lotes de aves afetadas com DFN se observa uma diminuição do peso dos ovos que pode ser de até 12 libras a menos por cada 360 ovos, o que equivale a uma perda de 2,5 a 4 g por ovo, considerando o peso padrão. Além disso, a recuperação no peso do ovo pode ser demorada, ou seja, os lotes afetados podem demorar mais tempo para que o ovo alcance o peso padrão na idade inicial.

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As diminuições na produção de ovo tipicamente variam de 1% a 10%, enquanto que os padrões de pico de produção podem também ser inferiores ao normal.

Dado que o duodeno é uma parte onde ocorre absorção significativa de cálcio, tem-se que as lesões da DFN podem interferir na absorção e utilização do cálcio destinado à mineralização da casca do ovo e à produção mesmo do ovo.

A DFN é observada em galinhas relativamente jovens, a partir das 14 semanas de idade.

No entanto, esta enfermidade tipicamente se observa em aves de produção e através de todo o ciclo produtivo, porém, com uma maior prevalência entre as 28 e 35 semanas de idade.

A duodenite focal necrosante tem sido descrita tanto em aves produtoras de ovo branco, como de ovo marrom, e em aves em gaiolas ou livres delas, além de se apresentar em qualquer linha genética.

As aves afetadas não apresentam sinais clínicos da enfermidade exceto:

Algumas das aves afetadas podem apresentar ossos pélvicos estreitos e as galinhas podem simplesmente estar fora de produção.

Ainda que a DFN seja essencialmente uma doença intestinal, não se apresenta nem diarreia, nem nenhuma outra indicação de enfermidade entérica.

O nível de mortalidade nos lotes afetados pode parecer normal ou ligeiramente elevado.

Devido aos sinais clínicos da DFN serem muito inespecíficos e as aves afetadas poderem passar desapercebidas, é muito provável que esta enfermidade não seja diagnosticada o suficiente, ou que nem sequer seja detectada em muitos rebanhos onde está presente.

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A duodenite focal necrosante – DFN – pode ser diagnosticada examinando cuidadosamente o comportamento do peso do ovo e as curvas de produção (Gráficos 1 e 2) em cada lote suspeito, onde inda deve-se fazer exames postmortem, os quais de preferência devem envolver aves recém sacrificadas ou que tenham morrido muito recentemente.

A vigilância rotineira pode ocorrer com necrópsias de aproximadamente 10 aves em cada lote, a cada quatro semanas, a partir do início da produção de ovo.

Normalmente seleciona-se aves que apresentem palidez da crista e que estejam com pouco peso para fazer um exame post mortem posto que este tipo de aves são as que mais provavelmente apresentam lesões consistentes por DFN.

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Gráfico 1. Exemplo da diminuição na produção de ovo (linha laranja) em um rebanho diagnosticado com DFN

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Gráfico 2. Exemplo de diminuição do peso do ovo (linha laranja) em um rebanho diagnosticado com DFN

As lesões da DFN se caracterizam por zonas de cor acinzentada na mucosa intestinal que correspondem a erosões que muitas vezes estão cobertas com uma pseudomembrana amarelada (Figuras 1 e 2) e que tipicamente apresentam um diâmetro ou extensão de 0.3 a 1.5cm.

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Figura 1. Erosões multifocais recobertas com uma pseudomembrana amareladas na mucosa duodenal de uma poedeira comercial com duodenite focal necrosante

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Figura 2. Erosão de cor acinzentada na mucosa do duodeno, tipicamente observada em casos de duodenite focal necrosante

Também pode-se detectar lesões de maior extensão através da serosa do duodeno. O diagnóstico é confirmado através da histopatologia sobre amostras das lesões macroscópicas.

Para os estudos histopatológicos deve coletar-se amostras dentro dos primeiros cinco minutos depois do sacrifício das aves, porque as lesões se tornam autolíticas rapidamente e, uma vez autolisadas, podem dificultar muito o diagnóstico.

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Figura 3. Seção microscópica característica observada em galinhas com duodenite focal necrosante.

Se observa perda de enterócitos nas vilosidades intestinais e presença de infiltrado fibrinoheterofílico do tipo inflamatório com uma mescla adicional de bactérias e exsudado das vilosidades

As lesões microscópicas se caracterizam por necrose e perda dos enterócitos das vilosidades intestinais, junto com infiltrações fibrinoheterofílicas do tipo inflamatório no lúmen intestinal, representando presença de exsudado nas vilosidades necróticas (Figura 3).

Este exsudado é muitas vezes mesclado com agregados de bactérias de forma bacilar, células degenerativas descamadas e eritrócitos.

As vilosidades afetadas tipicamente apresentam heterófilos e também infiltrações linfoplasmocíticas na lâmina própria. Somente poucas vilosidades chegam a apresentar lesões consistentes por DFN, o que muitas vezes exige o exame de múltiplas seções para poder identificar as lesões características.

É conveniente ter os tecidos com coloração de Gram para poder revelar uma mescla de bacilos Gram positivos e Gram negativos (Figura 4) dentro do exsudado do lúmen intestinal e também nas mesmas vilosidades.

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Figura 4. Bactérias Gram positivas e Gram negativas com morfologia bacilar presentes em uma seção do duodeno com duodenite focal necrosante

Nosso grupo de pesquisa na Universidade da Geórgia detectou Clostridium perfringens positivo a beta2 em amostras de duodenos com lesões de DFN, o que foi reportado no mês de março na revista científica Avian Diseases1

Se recuperaram bactérias das amostras de duodenos afetados para fazer estudos bacteriológicos e estudos de tipificação de toxinas mediante PCR e, neste estudo, foi possível demostrar a presença das bactérias (Figura 5) e das toxinas alfa (Figura 6) e beta2 nas lesões de DFN mediante a utilização da técnica de imuno-histoquímica.

Um grupo de investigadores da Holanda também encontrou Clostridium perfringens em amostras de duodenos de poedeiras comerciais com lesões macroscópicas similares às descritas.

Outra notificação descreveu uma maior frequência de marcadores genéticos característicos de Clostridium colinum em amostras de duodenos com lesões características de DFN.

No entanto 56% das amostras de duodenos que não apresentavam lesões de DFN também tinham presença de Clostridium colinum. Nos estudos da Universidade da Georgia não se encontrou Clostridium colinum em nenhuma das 14 amostras de intestinos examinadas mediante PCR (França et al., 2016).

Figura 5. Coloração imuno-histoquímica mostrando agregados de Clostridium perfringens numa lesão de duodenite focal necrosante

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Figura 6. Coloração de imuno-histoquímica mostrando agregados de Clostridium perfringens positivos a toxina alfa em uma lesão de duodenite focal necrosante

A aparência macro e microscópica das lesões de DFN se assemelha às lesões observadas em casos de enterite necrótica subclínica em frangos de corte.

Assim, a similaridade na patologia e a detecção do Clostridium perfringens a partir de lesões sugerem que a DFN poderia ser uma forma leve de enterite necrótica em poedeiras comerciais.

1(França et al. Association of Beta2-Positive Clostridium perfringens Type A With Focal Duodenal Necrosis in Egg-Laying Chickens in the United States. Avian Dis. 60:43–49. 2016).

A enfermidade ainda deve ser reproduzida para poder determinar o papel do Clostridium perfringens na patogenia da DFN.

Usualmente se requerem fatores predisponentes para o desenvolvimento de enfermidades induzidas por Clostridium em aves comerciais, porém ainda não se conhecem bem os fatores predisponentes que puderam estar envolvidos no desenvolvimento da DFN.

Se sabe que a coccidiose é um fator predisponente bastante comum para a enterite necrótica em frangos de corte; no entanto, raras vezes vemos coccidiase (coccidiose subclínica) em amostras com evidência da DFN.

A enterite necrótica também pode desencadear-se por dietas que contém uma alta concentração de proteína animal, altos níveis de polissacarídeos não amiláceos e difíceis de digerir como é o caso dos presentes no trigo, cevada e centeio.

Também se pensa que os altos níveis de cálcio e de subprodutos de milho utilizados para a produção de etanol (DDGS) podem predispor as aves à DFN.

No entanto observa-se casos da DFN em rebanhos alimentados com dietas que contém diferentes tipos de ingredientes, com ou sem subprodutos de origem animal, polissacarídeos não amiláceos e DDGS.

Algumas observações de campo sugerem que não há uma associação direta entre DFN e micotoxicose ou DFN e endoparasitas como nematoides e tênia. Tampouco pode demostrar que uma limpeza e desinfecção adequadas realmente ajudem a reduzir a incidência da DFN em algumas granjas.

TRATAMENTO COM PROBIÓTICOS

Se considera benéfica a utilização de ácidos orgânicos, probióticos, produtos derivados de leveduras, mano oligossacarídeos, azeites essenciais e ácido butírico como preventivos para a DFN.

A experiência de campo sugere que estes produtos podem ajudar a melhorar a situação sanitária dos rebanhos em alguns casos; no entanto os resultados nem sempre são consistentes.

TRATAMENTO COM ANTIBIÓTICOS

Atualmente se estão fazendo vários estudos para tentar determinar quais são os fatores predisponentes que facilitam a expressão de duodenite focal necrosante -DFN.

A DFN pode ser prevenida ou tratada mediante a administração de antibióticos contra bactérias Gram positivas no alimento.

A bacitracina é considerada o antibiótico mais efetivo para a prevenção e tratamento da DFN e usualmente reduz a incidência desta enfermidade e melhora o peso do ovo enquanto o rebanho esteja recebendo o antibiótico.

Dado que a DFN usualmente afeta o peso do ovo a partir de idades iniciais no ciclo de produção, o antibiótico normalmente é administrado através do alimento até que o rebanho alcance o objetivo de peso corporal, momento em que se interrompe a medicação.

Em unidades de produção onde ocorrem focos muito frequentes e severos, chega a incluir-se na dieta a partir da transferência das aves aos galpões de produção até as 40 ou 50 semanas de idade a uma dose baixa de 25 g por tonelada.

É frequente observar que a doença volta a se apresentar apenas algumas semanas depois de o antibiótico ter sido retirado do alimento.

A utilização de clortetraciclina a razão de 200 partes por milhão no alimento, ou oxitetraciclina, ou tilosina (0.5 lb/ton de alimento) entre 20 e 40 semanas de idade é comum como método preventivo.

Também se utiliza a tilosina (0.5 lb/ tonelada de alimento) de 20 a 40 semanas de idade como método preventivo e, inclusive chega a se utilizar penicilina em países ou zonas onde está permitida.

No entanto a DFN volta a se apresentar de seis a oito semanas posteriores à interrupção do tratamento.

Podemos reduzir a probabilidade de surtos de duodenite focal necrosante:

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